sexta-feira, 25 de março de 2011

Desfazendo Mitos sobre a Agricultura Biológica

Há algum tempo que me bato pelo fomento da agricultura biológica como garante da sustentabilidade ambiental e da produtividade agrícola associada à rotação de culturas.
Por certo, deveria haver maior disponibilidade, por parte, das empresas e governos, em estimular este tipo de produção, fosse a partir da concessão de apoios, fosse através da disponibilização de terras, ou até mesmo através na aposta no desenvolvimento de microempresas de agricultura biológica e criação de uma bolsa agrícola, na qual estas microempresas pudessem colocar os produtos em sistema de negociação livre.
No entanto nada é feito. Compreende-se, porque antes de fazer algo é necessário desfazer certo tipo de Mitos associados à agricultura biológica.
Começarei por abordar os 3 maiores mitos da actualidade.

1º Mito: A agricultura biológica é apenas a velha agricultura tradicional com um novo nome. É um retrocesso tecnológico e é defendida por quem receia a modernidade.
A agricultura biológica é diferente da agricultura tradicional feita pelos nossos avós. É uma agricultura moderna, nascida no século XX, em paralelo com a agricultura convencional ou industrial.
É verdade que faz uso de antigos métodos da agricultura tradicional, como a compostagem da matéria orgânica e o uso de adubos verdes, mas porque estes métodos foram extensamente estudados e validados cientificamente. Por outro lado, a agricultura biológica apoia e aplica técnicas inovadoras como a mobilização mínima do solo, as armadilhas com feromonas, insectos estéreis e estirpes de bactérias para combater pragas, preparados à base de extractos de plantas e minerais para combater doenças, máquinas agrícolas com baixo impacto ambiental, etc.
Igualar a agricultura biológica a uma recusa da modernidade e da evolução tecnológica é um perfeito disparate, pois ela é extremamente moderna e em muitos casos está na linha da frente no que diz respeito à evolução científica e tecnológica.
O que leva certas pessoas a acusarem a agricultura biológica de recear a tecnologia, é o facto da agricultura biológica não abraçar indiscriminadamente todas as novas tecnologias como o faz a agricultura convencional. A tecnologia no seu conjunto não é boa nem má, mas cada tipo de tecnologia em particular tem um certo número de vantagens e desvantagens, que devem ser tidas em consideração na sua avaliação. A agricultura biológica tem critérios que lhe permitem distinguir quais as tecnologias que servem os seus objectivos sem pôr em causa os seus princípios e por isso é selectiva quanto àquelas que adopta, optando por aquelas que se propõem a trabalhar em harmonia com a natureza e de acordo com as suas regras, ou que causem o mínimo de perturbação ou dano à natureza. A agricultura biológica apenas recusa as tecnologias que procuram dominar a natureza em vez de serem seus parceiros, pois estas destroem os equilíbrios dinâmicos da natureza e a médio e longo prazo não são sustentáveis.
2º Mito: Os agricultores biológicos não têm como combater as pragas e doenças e por isso ficam de braços cruzados quando as culturas são atacadas, perdendo grande parte das suas culturas.
É verdade que ainda existem muitas lacunas no conhecimento da protecção de certas culturas, que por vezes tornam difícil o combate a certas doenças e pragas só com recurso a métodos de luta biológicos. No entanto, isto também se verifica na agricultura convencional.
A agricultura biológica tem um vasto manancial de técnicas de prevenção e de tratamento, que permitem que as perdas por doenças e pragas não sejam muito diferentes das da agricultura convencional. Além disso, a agricultura biológica não está parada no tempo, está em permanente desenvolvimento e evolução, tal como a agricultura convencional. Por isso, tal como surgem todos os dias novos pesticidas para a agricultura convencional, também todos os dias surgem novos avanços científicos nos métodos biológicos de protecção das culturas. Infelizmente, o investimento por parte de estados e empresas na investigação dos métodos biológicos é muito pequeno quando comparado com o investimento na investigação de produtos químicos para a agricultura convencional, pelo que é normal que existam menos conhecimentos sobre protecção de culturas no campo da agricultura biológica. Se houver maior investimento, muito mais poderá ser descoberto e desenvolvido.


3º Mito: Como não usa pesticidas, os produtos da agricultura biológica estão contaminados por bactérias e fungos perigosos para a saúde humana.
De vez em quando surgem alertas de que os produtos biológicos poderão ser perigosos para a saúde humana. Os produtos biológicos já foram “acusados” de possuírem níveis elevados de nitratos, de metais pesados, de bactérias patogénicas e de micotoxinas (toxinas produzidas por fungos). No entanto, os estudos são inconclusivos, porque se uns apontam para uma maior concentração destes factores nos produtos biológicos, outros não encontram diferenças relativamente aos produtos convencionais e outros apontam precisamente para o contrário, que os produtos convencionais possuem esses factores perigosos em níveis mais elevados.
Até que a situação seja definitivamente clarificada, resta usar o nosso bom-senso.
Por exemplo, relativamente às micotoxinas: os detractores da agricultura biológica teorizam que por esta não usar fungicidas, propicia o desenvolvimento de fungos tóxicos nas culturas; já os seus defensores teorizam que, pelo facto da agricultura biológica fazer rotação de culturas e outras medidas que actuam preventivamente no aparecimento destas doenças, estas não chegam sequer a ser um problema como o são na agricultura convenvional.
Relativamente às bactérias: os detractores da agricultura biológica teorizam que os produtos biológicos estão mais sujeitos à contaminação, por não receberem tratamentos químicos que as destruam e por se utilizarem estrumes na adubação das culturas; por outro lado, os seus defensores argumentam que os estrumes são compostados por vários meses, antes de serem aplicados nas culturas, processo que destrói as bactérias patogénicas e que o facto de não se usarem produtos químicos, garante o equilíbrio ecológico dos microrganismos, não permitindo a proliferação dos microrganismos patogénicos para o ser humano.
Contra-argumentação e raciocínios semelhantes podem ser feitos relativamente às outras questões levantadas.
Considerando ainda que os produtos industrializados:
- possuem cada vez menor riqueza nutricional e menor teor de factores protectores contra doenças, enfraquecendo-nos o organismo (ao contrário dos biológicos, que comprovadamente têm maior capacidade de proteger a nossa saúde);
- estão contaminados por pesticidas, hormonas, antibióticos e doenças graves transmissíveis ao homem (considerando também a pecuária), que estão entre os factores responsáveis pelo aumento exponencial de cancros e outras enfermidades mortais no ser humano (e que nenhum destes produtos tóxicos é usado na agricultura e pecuária biológicas);
- produzem grande poluição ambiental que acaba sempre por nos afectar, através do ar e da água que entra no nosso organismo (ao contrário da agricultura biológica, que contribui para uma melhoria significativa do meio ambiente).


Porque será que os defensores dos alimentos convencionais industrializados os classificam como seguros e acusam os produtos biológicos de serem uma ameaça mortal? Parece óbvio que esses alertas não são motivados por genuína preocupação com a saúde dos consumidores, mas por outro tipo de interesses.

terça-feira, 22 de março de 2011

Dia Mundial da Água

As Nações Unidas pediram, na semana passada, aos governos que reconhecessem a crise da água em áreas urbanas como um problema de governo, políticas fracas e de má gestão e, não de escassez.
Numa mensagem para marcar o Dia Mundial da Água, que se comemora hoje dia 22 de Março, o Secretário-geral da ONU observou que, em pouco mais de uma geração, 60% da população vive em cidades, o que representa um desafio para o fornecimento deste líquido vital.
Ban Ki-moon lembrou que 800 milhões de pessoas ainda não têm acesso a água potável e saneamento. Por isso, pediu à comunidade internacional para acabar com este flagelo que põe em causa a dignidade e boa saúde dessas pessoas.
Ban Ki-moon lembrou que em muitos países, as meninas abandonam a escola devido à falta de instalações sanitárias.
Além disso, muitas mulheres são perseguidas ou abusadas nas longas caminhadas que fazem para irem buscar água ou irem a uma casa-de-banho pública, acrescentou o chefe da ONU.

A água e o território: respondendo ao desafio global da gestão urbana dos recursos hídricos

Terça-feira, 22 de Março de 2011, Dia Mundial da Água. Será um dia para festejar ou um dia para reflectir sobre a encruzilhada, na qual nos encontramos, ao nível da gestão da água? A segunda opção é a correcta, é um dia de reflexão e de procura de soluções globais para o problema da água.
Nesse sentido abordarei cinco problemáticas – chave, relacionadas com a gestão urbana de água, nas quais vale a pena pensar.

Conflitos pela água urbana: uma análise das origens e da natureza dos distúrbios relacionados com a água e os conflitos no contexto urbano
Existem uma série de conflitos urbanos relacionados com a água e a gestão da mesma. É certo que por vezes o modelo de gestão deste recurso não é o mais correcto, não é o mais ético, e acima de tudo não é o mais socialmente justo, uma vez que trata da gestão de um recurso público, que é de todos. Em diversas zonas do Globo Terrestre ainda não existem as mínimas condições de abastecimento de água, dada ou a escassez deste recurso ou então a inacção política neste sentido.
Por vezes a marca que assinala o falhanço político, na governação de um qualquer território, é facto de não ser salvaguardada a mais básica necessidade do ser humano enquanto ser vivo, parte de um ecossistema maior, que é o planeta Terra.
Grande parte dos distúrbios e conflitos mais inflamados no contexto urbano têm por base a sua relação com a afectação da água urbana, contrapartidas e disponibilidade.
A má gestão da água em processos nos quais não é promovida a rentabilização da mesma, é de todo um mal que pode potenciar determinado tipo de decisões que afectarão os mais vulneráveis. Imagine-se a seguinte situação, numa zona com uma determinada disponibilidade de água, na qual existe uma má gestão dos consumos por parte do sector público e do sector empresarial, chega-se à conclusão que não existe disponibilidade suficiente de água para o abastecimento urbano, é de todo o caminho mais fácil promover medidas de correcção tarifária, ou até medidas de gestão de fluxo, que possibilitem a gestão da disponibilidade de água. No entanto o mais inteligente seria intervir a montante, promovendo a racionalização, ou promovendo investimentos que visassem atingir uma maior disponibilidade de água, assim como a sua boa gestão, e uma harmonização tarifária que introduzisse justiça no sistema de consumo, penalizando os abusos e beneficiando as boas práticas.
Outra situação, a qual ainda é de todo inadmissível em países como Portugal, é que hajam aldeias que ainda não têm redes de abastecimento de águas e saneamento de águas residuais, em pleno século XXI, quando o montante a investir para cobrir o restante território nacional, que actualmente não dispõe destes serviços básicos de vida e cidadania, é qualquer coisa como cerca de 112 milhões de euros. A título de exemplo, há aldeias no município de Faro que ainda não têm nada disto, que vivem à conta de água que armazenam da chuva, que vão buscar a fontenários a dezenas de quilómetros de distância, etc. É um investimento de 15 milhões de euros neste, que vai servir cerca de 7000 pessoas, e que a autarquia já lançou a concurso público. Antes tarde que nunca, mas nunca se esqueçam de posteriormente promover as boas práticas de gestão deste recurso.
Explorando a génese dos conflitos urbanos por água, os factores causais mais importantes são:
·         Qualidade/ extensão dos serviços de água potável e sua continuidade
·         Qualidade/ extensão das redes de saneamento básico
·         Problemas urbanos de gestão e controlo das águas pluviais
·         Impacto das grandes cidades sobre o Ambiente, em especial o uso dos recursos hídricos e o uso indevido
·         Financiamento dos investimentos em questão, nomeadamente na captação, tratamento, distribuição e saneamento de águas
·         Fixação de tarifários e sistemas de recuperação de custos
·         Liberalização do mercado de abastecimento de água, a liberdade de escolhas deixada aos moradores urbanos e a problemática associada.
Muito resumidamente foram abordadas as origens de conflitos urbanos pela água, assim como foram dados exemplos de ineficiência hídrica e de falhanço político no que toca a garantir a disponibilidade deste recurso.


Cidades versus agricultura: revisitando as transferências de água intersectorial, os ganhos potenciais e conflitos
 Promover um melhor uso da água que temos à disposição, em vez de aumentar e diversificar a quantidade fornecida, é proposto por muitos como uma forma de racionalizar o uso da água, como forma de evitar problemas de escassez severa de água.
Desafectar o uso das quantidades excessivas de água na prática agrícola, para uso mais economicamente eficiente, é o mais desejável. Mas esta ideia realmente promoverá o pretendido? Talvez, se houver um maior enfoque em promover o uso racional de água na agricultura, uma boa gestão de recursos hídricos na prática agrícola, assim como métodos de cultivo eficientes. Como resultado teríamos a tal desafectação de água em excesso para outros usos mais eficientes, todavia haveria que garantir a eficiências dos mesmos, como por exemplo o uso industrial ou os serviços públicos de abastecimento.
A má alocação, afectação e racionalização da água, deriva na maioria dos casos em “stress de alocação hídrica”, identificado frequentemente como resultado de quatro diferentes observações:
·         A agricultura recebe a maior parte de todos os recursos de água desviada, sem promover rotinas de sustentabilidade no seu uso
·         A agricultura é uma actividade que incorre, de longe, no maior desperdício
·         As cidades, vilas e aldeias têm pouca disponibilidade de água
·         A eficiência na utilização dos recursos hídricos em sectores produtivos não agrícolas é muito maior que na agricultura.
Com isto não quero dizer que a agricultura é “má”, antes pelo contrário, e todos sabem como a defendo com todas as minhas forças, mas também defendo que a mesma se deve tornar mais sustentável e racional da utilização dos recursos hídricos. Porque está mais que provado que com um uso de menos 37% da água na agricultura podemos produzir o mesmo, ou seja, é tudo uma questão de eficiência e esta tem que ser promovida, caso contrário poderemos incorrer em stress hídrico relacionado com a deficiente alocação de água.


Conflitos periférico – urbanos pela obtenção de água
À medida que as cidades vão crescendo e se vão expandindo, o principal desafio é garantir o abastecimento de água às populações e a eliminação da poluição, minimizando os impactos sobre as populações periférico – urbanas e sobre o meio ambiente.
As pressões de crescimento urbano combinado com o vazio institucional e político associado à gestão dos recursos naturais em áreas periférico – urbanas, em última análise muitas vezes levam a competição, contestação e conflitos por causa da água.
Nestes casos é necessário reunir todas as partes interessadas, para ajudar a encontrar melhores soluções para os problemas de infra – estruturas nas zonas periférico – urbanas, mostrando como a pesquisa conjunta pode fornecer informação, ferramentas e abordagens para facilitar estes processos.


As problemáticas do abastecimento e saneamento, e de que forma é que a sua ausência ou deficiência se podem converter em Catástrofes Humanitárias
Num mundo em que as restrições financeiras e de acesso ao financiamento são cada vez mais visíveis, é necessário não descurar nunca o investimento em infra – estruturas de abastecimento de água e saneamento, que na óptica da saúde pública deveriam ser prioridades fulcrais.
O simples facto de não estarem estabelecidas as mínimas condições de higiene pública, de escoamento sustentável de águas residuais, a qualidade da água distribuída através da rede pública, pode derivar na ocorrência de doenças e infestações, que por sua vez podem levar ao aparecimento de epidemias. Por si só, este efeito seria gerador de uma catástrofe humanitária, com todo o stress social e político inerentes, podendo dar lugar a motins e intervenções militares.
Daí que é muito importante garantir a condição “WatSat” (em inglês Water & Sanitation), água e saneamento básico.


Gerir a água no presente, pensando no futuro
Com a influência do Aquecimento Global, com o limiar das 350 partes por milhão de GEE na atmosfera quebrado, na casa das 600 partes por milhão, e a influência do aumento demográfico, que em 2050 fará com que sejamos 9 mil milhões de pessoas em todo o mundo, dá uma média de 33 nascimentos p/ minuto, 48 mil p/ dia, sobre a disponibilidade de recursos hídricos, a nível mundial, é pertinente gerir a disponibilidade actual de água, assim como as reservas aquíferas, de forma sustentável e economicamente coerente de forma a garantir a disponibilidade deste recurso no futuro.
Por certo, os métodos de racionalização na distribuição de água, métodos de tratamento e reutilização de águas residuais tratadas, métodos de captação, tratamento e utilização de águas pluviais e cinzentas, métodos de captação e armazenamento sustentáveis serão um caminho sólido que poderá ser a chave para garantir um nível aceitável de disponibilidade no futuro. Contudo é de extrema necessidade promovê-los e salvaguardar todas as garantias necessárias.
Outro dos segredos para a obtenção de garantias que salvaguardem a disponibilidade de reservas de água consistentes no futuro, que extravasa a panóplia de técnicas, métodos e ferramentas ao dispor, é a formação e sensibilização dos cidadãos para hábitos de consumo sustentáveis, conscientes e assertivos, com o objectivo de garantir o cumprimento das metas de sustentabilidade de consumo de água, definidas pela ONU, que é qualquer coisa como 30-40 litros por pessoa por dia.

Ficaram, então, aqui transcritas cinco preocupações relativas ao recurso “ÁGUA”, para o Presente e para o Futuro, nas quais convém pensar, analisar, debater e formular soluções diversas com o mesmo objectivo em mente - “a disponibilidade de água em todo o lado e para todos, gerida de uma forma sustentável” -, para que a missão da preservação dos recursos hídricos seja bem sucedida.

terça-feira, 15 de março de 2011

Energia Nuclear: os efeitos nefastos de uma energia mais barata

Os recentes acontecimentos, trágicos por sinal, que ocorreram no Japão, mais concretamente na central de Fukushima, vieram reacender o debate sobre a relação entre os perigos e a rentabilidade das centrais nucleares, tendo já levado ao cancelamento da extensão do programa nuclear alemão e à fixação da moratória relativa ao período de vida das centrais nucleares, nos 14 anos.
Ao todo, existem 507 centrais nucleares por todo o Mundo, 442 em funcionamento e 65 em construção, segundo dados da Sociedade Europeia de Energia Nuclear e da Agência Internacional de Energia Atómica. Só na Europa existem 164 plantas em funcionamento c/ 1674170 MW de potência instalada, mais 8 em construção c/ um total de 789000 MW de potência instalada prevista, só na Eslováquia estão em construção 2 centrais c/ 391 MW de potência instalada cada. A França é o grande “player” europeu com 58 centrais em funcionamento, mais 1 em construção. Em termos mundiais são os EUA, com 104 plantas em funcionamento c/ 100747 MW de potência instalada mais 1 em construção com 1165 MW, os grandes “players” mundiais, seguidos da França, em 2º, e do Japão, em 3º, com 54 plantas em funcionamento c/ 46823 MW de potência instalada mais 2 em construção com 1325 MW cada.
É um facto que a energia concebida a partir de fontes nucleares ainda é a fonte de energia mais económica, em comparação com a energia obtida a partir de fontes hídricas, fontes termoelétricas, co-geração e até mesmo a partir de fontes renováveis.
Mas no que concerne às questões de segurança e ambientais, a opção pela nuclear é um enorme risco, veja-se o caso do desastre de Fukushima, que após explosões nos reatores, se tem verificado a libertação de resíduos nucleares para a atmosfera, que provavelmente farão com que a tragédia de Chernobil, de 26 de Abril de 1986, seja relegada para segundo plano. As centrais nucleares, por si só, exigem que se efetue uma bateria de testes regulares aos reatores, um sem número de manutenções preventivas, uma enorme série de procedimentos de segurança e um cuidado especial com a gestão e contenção de resíduos. Mas isso fica muito dispendioso, mas é um imperativo de segurança.
Conclusão, todos estes procedimentos em conjugação com os riscos associados, fazem com que o facto da rentabilidade energética ao nível da produção deste tipo de centrais passe a ser secundária, quando comparada com os danos causados por uma fuga de material radioativo.
Agora mais do que nunca a questão da aposta na energia nuclear está em cima da mesa das conversações sobre política internacional, mas pelas piores razões, o que só vem dar razão a todos aqueles que defendem um aumento da aposta nas energias limpas.
Ainda recentemente, a UE baixou a sua meta para a produção de energia a partir de fontes renováveis, de 20% para 14%. Uma das razões prendeu-se com questões orçamentais. Não é uma justificação plausível, uma vez que o objetivo é não só tornarmo-nos menos dependentes do petróleo, que é a grande fonte da energia termoelétrica, assim como fazer uma gestão do risco de catástrofes adequada. E é neste campo que entra o cenário de um desastre nuclear, que, imagine-se, iria custar três vezes mais à UE do que reforçar a aposta nas energias renováveis ultrapassando os 20% até uns ambiciosos 31%.
Vale a pena pensar nisto e fazer as opções ao nível de política energética corretas, promovendo a sustentabilidade e a segurança.
O preço da inação será o prevalecer da reação. Com a questão da energia nuclear em cima da mesa, uma vez que é um tema quente neste momento, vão ser tomadas várias decisões, para acrescentar às que já estão a ser tomadas, no sentido de cancelar determinados programas de construção de centrais nucleares e bloqueio das moratórias atuais, no que se refere ao prazo de vida das atuais centrais. Se não se reforçar a aposta nas renováveis, agindo por antecipação, o que vai acontecer é o reforço da produção de energia a partir da queima de petróleo e de carvão, para compensar a balança entre pedidos e fornecimento, gerando ainda mais pressão sobre o preço do “ouro negro” e despromovendo a verdadeira redução de dependência pretendida.
Hoje mais do que nunca, e porque foi necessária uma tragédia que desencadeou os problemas na central de Fukushima, para se perceber que afinal de contas a energia nuclear não é de todo a solução, antes pelo contrário, e que as renováveis têm que voltar a situar-se como a máxima e primordial prioridade ao nível da política energética.
Muitos dizem que a cadeia de abastecimento da indústria das renováveis não tem escala, pois crie-se escala, dêem-se incentivos fiscais ao investimento nas renováveis, criem-se condições no campo do armazenamento e transporte de energia, estimule-se a prevalência da energia eólica e da solar, através de medidas de estímulo fiscal e de redução de custos de contexto.
Mas acima de tudo, coloque-se as questões de política e segurança energética outra vez na agenda política, assim como a promoção da eficiência energética. Reduz-se o risco, ajuda-se o Ambiente e estimula-se a Economia.
No concerne a Portugal, estranho é que Patrick Monteiro de Barros, o empresário que pretende promover a construção de uma central nuclear em Portugal, venha agora reivindicar a construção da mesma em voz alta, sem consciência do risco inerente, e sem consciência da escala que temos. Portugal, no que concerne à energia, tem que apostar na eólica, na solar e nos CDR’s (Combustíveis Derivados de Resíduos), e não em megalomanias que poderão ter efeitos nefastos se algo correr mal, o que diga-se de passagem é sempre provável.




Anexo:
Dados referentes ao nº de centrais nucleares em funcionamento e em construção, assim como a potência instalada.
Fontes: Sociedade Europeia de Energia Nuclear e Agência Internacional de Energia Atómica.

Em funcionamento
Em construção
País
Região
Nº de centrais
em operação
Potência
Instalada
MW
Nº de centrais
em construção
Potência
Instalada
MW
Argentina
South America
2
935
1
692
Armenia
Europe
1
375
-
-
Belgium
Europe
7
5,926
-
-
Brazil
South America
2
1,884
1
1,245
Bulgaria
Europe
2
1,906
2
1,906
Canada
North America
18
12,569
-
-
China Mainland
Asia
13
10,048
27
27,23
Taiwan
Asia
6
4,98
2
2,6
Czech Republic
Europe
6
3,722
-
-
Finland
Europe
4
2,716
1
1,6
France
Europe
58
63,13
1
1,6
Germany
Europe
17
20,49
-
-
Hungary
Europe
4
1,889
-
-
India
India
20
4,391
5
3,564
Iran
Middle East
-
-
1
915
Japan
Asia
54
46,823
2
2,65
Korea, Republic
Asia
21
18,665
5
5,56
Mexico
Central America
2
1,3
-
-
Netherlands
Europe
1
487
-
-
Pakistan
Middle East
2
425
1
300
Romania
Europe
2
1,3
-
-
Russian Federation
Russia
32
22,693
11
9,153
Slovakian Republic
Europe
4
1,792
2
782
Slovenia
Europe
1
666
-
-
South Africa
Africa
2
1,8
-
-
Spain
Europe
8
7,514
-
-
Sweden
Europe
10
9,303
-
-
Switzerland
Europe
5
3,238
-
-
Taiwan
Asia
6
4,98
2
2,6
Ukraine
Europe
15
13,107
2
1,9
United Kingdom
Europe
19
10,137
-
-
USA
North America
104
100,747
1
1,165
Total

442
374,958
65
62,862