quinta-feira, 15 de dezembro de 2011


Impacto de uma cultura empresarial de sustentabilidade no comportamento e desempenho corporativo


As empresas e investidores que estão a integrar a sustentabilidade nos seus negócios estão a constatar que este facto aumenta os proveitos das empresas no longo prazo. Experiências e pesquisas demonstram que a adopção de métodos e práticas sustentáveis por parte das empresas proporcionam quatro tipos de benefícios:

- Desenvolver produtos e serviços sustentáveis pode aumentar os proveitos da empresa, reforçar a imagem e a substância da sua marca, e aumentar a sua posição competitiva, à medida que o mercado cada vez mais recompensa as atitudes empresariais ambientalmente e socialmente sustentáveis.

- A adopção de práticas de produção, gestão da cadeia de abastecimento, consumos de recursos e práticas motivacionais de recursos humanos sustentáveis podem também ajudar as empresas a pouparem dinheiro através da redução de resíduos produzidos e do aumento da eficiência energética na cadeia de abastecimento, e através do reforço das práticas de valorização do capital humano, de maneira a que as taxas de retenção aumentem e os custos com o recrutamento e formação de novos colaboradores diminuam.

- O simples foco nas métricas ambientais, sociais e de governação (ASG) permite às empresas atingirem altos padrões de confiança e um risco mais controlado ao nível da gestão, desde que tenham uma percepção mais holística das questões respectivas que afectam o seu tipo de negócio.

- Benefícios financeiros, tais como menor custo da dívida e menores restrições de acesso ao capital, uma vez que através da gestão sustentável, condutora à redução de desperdícios, à diminuição do impacto ambiental, à eficiência e racionalidade da utilização de recursos e a uma melhor performance operacional, gera-se maior confiança por parte do mercado, reduzindo o risco associado à empresa.

As empresas que adoptaram práticas como a redução de desperdícios, aumento da segurança e eficiência da cadeia de abastecimento, aumento da eficiência energética, racionalização no que toca à utilização de recursos e fortes programas de motivação de recursos humanos revelaram uma melhor performance em relação às suas pares, que em vez disso se focam nos resultados imediatos, na gestão ineficaz, na desresponsabilização e na utilização não mensurada e desregulada de recursos.

Citando um estudo da Escola de Gestão de Harvard, publicado no último mês (http://www.hbs.edu/research/pdf/12-035.pdf), foi efectuado um acompanhamento de 180 empresas durante 18 anos. As 90 empresas que adoptaram políticas ambientalmente e socialmente responsáveis, ao longo desse período, obtiveram um desempenho, tanto em termos de capitalização de mercado como em termos de valor contabilístico, em média 42% superior às restantes 90 com um modelo de gestão pouco criterioso e rigoroso em termos ambientais e sociais.

Como Benjamin Franklin, famoso político e embaixador americano da era do Iluminismo, tão assertivamente, uma vez disse: “Vocês podem adiar as medidas importantes a implementar, mas o tempo não vai adiar, e tempo perdido nunca é encontrado novamente.” Nos dias que correm temos uma oportunidade única para mudar as rotinas, optando por uma gestão mais sustentável, mais amiga do ambiente e do ser humano.

À medida que enfrentamos um ponto de inflexão na economia global e a nível ambiental, o imperativo para a mudança nunca foi tão grande.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


As 6 prioridades mundiais no AMBIENTE

O Ambiente e a protecção dos recursos terrestres, a par da capacidade para gerir as alterações climáticas da Terra, são questões fulcrais no que toca à economia global, assim como à sustentabilidade e salubridade do Mundo como o conhecemos.
Na 17ª Conferência das Partes, que se realizou em Durban, foram atingidos alguns avanços no que toca à Governança Ambiental Global, com o reforço do Fundo de Protecção contra a Desflorestação e Degradação Florestal, assim como forma dados alguns passos no sentido de um reforço e alargamento do protocolo de Quioto, tornando-o mais efectivo e revendo o conceito de países desenvolvidos e países em desenvolvimento, no sentido de incluir países como Índia e China no leque de países com limites rigorosos no que toca à emissão de gases de efeito de estufa e equivalentes. O objectivo é impedir que o aumento da temperatura média global não exceda os 2ºC até ao final do século, sendo que se prevê que a mesma aumente 3,8ºC, e atinja um aumento de 2ºC até 2050, isto se nada for feito, pondo em causa a vida como a conhecemos actualmente.
É notório que as questões ambientais são cada vez mais fulcrais a nível económico e a nível social, por isso mesmo considero que existem 6 prioridades a ter em conta:


Alterações Climáticas

Aumentar a capacidade dos indivíduos, comunidades e nações para se adaptarem às alterações climáticas, convergindo para sociedades de baixo carbono, aumentar a percepção pública acerca das alterações climáticas e os seus efeitos, e reforçar o conhecimento sobre os factores associados às alterações climáticas.


Desastres ambientais e conflitos subjacentes

Minimizar as ameaças, em termos ambientais, para o bem-estar humano que advenham de catástrofes e desastres naturais, e controlar os conflitos e o caos subjacente.


Gestão dos Ecossistemas

Promover uma melhor gestão dos recursos terrestres com o objectivo de conseguir dar resposta às futuras necessidades ecológicas e humanas.   


Governança Ambiental

Promover a aposta na tomada de decisões, a nível ambiental, de uma forma informada e consciente, apostando no reforço da cooperação ambiental a nível regional e nível global.


Substâncias perigosas

Reduzir o impacto das substâncias perigosas, promovendo acções de contenção e mitigação de riscos ambientais associados às mesmas.


Eficiência na utilização de recursos

Promover o consumo sustentável dos recursos naturais, assegurando que a renovação dos recursos é garantida e não é posta em causa pelo consumo desmesurado dos mesmos.

domingo, 20 de novembro de 2011

A responsabilidade social e a preservação ambiental significam compromissos com a vida

"A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais, respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem", dizia Monteiro Lobato, na sua obra de 1946 "Miscelânia".
É um facto que a Natureza é todo o sistema que nos sustenta, que se constituí como o nosso garante, e acima de tudo é a toda a envolvente que nos permite obter a correspondência das nossas necessidades, dos nossos objectivos e até das nossas extravagâncias.
No entanto não pensamos nisso, e regra geral os nossos comportamentos revelam exatamente o inverso, que desconsideramos a nossa maior fonte de prosperidade e sustentabilidade. 
A cada dia que passa assistimos a comportamentos críticos aos vários níveis da sociedade e economia que podem e estão a pôr em causa a sustentabilidade da Natureza, pelo menos como a conhecemos, o que por si só interfere com a sustentabilidade das nossas terras, dos nossos países e do nosso Mundo.
Um dos comportamentos que mais põe em causa a sustentabilidade do planeta, e arrasta a Natureza para um ponto de não retorno, é o nosso consumo exacerbado, a partir do qual exigimos e extraímos do planeta e da Natureza mais recursos do que aqueles que são renovados. Ou seja, estamos a consumir não só os rendimentos  produto gerado em termos gerais, mas já estamos a dar conta do capital, a dizimar a estrutura.
Atualmente a maior guerra que o Homem está a travar é contra a Natureza, porque é uma guerra silenciosa, devastadora, pondo em causa o sustento das próximas gerações, podendo gerar crises de grau consideravelmente superior a uma crise económico-financeira-social como a que vivemos atualmente, e até mesmo maior que a que foi vivida em 1929, precedendo a 2ª Guerra Mundial, a chamada Grande Depressão.
Urge por isso sim fazer algo, e aí cada um de nós pode dar um grande contributo, através de pequenos esforços, pequenas rotinas de comportamentos e de consumo. É certo que é uma gota no meio do Oceano, o esforço de cada um em prol da sustentabilidade da Natureza, mas sem essa gota, é certo, o Oceano será menor, e tudo irá por água abaixo.


Já diz um dos principais provérbios indígenas:
"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."

sábado, 15 de outubro de 2011

A crise e os 16 mil Milhões do Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico


O Governo do PS, em 2007, apresentou um plano que preconizava a construção de 10 novas barragens com uma potência instalada de 1100MW e uma produção média de 1,6TWh/ ano, com o objectivo de atingir em 2020 uma capacidade de produção hidroeléctrica na ordem de 7000MW, com um objectivo de reduzir a nossa dependência energética, aumentar a quantidade de energia de fontes renováveis, e com isso combater as alterações climáticas.
Das dez barragens, seis estão indicadas para a bacia do Douro. Dessas seis, cinco estão previstas para a sub-bacia do Tâmega (a outra é a famosa barragem de Foz-Tua, que irá submergir a linha do Tua). Quatro das cinco barragens da sub-bacia do Tâmega serão construídas no interior de um círculo com um raio de uma dezena de quilómetros (Vidago e Daivões, no Tâmega; Gouvães, no afluente Louredo; Padroselos, no afluente Beça). A quinta barragem, Fridão, situa-se a 12 km a montante de Amarante. A bacia do Douro, a grande sacrificada, é uma bacia com o rio principal artificializado e com quase todos os restantes altamente intervencionados.
Ao todo estamos a falar de um pacote financeiro de 16 mil Milhões de euros, dinheiro extremamente necessário em tempos de crise, que será inconsequente, uma vez que segundo as projecções actuais para o output de energia por barragem, daquelas que já estão em curso, tais como as que serão construídas, será muito menor que o previsto. Por outras palavras, vamos investir, ou gastar, 16 mil Milhões de euros e não vamos criar um grande impacto na nossa produção energética, uma vez que o valor de produção expectável, que em termos reais será menor, e dependerá muito dos caudais, será menor que o previsto, sendo algo na casa dos 0,2% do nosso consumo anual de energia eléctrica, ou até abaixo. 16 Mil Milhões de euros em barragens apenas para produzir 0,2% da energia consumida no país anualmente não são um investimento, mas sim um desperdício de dinheiro, que poderia ser aplicado em outros projectos de produção energética tais como a valorização energética de resíduos, energia eólica ou redes de nova geração, ou até mesmo no sector produtivo, com o objectivo de estimular a economia.
É por conta destes erros que no prazo de 5 anos seremos o país com a electricidade mais cara do Mundo. Sim, porque estes investimentos têm que ser pagos, e esse montante será imputado à factura de electricidade já pesada das famílias e empresas portuguesas.
Sendo assim, e na minha opinião, o Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tem grandes falhas que passo a citar:
1. O PNBEPH adopta uma abordagem oposta a uma política energética moderna e eficaz, desprezando o elevado potencial de uso eficiente da energia, em favor de soluções de electroprodução de baixa rentabilidade económica e elevado impacte ambiental; 
2. O PNBEPH adopta uma abordagem oposta ao planeamento dos recursos hídricos por bacia, desprezando impactes cumulativos importantes, designadamente em matéria de riscos para as populações, biodiversidade e caudais sólidos; 
3. O PNBEPH contribui muito pouco para o seu suposto principal objectivo, o combate às alterações climáticas, impedindo na realidade soluções alternativas mais eficazes; 
4. Ao contrário do que é afirmado no PNBEPH, tudo indica que os impactes sócio-económicos locais serão mais negativos do que positivos; 
5. A viabilidade da maioria das barragens preconizadas no PNBEPH é mais que duvidosa, permitindo antever mais um conjunto de sumidouros de dinheiros públicos; 
6. O PNBEPH não cumpre nem a lei nem a boa prática em matéria de avaliação ambiental estratégica. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dicas para poupar energia - luz e gás - minimizando o impacto da subida do IVA

Desde sábado que a grande maioria dos portugueses estão a pagar 23% de IVA no gás e electricidade – contra os 6% de até agora.
Ficam aqui algumas dicas para poupar energia:
1. Troque as lâmpadas incandescentes. Substitua as lâmpadas incandescentes pelas de halogéneo. Com uma utilização média de cinco horas diárias, recupera o investimento em menos de seis meses.
2. Desligue o standby. Palavras para quê? É um dos conselhos mais dados, nos últimos anos, no que toca à poupança energética: desligue completamente as televisões, computadores, DVD, carregadores de telemóveis, gadgets ou qualquer outro aparelho: o standby – a luzinha vermelha – é responsável por 5% da electricidade consumida numa habitação.
3. Divida o consumo pelo tempo. Com a tarifa bi-horária paga quase metade do preço normal se utilizar os electrodomésticos nas horas do vazio – normalmente das 22h às 8h. Segundo a Quercus, esta tarifa pode levar à poupança de 67 euros por ano, para uma família com um perfil energético normal.
4. Electrodomésticos classe A. Esta dica não é de curto prazo, mas fica o conselho: opte por electrodomésticos de classe energética A, A+ ou A++. As poupanças são imediatas.
5. Economize o seu frigorífico. Coloque o frigorífico num local fresco e ventilado, afastado de fontes de calor, e descongele antes de a camada de gelo atingir os 3 milímetros de espessura. Com este simples gesto pode poupar até 30% no consumo.
6. Loiça suja até encher a máquina. Este conselho também é dos mais básicos: procure utilizar a sua máquina de lavar loiça completamente cheia. Se estiver a meio, utilize programas curtos ou económicos.
7. Sonda de água para lavar roupa. As máquinas de lavar utilizam 80 a 85% da sua energia para aquecer a água. Há máquinas biotérmicas, com duas entradas independentes – uma para água fria outra quente – que utilizam o sistema de produção de águas quentes de casa, permitindo poupar 25%.
8. Centrifugar antes de secar. Apesar de Portugal ser um País de sol, há muitas habitações com máquinas de secar – que dão jeito para Invernos chuvosos. Na verdade, estas máquinas são dos maiores consumidores de energia, pelo deve restringir a sua utilização. Caso não seja possível, deve centrifugar a roupa antes de utilizar esta máquina, para poupar energia.
9. Porta do forno bem fechada. Cada vez que abrimos a porta do forno, desperdiçamos 20% de energia. Por outro lado, também nestes casos deve procurar modelos de classe A.
10. Placas de indução mais rápidas. As placas de indução aquecem os alimentos ao gerarem campos magnéticos – e são mais rápidas e eficientes que as eléctricas.
11. Microondas poupa energia. Ao utilizar um microondas em vez de um forno tradicional reduz o consumo de energia entre 60 a 70%.
12. Produzir calor consome mais. Os pequenos electrodomésticos que realizam acções mecânicas – como bater ou cortar – têm, regra geral, potências baixas. Mas o ferro de engomar, torradeiras e secadores, que produzem calor, têm potencias maiores e consomem mais energia.
13. Ecrãs planos mais eficientes. O ecrã do computador é o elemento informático que consome mais energia. Os planos TFT consomem menos do que os convencionais e os equipamentos informáticos com a etiqueta Energy Star passam a modo de baixo consumo, após algum tempo de inutilização. Ah, e a protecção que poupa mais energia é a totalmente negra. Finalmente, os ecrãs de LCD poupam cerca de 37% de energia em funcionamento e cerca de 40% em modo de espera.
14. Aceda ao www.topten.pt. Este site orienta o consumidor na escolha de electrodomésticos, lâmpadas e até automóveis. O critério e elo comum é a eficiência energética.
15. Utilize menos água no banho. Pois, esta dica também é antiga. Se deixar correr a água menos dez minutos, pode reduzir em 6% a factura do gás natural, o que equivale a 17 euros por ano.
16. Vidros duplos e caixilharia em PVC. Se puder, substitua as janelas e caixilharias por vidros duplos e caixilharias em PVC, que permite menos transferência de calor entre a sua casa e o exterior, no Inverno.
17. Utilize o Sol como mais lhe convier. As casas com grande exposição solar podem poupar muita energia com persianas, redução de aquecimento, pintar as paredes de cores claras ou diminuição de luzes acesas em casa.
18. Temperatura amena todo o ano. Ora aqui está um excelente conselho: defina o set-point do seu sistema de arrefecimento / aquecimento para 21 ou 22ºC, no Verão, e 19ºC, no Inverno. Estas são as temperaturas em que a maior parte da população se sente confortável. Mais 1ºC implica mais 10% de consumo de energia. Um aumento colossal.
19. Escolha o sistema mais eficiente. Se puder, instale painéis solares térmicos, que lhe fornecem água quente sanitária. Assim, poupará mais de 35% na sua factura do gás e electricidade.
20. Seja ecológico: recicle o lixo. A última dica não fará com que poupe dinheiro, pelo menos a curto prazo e directamente, mas irá ter uma relevância brutal para o seu futuro: escolha produtos que não criem resíduos ou que sejam recicláveis. Opte por embalagens familiares, recicle o lixo doméstico e o óleo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ataque da crise: Preço dos cereais aumentou 76% num ano

O preço dos cereais disparou 76 por cento no último ano e deve continuar a subir, afectando bens alimentares básicos como o pão e a massa. E nesse campo Portugal está altamente dependente, uma vez que importa 75% dos cereais que são consumidos anualmente no nosso país.
Em termos económicos, esta questão é extremamente preocupante para o nosso país.
Este ano, a produção de cereais em Portugal vai atingir mais um mínimo histórico, ficando abaixo das 180 mil toneladas, segundo as Previsões Agrícolas divulgadas em meados de Agosto pelo INE, o que agrava ainda mais a situação.
Entre Junho de 2010 e Junho de 2011, o índice de preços da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) registou um aumento de 76 por cento, deixando Portugal ainda mais fragilizado.
Muitas pessoas e instituições não têm noção que este é um sector, no qual temos enormes necessidades, quer a nível da alimentação humana (pão e massas), quer a nível das rações para alimentar os animais que produzem a carne que consumimos.
No entanto, a solução para ultrapassar este problema pode não passar, como muitos pensam, pelo aumento da área cultivada, mas antes pela mudança da tecnologia utilizada.
Existe uma enorme expectativa dos produtores em relação ao Alqueva e às zonas onde há barragens.
Se os cereais, que tradicionalmente eram cultivados em regime de sequeiro, passarem a ser de regadio, significa que a produção pode aumentar, com uma área inferior.
Mas falta dinheiro para investir em processos que facilitem o aumento de produtividade. Há que fazer investimentos, comprar sistemas de rega, dar formação aos empresários agrícolas. É preciso dinheiro, tempo e vontade e a conjuntura actual não é muto favorável até porque a banca não está muito disponível para emprestar aos empresários que queiram investir.
Em suma, só investindo no aumento da produtividade agrícola (tonelada por hectare) podemos obter melhores resultados em termos do produto das colheitas, e com isso dar um forte impulso para a redução do nosso défice agro-alimentar, de cerca de 4 mil milhões de euros. Vale a pena tentar!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Uma questão que vale cerca de 4.000 Milhões de Euros!

Vivemos actualmente tempos de incerteza, nos quais somos confrontados com enormes desafios, que se tornaram constantes e transversais.
É sabido que nos próximos anos teremos que seguir à risca um programa de redução do défice e divida para níveis sustentáveis, de estabilização financeira e relançamento da economia nacional, porém trata-se de um programa de sacrifícios, cortes, reduções, aumentos na carga fiscal e desafectações das ajudas públicas.
No entanto convém não esquecer que alguns desses cortes e reduções referem-se às comparticipações, na parte que diz respeito ao Estado, nos programas de financiamento comunitários.
Sendo assim convém que o MAMAOT, Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, possa ser eficiente e eficaz na gestão efectiva do PRODER, fazendo os possíveis para que possa aumentar a produção nacional agrícola e florestal exportável, assim como reduzir a dependência externa em relação a determinados produtos.
Todavia temo seriamente que os cortes e reduções, impostos pelo programa da “troika”, possam comprometer a execução do PRODER, comprometendo as verbas comunitárias disponíveis, uma vez que a contrapartida estatal poderá ser objecto de redução significativa.
Vai haver um aumento da carga fiscal, sobretudo no que concerne à reestruturação dos escalões do IVA, aumentando o custo de determinados factores de produção, a par com o facto de os preços da energia estarem cada vez mais elevados, o que por si só poderá aumentar significativamente a dificuldade dos Agricultores Portugueses em produzir com rentabilidade, levando a uma redução da produção e consecutivamente a uma redução do valor das exportações e a um aumento do valor das importações, aumentando o já elevado défice agro-alimentar português.
Ao mesmo tempo, a contínua redução do poder de compra dos Portugueses, também vem prejudicar a Produção Nacional com a falta de escoamento e mais baixas dos preços à produção.
Fala-se agora muito da "Produção Agro-Alimentar Nacional" e pelo menos falar não custa. Porém, os principais governantes, enquanto falam na necessidade estratégica de aumentar a produção nacional, estão já a preparar o completo desligamento das ajudas públicas à produção, por exemplo ao Arroz e aos Frutos Secos.
O simples desligamento das ajudas públicas à produção agrícola é um forte factor para a redução da “Produção Agro-Alimentar Nacional”.
Adivinhem lá, então, qual o nosso défice agro-alimentar e onde ele pode parar se nada for feito? Esta é a questão que vale cerca de 4.000 Milhões de Euros.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Pense bem da próxima vez que comprar água engarrafada

Somos constituídos, aproximadamente, por 60% de água.  Precisamos dela para viver. É uma necessidade, tão importante como o ar que respiramos.
Então como é que deixámos que se transformasse numa mercadoria, num negócio de milhões? A água engarrafada é dos negócios mais lucrativos e dos produtos que compramos a um preço exorbitantemente mais caro do que o seu custo de produção. É mais essencial do que o combustível que colocamos nos nossos carros e, numa estação de serviço, consegue ser mais cara do que o mesmo. Mas quando aumentam um e outro, é contra os aumentos de combustíveis que nos manifestamos.
É-nos vendida a ideia de que estamos a ter acesso a água proveniente de uma fonte pura, segura, mais saudável. Quando a água que nos surge na torneira das nossas casas é submetida a controlos de qualidade que lhe conferem essa mesma segurança. Nem sempre assim o foi, e não em todo o país, mas não é onde temos a pior água canalizada em Portugal que se bebe mais água engarrafada.
As empresas de água engarrafada estão sempre à procura de nos dar o que queremos e o que achamos que queremos. Se por acaso pensamos em saciar a nossa sede com meia dúzia de golos, então as garrafas de 20 cl surgem para a nossa comodidade. Se achamos que precisamos de um pouco mais, então aí temos as de 50 cl. Simples, rápido, disponível e descartável. Água em pequenas doses e ao nosso alcance, em qualquer ponto do país e centenas de vezes mais cara do que a água da torneira.
Um litro de água engarrafada pode custar facilmente €1. Mil litros de água canalizada custarão cerca de €0,72 e não é no escalão mais barato.
E então porque o fazemos? Porque é que durante anos o consumo de água engarrafada foi subindo até que, em 2008, três quartos da população portuguesa recorria a esta forma de obter água? Porque a água canalizada do nosso país não tem qualidade? Bom, se em tempos isso pode ter sido verdade, nos dias de hoje e na quase totalidade do território, a água da torneira disponível para as populações tem boa qualidade. Porque o sabor não é tão bom? Quanto a isso, qualquer filtro portátil ou acoplado à torneira torna a água com um sabor igual à maioria das águas engarrafadas, ou mesmo melhor.
Creio que embarcámos neste frenesim de consumo de água engarrafada devido ao marketing que foi feito em torno deste produto, em que modelos, desportistas e atores nos diziam o quão pura e natural aquela água era, dando-nos a noção de ser mais saudável. Isso, associado ao mito urbano da água canalizada municipal ser de pior qualidade, levou a esse incremento exponencial, ao ponto de existirem pessoas que a utilizam inclusive para cozinhar.
Esquecemo-nos ainda, ou simplesmente desconhecemos, que o recipiente do qual bebemos a nossa água engarrafada está longe de ser o adequado. Já foi comprovado que o plástico, do qual são feitas as garrafas de onde bebemos a nossa água engarrafada, liberta para a mesma componentes que a longo prazo podem ter efeitos nocivos sobre a nossa saúde, como por exemplo e em alguns casos o Bisfenol A. Componente perigoso o suficiente para que a União Europeia o tenha proibido na produção de biberões vendidos em espaço comunitário. Libertação essa que é acelerada quando o plástico é exposto ao calor. Mesmo que não exponha a sua garrafa de água ao sol, será que o distribuidor teve o mesmo cuidado antes da garrafa ter ido parar à sua mão?
Para além de perigoso para a saúde, a produção deste plástico todo, responsável pela maior parte dos resíduos urbanos plásticos, assim como a sua distribuição, aumentam em muito o consumo de CO2 no planeta.
O seu sabor é facilmente obtido pela filtração da água de torneira; a sua portabilidade pode ser colmatada com o uso de uma garrafa de metal; o seu consumo não é mais seguro, pelo contrário; o seu custo é centenas de vezes maior do que a água de torneira; e a sua produção e distribuição resulta num grande impacto para o planeta.
Pensando em tudo isto, quer mesmo comprar a próxima garrafa?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Porquê apostar na floresta para reduzir o desemprego e o abandono do interior?

O sector florestal foi reconhecido por este e por outros governos como um sector estratégico, com enorme relevância na actividade económica nacional.
Todavia, os dados do último Inventário Florestal Nacional e os registos das áreas ardidas das últimas décadas não deixam razão para dúvidas sobre a realidade dura do sector.
É de destacar, concretamente:
- Decréscimo acentuado da área florestal do Norte e Centro do País, a rondar valores de 10 e 3% respectivamente;
- Redução drástica de Pinheiro bravo, cerca de 300 mil ha só na última década;
- A indústria do papel a reclamar mais 200 mil ha de eucalipto;
- Desaparecimento de milhares de microempresas de serração;
- Continuada desvalorização da madeira de pinho e eucalipto,
- Proliferação de terríveis pragas no coberto florestal nacional,
- Incêndios que dizimam anualmente dezenas e dezenas de milhares de ha de floresta e outros recursos agro-florestais;
Constata-se que o mundo rural continua a perder vitalidade e a desertificar-se paulatinamente à espera da sua "morte" lenta e irreversível, não obstante os seus principais agentes reclamarem há muito dos sucessivos Governantes e da União Europeia que estes olharem para o espaço rural como alfobre, como reserva de mão-de-obra, como espaço produtivo agro-florestal de inegável riqueza alimentar, paisagística, ambiental e cultural.
Porém, existem inúmeros terrenos baldios, abandonados ou semi-abandonados, ultrapassando um milhão de hectares.
No plano nacional constata-se a crescente incapacidade de resposta dos serviços da Administração Pública face à multiplicidade de problemas existentes na área dos baldios. Incapacidade provocada pelo emagrecimento dos recursos humanos, nas sucessivas mudanças dos responsáveis e das inúmeras Leis Orgânicas que introduzem hiatos e instabilidade funcional para não falar já, nas erradas receitas das políticas centralizadoras incapazes de fazer um aproveitamento integrado dos recursos existentes, geradores de produção, economia, emprego e sustentabilidade.
Imagine-se se todos estes hectares de terreno disponíveis fossem aproveitados para fins florestais e agrícolas, o emprego que se geraria, o impacto que teria na balança comercial Portuguesa, e acima de tudo o desenvolvimento que se proporcionaria ao mundo rural.
Contudo é necessário encontrar uma estratégia, envolvendo todas as partes, que possa ser determinante para reanimar um dos sectores mais importantes do nosso país, a Floresta, o nosso ouro verde.
Neste aspecto as várias entidades estatais intervenientes devem ser unas e céleres na sua forma de trabalhar e deixarem a forma individualista e desestruturada em que avaliam as situações. As entidades estatais têm de deixar de agir como pequenos Estados dentro do grande Estado onde cada vez mais se vê uma busca ávida de auto-financiamento e onde a qualidade dos serviços, as pessoas e o serviço público ficam para segundo plano. A floresta tem de ser vista como prioridade Nacional, fonte de receita e emprego e como principal agente de combate à desertificação.
É igualmente necessário que o PRODER- florestal despegue do seu estado letárgico e comece a responder positivamente às inúmeras solicitações dos produtores florestais privados e Entidades Gestoras dos Baldios para a satisfação das várias acções e medidas nele contempladas.
Sendo assim algumas das medidas a reclamar, que poderiam gerar uma enorme dinâmica económica seriam, entre outras, as seguintes:
1º - Um Plano de emergência nacional que responda às necessidades fitossanitárias da floresta autóctone, designadamente - Nemátodo do Pinheiro, declínio do sobreiro e cancro do castanheiro;
2º- Que o Plano Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios passe a enquadrar a gestão florestal como condição vital na prevenção, que possa existir a integração das comunidades locais autóctones nos sistemas integrados de apoio e combate a incêndios e a entrada em funções de novas equipas de sapadores florestais, reduzindo drasticamente a área anual ardida;
3º- Colocar em termos de discussão, como prioridade regional à AFN e ao Governo uma listagem de Conselhos Directivos de Baldios que desejam alterar o actual modelo de co-gestão dos baldios e passar à modalidade de gestão autónoma;
4º- Desburocratização do PRODER (Programa do Desenvolvimento Rural), no que respeita à redução do prazo de apreciação técnica por parte das várias Entidades que emitem pareceres vinculativos. Condição, esta, essencial para a recuperação do excessivo atraso na implementação dos objectivos do Programa na componente florestal;
5º - Que a actual equipa Ministerial que aglutina áreas do Desenvolvimento Rural, Florestas, Ambiente e Ordenamento, não tem desculpas se não aproveitar as multiplicidades das valias públicas e naturais do espaço rural, numa perspectiva de revitalização destes territórios comunitários.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Seca na Europa será pior do que uma potencial crise do petróleo

A seca dos meses de Abril e Maio afectou grande parte da agricultura por toda a Europa. A recuperação da seca pode ser, dizem os analistas, mais difícil do que seria de uma crise de petróleo. E são precisos mais do que uns aguaceiros para melhorar a situação. Se o aumento recente dos preços do petróleo poderá acrescentar um quarto de ponto percentual à inflacção na Zona Euro, avisam, a crise agrícola poderá aumentá-la em mais meio ponto percentual. 
A volatilidade dos preços dos alimentos foi um dos pontos em discussão na última reunião do G-20, em Paris, no mês passado. Os governos europeus debateram medidas colectivas para evitar o agravamento da situação económica da Europa, já de si ameaçada pela incerteza grega, conscientes de que os preços dos alimentos estão a cair em proporção com a confiança do consumidor. 
França - segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas e a maior potência agrícola da Europa - foi talvez o país mais atingido pela seca. Os criadores de gado e os agricultores debatem-se com sérios problemas de tesouraria, uma vez que enfrentam custos exorbitantes para alimentar as manadas e quebra de rendimentos, a par do aumento do custo da energia. Sensível ao problema, o governo francês reagiu, subsidiando o transporte para o gado através do operador ferroviário estatal. Os bancos estão a ajudar, dando alguma margem de manobra no pagamento de créditos e as companhias de seguros estão a adiar os pagamentos dos clientes até que a situação melhore. O Governo acabou, ainda, de injectar 800 milhões de euros em fundos para a economia agrícola, adiantando o pagamento único por exploração deste ano. 
Todavia, a acção a curto prazo por parte de governos individuais não é a solução e o sector precisa de uma visão de longo prazo e de uma frente unida europeia, capaz de lidar com a ameaça da concorrência da América Latina e da China, onde os baixos custos laborais permitem inundar os mercados com culturas baratas. Desde o pós-II Guerra Mundial que a Europa mantém, ainda, um erro na agricultura: culturas colocadas em locais inadequados ao clima. O exemplo típico é o milho para a alimentação de gado, que é, frequentemente, cultivado em regiões de precipitação insuficiente. Muitas vezes, os agricultores precisam de arranjar uma fonte para 90% da água de rega. 
Com a seca, este problema agravou-se. Bruxelas tem mencionado a necessidade de criar uma comissão para analisar o problema, mas, face aos desafios do mundo em desenvolvimento, pode ser tarde de mais. Então, o que deve ser feito? Para começar, temos de deixar de cultivar culturas desnecessárias. Governos de toda a Europa incentivam os agricultores a produzir culturas de grande volume e de baixo valor que acabam por ir para o lixo. É o legado altamente ineficiente de uma política agrícola ultrapassada. 
A Política Agrícola Comum (PAC) caracterizou-se principalmente pelos subsídios à produção agrícola, pagos por hectare para culturas específicas, com vista à sustentação de preços. Em 2003, a Comissão Europeia lançou uma reforma da PAC baseada na dissociação dos pagamentos directos, um acordo político que se espera que aumente a flexibilidade da tomada de decisão dos agricultores, deixando estes de estar obrigados a produzir determinada cultura para receber um subsídio específico. É o primeiro passo na direcção de uma oferta orientada para o consumidor e sensível aos preços. Mas a implementação desta política é lenta e longe de consistente em toda a Europa. 
Devemos também reconhecer a nossa incapacidade de competir com países como a Argentina, o Brasil ou a China na produção de culturas de baixo valor. Importar destes países o que a Europa precisa é uma abordagem muito mais eficiente, que permitiria aos agricultores europeus mudar para uma produção de menor volume, mas de altos rendimentos. 
O ministério francês da Agricultura estimava, em Dezembro passado, que 15% dos agricultores já começaram a mudar para culturas de maior valor. Mas é preciso incentivar esta tendência a espalhar-se. Se concentrarmos os nossos esforços no crescimento das culturas orgânicas de alta qualidade e de elevado valor (actualmente, 2% da produção em França, contra 8% na Alemanha e 10% na Suécia), e no desenvolvimento de biocombustíveis renováveis, os fundos que, até agora, foram pagos como incentivo para atingir quotas de culturas, poderiam ser re-investidos na transição. 
Em Portugal, segundo dados do Ministério da Agricultura, compilados pela Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (AGROBIO), em 2009, havia 1.651 produtores biológicos, responsáveis por 157.179 hectares de cultivo estavam ocupados por culturas biológicas, sendo a maioria pastagens e plantas forrageiras. Portugal registava 662 criadores de gado biológico, num total de 215.573 animais, na sua maioria ovinos, e, essencialmente, nas regiões da Beira Interior, Alentejo e Trás-os-Montes. E isto já em perda. 
O grande "boom" da agricultura biológica nacional deu-se em 2007, quando terminou o prazo do Plano Nacional para o Desenvolvimento da Agricultura Biológica. Lançado em 2004, tinha como objectivo conseguir aumentar o número de produtores de 1.174 para 4.700 e a área cultivada de 120 mil hectares para 260 mil hectares. Falhou, embora aumentasse em muito a área destinada à agricultura biológica: em 2007, havia apenas 1.949 produtores para 233.475 hectares de área cultivada. A necessidade de fontes renováveis de energia só vai aumentar nos próximos anos, por isso faz sentido a Europa dar aos seus agricultores a oportunidade de competir neste mercado. Porém, tal como discutido na reunião do G-20, a orientação do mercado em larga escala para a produção de biocombustíveis leva à volatilidade inaceitável dos preços dos alimentos e abre o caminho à especulação financeira, quer dos preços, quer das terras. 
Como podemos proteger o mercado de alimentos da desenfreada actividade de especulação? Os ministros da Agricultura do G-20 concluíram que um sistema de vigilância novo, o Sistema de Informação de Mercado Agrícola, poderia acabar com predadores financeiros e garantir maior transparência de preços. Mas a Europa deve lembrar-se que mecanismos semelhantes existem noutros mercados e raramente conseguem impedir a especulação. Apenas dão mais informações aos especuladores e deixam os produtores sem voz.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Desafios da PAC pós 2013 no que concerne ao uso eficiente da água para fins agrícolas
A procura de água em Portugal, ou seja, a água utilizada, está actualmente estimada em cerca de 7 500 000 000 m3/ano no conjunto dos sectores Agrícola, Industrial e Urbano.

Em termos de procura por sectores, e tendo por base o Plano Nacional da Água, a agricultura é claramente o maior utilizador de água em Portugal, com 87% do total, contra 8% do total no abastecimento urbano e 5% do total na indústria

Quanto aos custos efectivos da utilização da água, 1 880 000 000 €/ano (correspondentes a 1,65% do PIB nacional), o sector urbano é o mais relevante, com cerca de 46% do custo total associado, seguido da agricultura com 38% e da indústria com 26%.

Os gráficos seguintes mostram a procura nacional de água por sector em Volume e os respectivos custos de produção. (Fonte: PNA)


Todavia, a Agricultura como sector estratégico para o nosso país, sendo responsável pela produção da alimentação básica necessária, tem grau de legitimidade para ser o sector de maior consumo de água. No entanto ainda carece de eficiência na utilização do recurso natural mais importante, a água.
Tendo Portugal um défice agro-alimentar na ordem dos 3 000 000 000 €, é necessário produzir cada vez mais e melhor, com o objectivo de substituir importações de bens agrícolas, assim como aumentar o potencial exportador de alguns desses bens.
Cada vez mais há casos de eficiência na utilização de água para fins agrícolas, concretamente no processo de irrigação, no entanto isso só tem acontecido como reacção à necessidade de redução dos custos de produção, o que tem levado muitos agricultores a serem mais eficientes na gestão e uso da água, conseguindo os mesmos índices de produtividade, utilizando até 12% menos água.
No entanto ainda são poucos os casos, e torna-se imperioso implementar políticas que visem o aumento da produtividade agrícola a par com a eficiência na utilização da água.
Por isso mesmo, na próxima revisão da PAC, Política Agrícola Comum, pós 2013 torna-se necessário rever os mecanismos de apoio à produção eficiente, nomeadamente no que toca ao Regime do Pagamento Único, uma vez que este mesmo subsídio á produção é atribuído em função da dimensão das produções, e não em função da produtividade, das valências da região e das condições de produção, o que pode levar a que em grande parte dos casos se beneficiem explorações com grande intensidade no uso de água, uma vez que o tipo de produção pode não estar totalmente enquadrado com a tipologia climatérica e topológica da região.
A bonificação dos pagamentos a agricultores que consigam reduzir os seus inputs de produção, alcançando métodos mais eficientes de utilização e gestão da água, seria outra medida a contemplar e enquadrar no âmbito da atribuição de fundos.
Outra grande medida a implementar seria beneficiar e incentivar o investimento em processos de irrigação mais eficientes, fazendo variar a comparticipação do investimento em função do grau de eficiência do sistema de irrigação implementado.
Podem parecer escassas estas medidas, mas no entanto seriam as suficientes para dar o impulso e o incentivo para que a produção agrícola aumentasse utilizando menos água para isso, ou seja sendo cada vez mais eficiente, reduzindo o peso do sector no que toca ao consumo de água.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eficiência Energética e Sustentabilidade Ambiental como factor de competitividade das PME empresas

É do conhecimento de todos que o grande factor de progresso e desenvolvimento de Portugal, na próxima década, será o crescimento das exportações e o aumento da competitividade. Contudo, só é possível sermos competitivos se nos diferenciarmos através do tridente económico Custos – Qualidade - Serviço.
Neste sentido, abordarei a questão dos custos, porque a Qualidade e o Serviço são factores nos quais temos obtido um bom desempenho. No que aos custos concerne, algumas das maiores facturas das empresas dizem respeito à Electricidade, Gás e Água.
No entanto, ainda muito pouco tem sido feito no sentido de enveredar por caminhos de redução dos consumos energéticos e de água, pela via da eficiência energética e sustentabilidade ambiental.
As PME experienciam, neste momento, grandes desafios no que toca à redução de custos como factor de aumento da competitividade no mercado global, em que por vezes descuram qualquer tipo de investimento em factores de eficiência energética e sustentabilidade ambiental, muito mais se os Tempos de Recuperação do Investimento excederem os 6 anos.
Pela via do investimento em factores de eficiência energética, as empresas podem intervir ao nível da redução da factura de electricidade, assim como ao nível da redução da dependência de gás ou de outros combustíveis fósseis para aquecimento. Seja através da redução da intensidade da iluminação dos seus edifícios, seja através do ajuste dos factores de potência nos PT (postos de transformação), seja através do investimento na microgeração energética, através da instalação de plataformas de painéis fotovoltaícos ou até mesmo de pequenos aerogeradores, seja através da utilização de iluminação LED ou fluorescente, podemos obter reduções dos consumos eléctricos, em média, na ordem dos 34%, segundo estudos da Agência Internacional de Energia. Dependendo da ordem de grandeza do investimento da microgeração, ainda haveria a hipótese de vender energia à rede eléctrica. Quanto ao factor do aquecimento dos edifícios, a eficiência energética pode ser posta em prática através do investimento num bom isolamento térmico, reduzindo em cerca de 80% a necessidade do uso de aparelhos de ar condicionado; a utilização de caldeiras de aquecimento a gasóleo, que por sua vez são extremamente ineficientes, e altamente poluentes, por via da emissão de Gases de Efeito de Estufa, acarretam também elevados custos com combustíveis para aquecimento para as empresas, problema este que poderia ser resolvido com a reconversão dessas mesmas caldeiras em caldeiras de aquecimento a Biomassa. A vantagem seria, para além da redução das emissões de gases de efeitos de estufa, a aposta numa energia renovável, por via de uma matéria – prima inesgotável na Natureza, a lenha ou o refugo florestal, a preços baixos e com uma grande capacidade de geração de energia. Com isto reduzir-se-iam a metade os custos com o aquecimento dos edifícios.
No que concerne à sustentabilidade ambiental, uma solução viável e que muito tem sido debatida e aplicada em vários pontos do Mundo, principalmente naqueles onde a água é mais escassa, é o aproveitamento de águas pluviais e a reutilização de águas residuais tratadas. Ou seja, com este investimento reduzir-se-ia o consumo de água provinda da rede, para além do facto de se reduzir a taxa de rotação dos consumos de água em dois terços. Para obter este tipo resultados, a instalação de sistemas colectores de águas residuais e pluviais e de câmaras de tratamento e purificação dessas mesmas águas seria a solução mais viável, existindo já grandes exemplos de sucesso no que toca a estes sistemas, assim como várias empresas com grande Know-how neste tipo de projectos. Em média este tipo de investimento contribuiria para a redução dos custos com água na ordem dos 62%, segundo os dados de um último estudo da Universidade de Aveiro em conjunto com o LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Em suma, este tipo de investimentos em eficiência energética e sustentabilidade ambiental, de uma forma global, permitiriam às empresas uma redução significativa dos seus custos, sendo que os Tempos de Recuperação de Investimento rondam em média os 8 anos, acabando por compensar, tendo em conta os ganhos de competitividade por via da redução de custos, assim como os ganhos ambientais por via da redução do consumo de electricidade, consumo de energias renováveis e redução de emissões directas e indirectas de Gases de Efeito de Estufa (o que é útil no mercado de transacção de créditos de carbono, podendo gerar outros proveitos para a empresa).

sábado, 21 de maio de 2011

Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, longe de cumprir os seus objectivos energéticos, terá um custo desmesurado e sem retorno.

As Parcerias Público-Privadas em vigor para a construção de 10 barragens – Almourol, Alvito, Girabolhos, Pinhosão, Foz Tua, Fridão, Dalvões, Padroselos, Gouvães e Alto Tâmega são potencialmente ruinosas.
Nestas PPP, com um custo estimado em 7 mil milhões de euros no total (construção e exploração), e à semelhança do que se passará com as SCUT, os concessionários receberão sempre o valor acordado, mesmo que haja pouca água nas albufeiras e não seja produzida energia, garantindo ainda 30% das receitas obtidas com a geração de energia – durante os próximos 65 a 75 anos.
Estas barragens produzirão apenas 1% do consumo total da energia consumida no país. Segundo dados da REN e do INAG, o total da produção eléctrica pelas novas barragens será de 3,2% do total nacional. Isto significa que não bastarão sequer para suprir os 4,7% a mais que se consumiram entre 2009 e 2010, e que se prevê aumentarem ao longo dos próximos anos.
Num estudo realizado pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças às PPP em 2010, do bolo total do investimento nestas parcerias, 41% irão para a construção e exploração de mais auto-estradas, 19% para Águas, Saneamento e Resíduos e 12% para a construção destas novas barragens. Ao tão propalado TGV cabe uma fatia de apenas 4%.
Os custos iniciais previstos para estas barragens são de 3.167 milhões de euros: à IBERDROLA cabem 1.700 milhões, à EDP 1.107 milhões e à ENDESA 360 milhões. Posteriormente receberão a concessão de exploração das barragens.
A utilidade destas barragens está totalmente em causa – o que levou a Liga para Protecção da Natureza, em associação com outras Organizações não Governamentais de Ambiente, a apresentar uma queixa perante a Direcção Geral do Ambiente e Comissão Europeia contra o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico – devido aos volumosos impactes ambientais e sociais, além do explicitamente fraco desempenho energético que estas construções terão.
Estando a situação económica do país seriamente comprometida, é promíscuo o interesse público associado à decisão de avançar com a construção de barragens com manifesta insuficiência energética, sem interesse económico ou turístico para o país, pondo em causa a viabilidade agrícola das regiões afectadas, provocando graves danos ambientais, e aumentando ainda mais a pressão financeira em que se encontra o erário público. As políticas de investimento público em Portugal neste momento baseiam-se única e exclusivamente no sector da construção civil e na betonização descontrolada.
Estou seriamente preocupado com a subtracção do factor ambiental do processo decisório, embora neste caso específico destaque também a subtracção do próprio factor económico, situação que deixará seguramente perplexo qualquer observador neutro da situação actual.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poluição por azoto custa 320 mil milhões de euros por ano à Europa

A poluição causada pelo azoto custa a cada cidadão da União Europeia (UE) entre 150 e 750 euros por ano. Em toda a Europa, o custo anual da poluição por azoto e perda de biodiversidade cifra-se entre os 70 e os 320 mil milhões de euros.
Um estudo que reuniu 200 especialistas europeus e foi apresentado esta semana durante uma conferência em Edimburgo, na Escócia, mostra que as libertações de azoto na agricultura e durante a queima de combustíveis fósseis causam problemas de saúde e têm um grande impacto na biodiversidade. O relatório de 600 páginas reuniu especialistas de 21 países e 89 organizações.

Apesar de a União Europeia ter diminuído as emissões de azoto nas últimas décadas, o aumento na circulação de veículos e a utilização de adubos na agricultura ainda são um problema.

“Quase metade da população do mundo depende de fertilizantes sintéticos para alimentação, que são feitos a partir de azoto, mas são necessárias medidas que reduzam o impacto desta poluição”, disse, citado pela Reuters, Mark Sutton, do Centro para a Ecologia e Hidrologia do Reino Unido.
As soluções passam pelo uso mais eficiente dos fertilizantes e uma escolha por parte das pessoas para que comam menos carne.

A agricultura é responsável por 70 por cento das emissões de azoto na Europa. Mas muita da produção agrícola vai directamente para a alimentação pecuária. “Se os europeus obtivessem toda as proteínas a partir das plantas, só 30 por cento das culturas existentes hoje é que seriam precisas, o que reduziria a entrada de fertilizantes de azoto e a sua poluição em 70 por cento”, disse à revista Nature Mark Sutton, que dirigiu o relatório.

O azoto é o principal gás que compõe a atmosfera. Na sua forma pura, é inerte. Mas as formas oxidadas deste elemento são poluentes. Podem gerar ozono ao nível do solo, que é irritante, ou ajudarem à existência de poluição fotoquímica - conhecida pelo termo em inglês smog.

Os nitratos lançados na natureza a partir dos fertilizantes podem também provocar cancro do intestino. Estas substâncias são ainda responsáveis pela proliferação de algas em rios e lagos, cuja decomposição consome o oxigénio, podendo provocar a morte de peixes.
Exige-se então um novo paradigma de produção agrícola, com base biológica, assim como a redução do consumo de carnes, reduzindo dessa forma os níveis de azoto, poupando milhares de milhões de euros a todos os Europeus.
Em tempos de crise, estas questões têm de ser debatidas. São milhares de milhões de euros que estão em causa.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Portugal tem de melhorar custo-eficácia das políticas ambientais

A avaliação ambiental de Portugal na última década é, globalmente, positiva, embora permaneçam certos desafios-chave no sector. A conclusão é dada pelo 3º relatório do Ambiente em Portugal da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), divulgado hoje, que aponta a melhoria da relação custo-eficácia das políticas ambientais como o principal desafio a curto prazo para o país.
«Fazer mais com menos», é a expressão usada, a esse propósito, no relatório da organização internacional. A longo prazo, a recomendação da OCDE passa por um fomento da produtividade e competitividade, através da integração de questões ambientais em reformas estruturais. O relatório destaca, nesse sentido, as oportunidades existentes no sector das energias renováveis.
Na análise da última década, a OCDE elogia a tendência de redução de emissões poluentes, diminuição da poluição agrícola nos recursos hídricos, progressos na gestão de resíduos (especialmente com o fim das lixeiras existentes em território português) e definição de políticas para a gestão da natureza e biodiversidade. É um bom começo, mas ainda é preciso fazer mais.
No entanto, continuam a existir áreas críticas onde os resultados nacionais estão aquém do esperado. Os efluentes domésticos continuam a afectar a qualidade da água, os resíduos industriais e municipais continuam a aumentar, enquanto o crescimento rápido no turismo, serviços, comércio, transportes e correspondente procura energética exercem pressão nos habitats naturais e biodiversidade.
Porém, a intervenção nas zonas costeiras é um dos grandes pontos fracos do desempenho português em termos de ambiente. A gestão das zonas costeiras e marinhas foi reforçada em termos legislativos, mas a implementação não acompanha o quadro legal. Os problemas de financiamento, a fragmentação das instituições e o conflito de interesses entre os diferentes Intervenientes são algumas das justificações para esta falta de intervenção no terreno.
No sector das energias renováveis, Portugal está no bom caminho, com o desenvolvimento futuro neste sector caracterizado como essencial para as estratégias nacionais de segurança energética, clima e desenvolvimento económico. Porém ainda carecemos, na minha opinião, de uma rede capaz de promover o armazenamento da energia, assim como um melhor sistema de transporte e distribuição de energia, a para de tecnologias de produção mais eficientes e economicamente mais competitivas. Por outro lado, a energia hídrica está apenas a 46 por cento do seu potencial, quando em países como a França, Alemanha e Itália apenas cinco por cento permanece por explorar. A eficiência energética tem também de ser desenvolvida, através de preços de energia que demonstrem melhor os custos ambientais.
Outra medida, esta de carácter fiscal, poderia bem ser o alargamento de impostos ambientais que visassem promover a eficiência energética, ecológica e ambiental, promovendo a consolidação orçamental sem comprometer a recuperação económica, ou seja, basicamente promover o principio do poluidor – pagador, ou por outras palavras quem mais ineficiente for em termos ambientais, mais contribui em termos de impostos diretos aplicados aos respetivos bens e/ ou serviços. 
A exemplo do que tenho defendido, a revisão do sistema de tarifas aplicado ao consumo de água, com a diferenciação entre aqueles que ultrapassassem o limiar médio dos 30-40 litros de consumo médio diário e os que cumprissem com a meta, contribuindo para sustentabilidade do sistema.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A produção agrícola e o aproveitamento de terras como solução anti-crise

O abandono de terras penaliza o mundo agrícola, assim como a economia.
Portugal tem cerca de dois milhões de hectares de terra abandonada e semiabandonada.
É um recurso ao serviço do desenvolvimento do país que não está a ser aproveitado. Isto significa desperdício, um luxo a que Portugal não se pode dar.
O paradigma da globalização vai mudar, os mercados locais e regionais vão ter cada vez mais importância. Portugal precisa de refletir sobre a agricultura para poder tornar-se num espaço mais produtivo, mais competitivo e mais sustentável.
É óbvio que temos vindo a desperdiçar terra, temos vindo a desvalorizar a agricultura como fonte de sustentabilidade e de fomento económico – social, porém cabe a todos nós mudar esse paradigma, e tomar opções de aproveitamento da terra disponível, promovendo a produção agrícola.
A título de exemplo, atualmente Portugal produz apenas 11% das suas necessidades anuais de milho, 17% em relação ao trigo, que são os dois cereais mais importantes da nossa base alimentar. Isto para não falar dos produtos hortícolas, uma vez que importamos de Espanha cerca de 36,2% do nosso consumo.
Por esse país fora, muitas pessoas, e até mesmo o Estado, têm terrenos com potencial produtivo ao abandono, os quais poderiam ser rentabilizados, mais que não seja como objeto de produção de produtos que servissem de autosustento às comunidades.
Tendo em conta este cenário, é necessário incentivar a utilização dos terrenos, assim como incentivar as pequenas trocas comerciais de produtos agrícolas produzidos em parcelas de terreno relativas.
De que forma podemos promover a utilização dos terrenos e ao mesmo tempo promover a sustentabilidade da produção agrícola nos mesmos?
1)     Estimular a comercialização de terrenos, criando uma bolsa de terras e todo o enquadramento legal necessário ao seu eficaz funcionamento, na qual Estado e particulares pudessem comercializar os seus terrenos;
2)     Reduzir os custos administrativos referentes à legalização e registo de terrenos (prédios rústicos);
3)     Promover o investimento em mercados municipais e criar incentivos para pequenos produtores agrícolas, para que estes possam efetivar a comercialização local dos seus produtos, produzidos nos seus terrenos;
4)     Reduzir os custos de contexto para empresas que promovam a produção agrícola e a subsequente utilização de terrenos abandonados ou semiabandonados. 

Através de simples medidas de estímulo à produção agrícola, assim como a utilização de terrenos abandonados ou semiabandonados, poder-se-ia aproveitar um dos grandes ativos do nosso país, a terra, e contribuir para a redução da dependência externa no que concerne à compra de produtos agrícolas.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Buraco na camada do Ozono atinge níveis recorde

Foi hoje divulgada informação referente aos últimos dados sobre a dimensão do buraco na camada do ozono, tendo-se registado um aumento médio de 40 por cento em relação á última bateria de dados.
Portugal está sob ameaça: a concentração de ozono na atmosfera registou os valores mais baixos de sempre, levando a um aumento do buraco de ozono. Observações feitas no hemisfério Norte, sobre o Árctico, por balões meteorológicos, satélites e estações no solo, dão conta de uma perda recorde na camada na ordem dos 40 por cento desde o início do último Inverno até finais de Março.
Será que ainda há alguém a duvidar que é preciso agir localmente, pensando globalmente, contra o aquecimento global?
O anterior valor mais elevado era de 30 por cento. Na origem desta redução está um Inverno rigoroso na estratosfera e a presença contínua de substâncias nocivas para o ozono.
Os especialistas temem que a massa de ar afectada possa ser deslocada, através dos ventos fortes desta altura do ano, para latitudes mais baixas, ou seja, algures a meio caminho entre o Pólo Norte (90ºN) e o Equador (0ºN). Países do Sul da Europa, como Portugal, Espanha, Itália ou Grécia, estarão mais expostos às radiações ultravioleta, que aumentam as probabilidades de contrair cancro na pele e severos problemas respiratórios.
Sem dúvida um sinal de que é preciso dar primazia a todo o tipo de políticas que ambicionem a redução da emissão de Gases de Efeito de Estufa, que visem a produção de energias renováveis como fonte limpa energética. É urgente implementar todo um sistema eficaz e robusto de controlo e mitigação de emissões, que vise incentivar as empresas e governos a utilizarem tecnologias limpas.
É claro que em tempos de crise económica, financeira e social, de incerteza forte, é extremamente complicado convencer os cidadãos acerca da importância global e local da problemática das alterações climáticas, assim como todos os efeitos nefastos adjacentes que daí advêm para a economia, acentuando os custos de recuperação da mesma.
Mas imagine-se os impactos de uma crise ambiental… Já vai tendo alguns indicadores que nos vão dando uma ideia, tal como o avanço dos oceanos, o aumento das temperaturas e os problemas para a saúde pública, agricultura, recursos hídricos e alimentação que daí resultam.
É necessário reforçar os investimentos em energias limpas – e nesta questão poder-se-ia reforçar o papel do BEI (Banco Europeu de Investimento) em todo o processo -, ser mais ambicioso nas metas de produção, e acima de tudo investir nas redes de distribuição e armazenamento, e acima de tudo criar todo um enquadramento fiscal favorável a este tipo de investimentos.
Que fique claro que existem mecanismos e ferramentas para lidar com crises financeiras, económicas e sociais, mas no que concerne a crises ambientais, os efeitos são muito mais nefastos e de carácter irreversível.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Biocombustíveis: A corrida para a fome

Os espectadores que assistiram, no passado mês de Fevereiro, à prova Daytona 500, na Florida, receberam bandeiras verdes para celebrar a notícia de que os carros que participaram na corrida passaram a usar gasolina com 15% de etanol.
Foi o inicio de uma longa campanha de “Marketing” destinada a vender os méritos dos Biocombustíveis aos norte-americanos e ao mundo.
Um contributo para um futuro ainda mais cinzento em termos de crise alimentar, mas já lá vamos.
À superfície, a “autoproclamada” tendência verde da NASCAR (National Association for Stock Auto Racing) é tão-somente um exercício transparente e infortunado de uso do desporto como forma de branqueamento ambiental. Mas a parceria entre um passatempo adorado pelos norte-americanos e o lobby dos biocombustíveis marca a última tentativa para influenciar a opinião pública a favor de uma política verdadeiramente irresponsável e suicida.
Os EUA gastam todos anos cerca de seis mil milhões de dólares (4,23 mil milhões de euros) em apoios federais para ajudar a produção de etanol através de créditos fiscais, tarifas e outros programas. Graças a estes apoios financeiros, um sexto da oferta mundial de milho é queimada, literalmente, em carros norte-americanos. A nível mundial são 20% a 30% da oferta mundial de milho que são queimados nos carros. Só a quantidade de milho queimada nos carros norte-americanos é suficiente para alimentar 350 milhões de pessoas durante um ano inteiro.
Extremamente preocupante!
O apoio do governo ao rápido crescimento da produção de biocombustíveis tem provocado alguma confusão na produção de bens alimentares. De facto, em resultado da política oficial dos EUA e da Europa, na qual se inclui metas de produção agressivas, o biocombustível consumiu, em 2010, mais de 6,5% da produção global de sementes e 8% de todo o óleo vegetal. Em 2004, estas percentagens eram de 2% e praticamente zero, respectivamente.
 Neste momento, cada vez mais sou contra as metas da União Europeia no que toca à introdução de uma quota de 10% para o uso dos biocombustíveis, situação que agravará ainda mais as alterações climáticas, por via da desflorestação, diminuindo a captação de carbono, para promover plantações de milho e outros grãos, sem ser para consumo humano.
Este ano, após uma época de sementeiras particularmente má, os resultados estão à vista. Os preços dos bens alimentares a nível mundial são os mais altos desde que as Nações Unidas iniciaram registos, em 1990, impulsionados, em grande parte, pelo custo do milho. Apesar das recentes medidas para combater a má nutrição, os subsídios governamentais aos biocombustíveis vão levar a que milhões de pessoas tenham dificuldades em conseguir alimentos para sobreviver.
Já estivemos nesta situação. Em 2007 e 2008, o rápido aumento da produção de biocombustíveis provocou uma crise alimentar que incitou a instabilidade política e fomentou a má nutrição. Os países desenvolvidos não aprenderam. Desde 2008, a produção de etanol subiu 33%.
No inicio, os ativistas ambientais consideravam os biocombustíveis uma solução rápida contra o aquecimento global. Começaram a mudar de opinião à medida que diversas investigações concluíram que os biocombustíveis produzidos a partir de cereais alimentares não reduziam significativamente as emissões de gases de efeito de estufa – e, em muitos casos, provocaram a destruição de florestas para que fossem produzidos mais bens alimentares, criando mais emissões de dióxido de carbono do que os combustíveis fósseis.
Alguns ativistas ambientais apoiaram os biocombustíveis na esperança de que estes abrissem caminho ao etanol da próxima geração, feito sem recurso a plantas não alimentares. Isso não aconteceu.
Atualmente, é difícil encontrar um único ambientalista que continue a apoiar esta política. Mesmo o antigo vice-presidente dos EUA e prémio Nobel, Al Gore – que chegou a vangloriar-se de ter dado o apoio decisivo de apoio ao etanol – considerou esta política “um erro”. Al admite, agora, que apoiou esta política porque “tinha um certo apreço pelos produtores de milho do Estado de Iowa” – que, não por coincidência, eram cruciais para a sua campanha eleitoral de 2000.
É reconfortante saber que, perante as evidências, Al Gore mudou de opinião. Mas existe uma lição mais importante. Da esquerda à direita, existe um coro de vozes que contesta o apoio governamental aos biocombustíveis. Mas o problema, tal como Gore afirmou, é que “uma vez implementado um programa deste calibre, torna-se difícil lidar com os lobbies que o tentam manter em vigor”.
Nenhum governo pode parar um comportamento tão rentável. O que pode fazer é definir políticas que maximizem o bem-estar social. Infelizmente, quando se trata de políticas para travar o aquecimento global, proteger o Ambiente ou criar “empregos verdes”, temos tendência para tomar decisões apressadas que não passam o teste.
Os apoios governamentais aos biocombustíveis são apenas exemplos de uma política “verde” de reação imediata e automática que cria oportunidades lucrativas para um grupo de empresas que defende os seus próprios interesses mas que faz muito pouco para ajudar o planeta. Basta olhar para o apoio financeiro dados às empresas de energias renováveis de primeira geração. A Alemanha liderou o Mundo na colocação de painéis solares, financiados com 75 mil milhões de dólares (53,24 mil milhões de euros) de subsídios. O resultado? Uma tecnologia solar ineficiente e pouco competitiva instalada nos telhados de um país bastante nublado, que produz apenas 0,1% da oferta total de energia da Alemanha e que adiou os efeitos do aquecimento global em sete horas em 2100. Nada relevante, e tanto dinheiro esbanjado sem qualquer tipo de análise custo-benefício.
Tendo em conta as apostas financeiras, não é de estranhar que as empresas de energias alternativas e de biocombustíveis estejam a fazer tão forte lobby a favor de uma maior generosidade governamental. Pudera, se forem dispendidos milhares de milhões para investimentos ineficientes, é claro que muito têm a ganhar e abre algumas janelas de oportunidade para um futuro próximo.
Muitas empresas estão mesmo a jogar tudo no campo do “Marketing” para ludibriar a opinião pública, defendendo os supostos benefícios para o meio ambiente, segurança energética e alimentar e até para o emprego, e nenhuma delas resiste a um exame minucioso. Basta ver pelas declarações moldadas de Tom Buis, CEO da Associação Comercial de Etanol Growth Energy, que afirmou que “o negócio com a NASCAR levará o etanol norte-americano até à estratosfera”.
Para mal dos pecados de muitos que se opõe à produção de biocombustíveis, pelo menos um grupo já está rendido: os candidatos presidenciais norte-americanos. No mês passado, no Estado de Iowa, o possível candidato republicano, Newt Gingrich, ridicularizou “os ataques das grandes cidades” aos subsídios à produção de etanol. Já um representante da Administração Obama garantiu que apesar da maior subida dos preços dos alimentos que o mundo já assistiu, “não há razão para tirar o pé do acelerador” no que diz respeito aos biocombustíveis. Uma afirmação que deve ter soado como música nos ouvidos da indústria. Nada mais negligente…
De facto, existem milhões de razões para tirar o pé do acelerador. A humanidade agradece e o planeta suplica.