domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tumulto no Médio Oriente, preparação para uma nova forma de encarar o Mundo

O que fará o Mundo Árabe e o resto do Mundo se ficarem sem água?
O uso de água no Norte de África e no Médio Oriente é insustentável e a sua escassez poderá dar lugar a mais instabilidade, para além da que já tem sido verificada, com os protestos na Tunísia, a revolta no Egipto, os tumultos na Líbia, e até mesmo o conflito Israelo-Palestiniano – que tem como uma das bases de sustento a luto pelo controlo de determinados aquíferos da zona de Gaza –, a não ser que os governos dessas nações tomem medidas para resolver essa outra crise em eminência de acontecer.
O Médio Oriente enfrentará conflitos ainda mais graves que os atuais, se o seu problema de escassez de água não for tido como crucial.
Pobreza, repressão, décadas de injustiça e uma enorme e galopante taxa de desemprego têm sido citados como os principais motivos das convulsões políticas no Médio Oriente e no Norte de África nas últimas semanas. Mas uma razão menos conhecida para os tumultos no Egipto, Tunísia, Argélia, Iémen, Jordânia, Líbia e até mesmo no Irão tem sido a escalada dos preços dos alimentos, diretamente ligados à crescente crise regional de água, pondo em causa a sobrevivência de populações inteiras.
Os diversos estados que compõem o Mundo Árabe, percorrendo a costa Atlântica de África até ao Iraque, têm algumas das maiores reservas petrolíferas do Mundo, mas isso disfarça o facto de que a maioria ocupa lugares hiper-áridos. Os rios são poucos, a procura de água tem aumentado ao ritmo do aumento da população, as reservas de água no subsolo estão a encolher e quase todas essas nações dependem de alimentos básicos importados que estão a ser negociados a preços record nos mercados internacionais.
Para uma região que espera que a sua população aumente para o dobro, para cerca de 600 milhões de habitantes, ao longo dos próximos 40 anos, e um agravar das altíssimas temperaturas, por via das alterações climáticas, estes problemas estruturais são uma dinamite política e já estão a destabilizar estas nações. Algo atestado pelas ONU, pelo Banco Mundial e por vários estudos independentes.
No futuro, o principal recurso geopolítico no Médio Oriente será a água, em vez do petróleo. A situação é alarmante!
O relatório Blue Peace  que analisa as perspectivas a longo prazo para 7 países, incluindo Turquia, Iraque, Jordânia, os territórios Palestinianos e Israel, conclui que 5 desses países já sofrem enormes graus de escassez estrutural de água, e a quantidade de água extraída de fontes já de si diminuídas, ao longo da região, não poderá continuar por muito mais tempo.
A não ser que exista um grande avanço tecnológico ou uma descoberta milagrosa, o Médio Oriente não escapará a uma séria escassez de água.
Os governantes autocráticos e senhores do petróleo têm sido capazes de controlar o seu povo, subsidiando fortemente das suas necessidades de água, de forma virtual através da compra de água em forma de gelo, importando de países como os EUA ou outros mais.
Mas as relações políticas entre países estão sujeitas a ruturas.
A água é uma parte fundamental do contrato social no Médio Oriente. Entre a comida e combustíveis subsidiados, os governos fornecem água barata, ou até mesmo grátis, para assegurar o consenso popular em torno da governação. Mas quando a concessão destes bens essenciais sofre cortes, geralmente seguem-se episódios de tumultos.
O próprio papel da água na recente inquietação geral tem sido limitado, mas é pouco provável que assim continue. A escassez de água no futuro será muito mais duradoura que no passado, e as técnicas que os governos têm utilizado para responder às perturbações do passado podem não ser suficientes.
O problema só poderá piorar. Os países Árabes dependem dos restantes de países de outras regiões mundiais para a sua segurança alimentar, é por isso que são tão sensíveis a cheias na Austrália e nevões no Canadá, que causam problemas no seu abastecimento de cereais. Como já aconteceu com o Egipto e com a Argélia, os maiores importadores mundiais de cereais…
Em 2008/9, as importações de cereais e outros alimentos, nos países Árabes, custavam 30 mil milhões de dólares. Na sequência, devido ao aumento dos preços das matérias-primas agrícolas, os milhões de desempregados e pobres nos países Árabes ficaram ainda mais expostos às dificuldades, dando origem a motins e combates por comida. O paradoxo das economias dos países Árabes é o seguinte, dependem da alta do preços do petróleo, manipulando os preços, ao mesmo tempo que os preços da energia geram aumentos de preços dos alimentos, tornando a comida cada vez mais cara. Grande paradoxo, não?
A zona mais insegura a nível alimentar e de disponibilidade de água é o Iémen, o país mais pobre do Mundo Árabe, que tem ao dispor menos de 200 metros cúbicos de água por pessoa por ano – bem abaixo do limiar internacional de pobreza, no que à água concerne, que são 1000 metros cúbicos por pessoa por ano – e ainda importa entre 80-90% da sua alimentação.
Segundo Mahmoud Shidiwah, presidente da agência para a proteção da água e do ambiente, 19 entre os 21 principais aquíferos do país não estão a ser repostos e que o governo tem considerado em mover a população de Sana’a, a capital do país, com cerca de 2 milhões de pessoas, que se espera que fique sem água, em estado de seca severa, num prazo de 6 anos. O responsável também admite que a escassez de água tem aumentado as tensões políticas entre grupos. Um grande problema…
Dois conflitos internos já desencadearam e estão em curso no Iémen e a capital tem sido tomada por motins populares. Existe uma ligação óbvia entre os elevados preços dos alimentos e as revoltas [na região]. As secas, as condições de vida da população e a escassez de água são os fatores agravantes. A pressão sobre os recursos naturais está a aumentar exponencialmente, e a pressão sobre os terrenos de cultivo é enorme.
Mas os outros países Árabes não estão muito melhor. A Jordânia prevê que a procura interna de água duplique nos próximos 30 anos, mas no entanto já enfrente uma massiva escassez deste recurso, por causa do crescimento populacional e devido à sua disputa de água de longa data com Israel. Os seus índices de abastecimento água per capita vão cair nos próximos 30 anos, doa atuais 200 metros cúbicos para 91 metros cúbicos, segundo dados do Banco Mundial. Curiosamente, a disputa entre Israel e Palestina também tem um grande foco na luta por recursos hídricos frágeis, por sinal…
Argélia e Tunísia, juntamente com os sete emirados nos Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Iraque e Irão estão em "déficit hídrico" – usam mais água do que aquela que recebem através das chuvas ou de quedas de neve. Apenas a Turquia tem um excedente de água, mas não pretende partilhar. Abu Dhabi, o país que água esbanja em todo o Mundo, já admitiu que ficará sem as suas reservas de água num prazo de 40 anos. A Líbia gastou 20 mil milhões de dólares bombeando água de poços profundos no deserto, mas não tem ideia de quanto tempo vai durar o recurso. A demanda de água na Arábia Saudita aumentou 500% em 25 anos e deve dobrar novamente nos próximos 20 anos.
Os níveis de água no Mar Morto desceram em cerca de 150 pés, 45,72 metros, desde 1960. Os pântanos no Iraque sofreram uma redução de 90%.
Alguns países Árabes exportadores de petróleo já começaram a tentar resolver o problema de escassez de água. Tendo drenado aquíferos subterrâneos para o cultivo inadequado de terras, viraram-se para a aposta na dessalinização de água salgada. Acima de 1500 estações de dessalinização massiva encontram-se distribuídas entre a zona do Golfo e do Mediterrâneo, e fornecem a maior parte da água para consumo no Norte de África e no Médio Oriente – e dois terços do total de água dessalinizada do Mundo.
As estações de dessalinização absorvem água salgada ou salobra, e ao mesmo tempo aquecem-na, vaporizam-na e separar os sais das impurezas, ou passá-los através de filtros. Segundo a WWF – World Wide Fund for Nature, é uma energia cara, intensiva e emissora de gases de efeito de estufa, para obter água fresca. Mas os custos estão a cair e a indústria está a crescer, e acima de tudo pode-se combater a escassez de água, mesmo tendo em conta o nível de emissões de gases de feito de estufa associados ao processo, o que pode ser resolvido se instalar plataformas de painéis solaras acoplados a essas estações, de forma a alimentá-las com energia limpa, e colocar circuitos colectores de gases dos emissores dessas estações.
De facto é uma solução, mas o problema está ao nível da escassez, e prende-se com facto de a água ser um recurso finito no planeta; outro problema é o da segurança alimentar.

Alguns factos relevantes sobre a Água no Médio Oriente:
25% Aumento esperado da procura de água na zona Sul do Médio Oriente até 2020.
2,9% Crescimento da população do Iémen a cada ano.
14 Quilómetros cúbicos de perdas de água no Mar Morto nos últimos 30 anos (1980 – 2010).
240 Metros cúbicos de consumo anual de água por pessoa por ano em Israel.
75 Metros cúbicos de consumo anual de água por pessoa por ano na Cisjordânia.
0,53 Dólares custo por metro cúbico de água dessalinizada.
120 Estações de dessalinização nos Emiratos Árabes Unidos, Qatar, Bahrain, Arábia Saudita, Kuwait e Irão.

Como expliquei anteriormente, os elevados preços da energia, promovidos pelos países exportadores de petróleo para obterem maiores proventos, causam aumentos dos alimentos, situação que conjugada com escassez de água gera grandes confrontos entre cidadãos e governos.
Afinal o Mundo move-se a “pão” e água, e não a petróleo como muitos advogam.
Os resultados estão à vista nos recentes tumultos no Médio Oriente e Norte de África, em que o desrespeito pelos recursos ambientais naturais, a tirania e autocracia, a especulação petrolífera e a “necessidade” estão a moldar o Mundo. E nós temos que mudar, e mudar é começar por seguir três missivas fundamentais:
·         Tornarmo-nos independentes do petróleo vindo de países instáveis politicamente, e sem respeito pelos direitos humanos, autocratas e desregulados;
·         Gerir melhor o recurso ÁGUA, adotando comportamentos ambientalmente mais sustentáveis;
·         Promover medidas de racionalização alimentar e de balanceamento dos consumos.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ÁGUA: Não a ter faz-nos compreender quão preciosa é… incentivando à sua poupança

Nesta comunicação vou transmitir a experiência de um amigo, em vez de expressar opiniões pessoais ou de propor soluções para os problemas, derivados da crise ambiental, que enfrentamos.
João Matos Pina, que trabalha para o Programa Ambiental das Nações Unidas, é responsável pelo Projeto de Promoção do Uso Eficiente da Água e Gestão de Recursos Hídricos Escassos, esteve recentemente no Uganda (aliás vai lá regularmente), durante um mês a efetuar um levantamento de necessidades de três comunidades e a monitorizar duas bacias hídricas do país; seguidamente foi para Gales durante oito dias.
Quando chegado de Gales, no dia 21 de Fevereiro, para passar uma semana de férias no seu país natal, Portugal, procurou falar comigo para me transmitir o seu ponto de vista, no que toca à disponibilidade de água em ambos os países, Uganda e Gales, fazendo uma comparação entre um país árido e extremamente pobre, como é o caso do Uganda, e um país desenvolvido do primeiro mundo, como é caso de Gales. No entanto ambos têm um problema que é cada vez mais transversal a toda a humanidade, stress hídrico e escassez de água.
Durante um mês no Uganda viveu com cerca de 20 centilitros de água por dia. Em Gales passou por um período de sete dias sem acesso a água canalizada. Um pouco estranho para um Britânico comum, mas tratava-se de Gales onde se tinham enfrentado dez dias de temperaturas de -20ºC. (a Irlanda do Norte tem tido os seus próprios problemas com a falta de água corrente.) As tubagens subterrâneas, no vale onde ele se instalou, tinham congelado pela primeira vez em cerca de 50 anos (fruto de um clima cada vez mais instável, como resultado das alterações climáticas), e teve que colectar água de um vizinho que tinha um tubo vertical ativo a algumas centenas de metros de distância.
As pessoas proferiam o velho cliché: “Viver assim deve ser como viver no terceiro mundo!”. Mas não é assim. Uma caminhada de algumas centenas de metros para recolher a água não é nada, comparando ao que a maioria das pessoas no mundo que vivem sem água canalizada experiencia. Mas ele explicou-me muito sobre como as culturas que se têm desenvolvido em locais com escassez de água.
Aqui ficam algumas das observações da experiência que este meu amigo teve no Uganda e em Gales, em regime de escassez de água, comparativamente:
·         Devemos ser altamente organizados para poder viver com pouca água, ou até mesmo sem água. Dependendo da condição, devemos ser capazes de fazer uma boa gestão da mesma em atividades tais como banhos, consumo para beber, lavagens, cozinhar…
·         Temos que ser fortes. Se percorrer 100 metros para ir buscar água é um esforço, imagine-se fazer dezenas de quilómetros… Quem for mais frágil sucumbirá.
·         Aprendemos o valor da amizade e de comunidade. Pedir água a alguém, é pedir algo importante. Oferecer água é um dom. Mas a desigualdade entre os que têm água e os pobres, nestas zonas, tornou-se gritante.
·         Tornamo-nos mais cuidadosos e deliberativos. Quando cada gota de água se torna num bem preciosíssimo e escasso, não devemos gastar mais que o estritamente necessário.
·         As prioridades são mudadas. Um banho tornou-se um luxo final inatingível e não uma necessidade. Água para beber e comida vêm em primeiro lugar. Aprendeu a lavar os dentes e a barbear-se utilizando somente uma caneca de água. A higiene e o saneamento tornaram-se cruciais. As comunidades aprenderam a apreciar o pouco que tinham. E mesmo quando existe um pouco de água a mais que o habitual, não há lugar a desbaratamento da utilização de água, antes pelo contrário, tentam-se criar reservas.
A humanidade não tem dado o devido valor à água, considerando que por mais que gaste desnecessariamente haverá sempre mais. Nada mais errado! A água é o “Ouro Azul”, da qual dependemos para a nossa condição mais básica como seres humanos – a sobrevivência, sendo cada vez mais escassa (grande parte das nações já estão em situação de stress hídrico ou pior). Por isso cabe-nos dar-lhe um melhor uso.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Alterações Climáticas: Uma ameaça para os cidadãos e para as zonas costeiras e ribeirinhas

Dados relevantes
“Fator humano” é o título da capa da revista Nature, e põe o dedo na ferida com uma fotografia de casas inundadas pelas chuvas. Dois estudos publicados na edição desta quinta-feira da revista relacionam pela primeira vez o aumento de precipitação que está a acontecer na Terra com as alterações climáticas derivadas da actividade humana.
Um estudo de uma equipa do Canadá analisou a precipitação de chuva e queda de neve diárias em 6000 estações meteorológicas entre 1951 e 1999 no hemisfério Norte. “O nosso estudo mostra que os fenómenos de [precipitação mais forte] aumentaram em magnitude, o que quer dizer que fenómenos raros estão a tornar-se menos raros”, explicou Francis Zwiers, um dos autores do primeiro artigo, o investigador pertence à Divisão de Investigação Climatérica do instituto Environment Canada, no Ontário.

Existem padrões característicos de aumento ou diminuição [destes fenómenos], como por exemplo o fenómeno do El niño. Mas não foram estes tipos de padrões que a equipa encontrou. Segundo os autores a variabilidade intrínseca do clima não explica estas variações.
Os indícios levam-nos em outra direcção, a um fenómeno que esta a influenciar as precipitações a uma escala global, e a única coisa que me lembro é a mudança da composição da atmosfera.
Um dos impactos diretos do aumento da temperatura do mundo, causados pelos gases de efeito de estufa, é a capacidade de a atmosfera reter mais água. Esta investigação é a primeira “identificação formal” da ligação entre os fenómenos das alterações climáticas e a precipitação. O estudo mostra também que os modelos que existem estão a subestimar os verdadeiros efeitos do aumento de temperatura.
Zonas Costeiras e zonas ribeirinhas em risco
Têm-se vindo a registar eventos climatéricos extremos, um pouco por todas as partes do Mundo, pondo em causa colheitas agrícolas, bens, património e até mesmo vidas humanas.
Hoje, está mais que provado que o Homem tem uma grande interferência ao nível das alterações climáticas, por via do seu crescente contributo para o aumento dos Gases de Efeito de Estufa, presentes na atmosfera, levando a uma maior frequência de tempestades – p. ex. cheias, furacões, ciclones…
Este agravamento sequencial das alterações climáticas está a levar ao degelo cada vez mais acentuado das calotes polares, levando a que se registe um aumento do nível das águas nos oceanos.
O aumento do nível das águas dos oceanos, associado à maior frequência de fenómenos climatéricos extremos, está a pôr em causa as populações costeiras e ribeirinhas.
É certo que ainda existem muitos cépticos, todavia as evidências multiplicam-se e o risco aumenta para as populações das zonas costeiras e ribeirinhas, que se vêm perante uma ameaça se nada for feito ao nível da contenção do agravamento das alterações climáticas, uma vez que várias medidas de ordenamento da orla costeira não resultaram. Há que mudar de hábitos, poluir menos, e acima de tudo promover ações que visem reduzir a presença de CO2 na atmosfera, como por exemplo ações de reflorestação! Há que balancear de forma sustentável a presença de Gases de Efeito de Estufa na Atmosfera! E já!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Portugal continua a depositar demasiados resíduos em aterro

A quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSU) enviados para aterro continua a subir em Portugal. Os números constam de um relatório de balanço sobre a gestão de lixo elaborado pela Comissão Europeia que revela que a parcela de resíduos urbanos depositada em aterros está a descer na União Europeia, indo de encontro ao estabelecido na legislação comunitária, que define a deposição em aterro como uma alternativa a evitar.
Segundo o relatório, a quantidade de RSU depositados em aterro caiu de 62 por cento para 42 por cento no conjunto dos 15 Estados-membros mais antigos, entre 1995 e 2007, e de 87 por cento para 79 por cento, entre os 12 novos integrantes da UE. No entanto, Portugal, Bulgária, Malta, Roménia, Eslováquia e Eslovénia fizeram um percurso inverso à média.
Especificamente, em Portugal, a percentagem de deposição em aterro subiu de pouco mais de 50 por cento para mais de 60 por cento, entre aquelas datas. Dados mais recentes, divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente, revelam que a quantidade de lixo que teve o aterro como destino voltou a subir em 2008 (para os 65,5 por cento), mas voltou a cair para 62 por cento em 2009, devido ao aumento dos valores da reciclagem e da incineração.
O Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território argumenta que o aumento do recurso a aterros «é o resultado directo do abandono da deposição em lixeiras», demonstrando «uma evolução positiva em matéria de gestão de resíduos e não a uma degradação».
Isto porque o intervalo avaliado no relatório de Bruxelas coincide com o período em que foi iniciada uma mudança de paradigma na gestão de resíduos em Portugal. De recordar que, entre 1996 e 2002, foram encerradas mais de três centenas de lixeiras em Portugal, que foram substituídas por 34 aterros sanitários, duas incineradoras e uma rede crescente de recolha e reciclagem de resíduos.
O processo continua em marcha e, até 2012, o Ministério do Ambiente espera que seja possível reduzir em 20 por cento o recurso a aterros, «alcançando-se assim valores mais consentâneos com a média europeia». De acordo com a legislação europeia, os aterros devem ser o último recurso para o lixo urbano e, até 2020, será necessário reciclar 50 por cento dos resíduos urbanos e 70 por cento dos resíduos de construção e demolição.

Esperemos que o Ministério do Ambiente faça o seu trabalho, vamos estar atentos.

Não faz sentido ainda pouco se ter feito em relação a um dos nossos "cancros ambientais": os aterros.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A mais grave crise: Os preços dos alimentos e a escassez de água num cenário de alterações climáticas

Os preços dos alimentos atingiram “níveis perigosos” que podem contribuir para a instabilidade política, empurrando milhões para a pobreza e aumentando o custo das mercearias e outro tipo de alimentos, indica um relatório do Banco Mundial.
O Banco Mundial divulgou, no dia 15.02.2011, Terça-feira, um documento em que afirma que os preços dos produtos alimentares aumentaram cerca de 29% em 2010 e que estão apenas 3% abaixo do máximo de sempre registado em 2008.
O Presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que este aumento atingiu em particular as pessoas no mundo em desenvolvimento, uma vez que gastam mais de metade dos seus rendimentos em alimentação.
Os preços da alimentação são um decisivo e principal desafio enfrentado hoje por muitos dos países em desenvolvimento.
O Banco Mundial estima que o aumento dos preços do milho, trigo e óleo colocaram 44 milhões de pessoas numa situação de pobreza extrema desde o final de Julho.
Zoellick confessou-se preocupado com a possibilidade de alguns países poderem reagir à inflação dos preços dos produtos alimentares com a proibição das exportações ou recorrerem ao controlo de preços, o que só agravaria o problema, entende.
O índice do preço da alimentação, construído pelo Banco Mundial, aumentou 15% apenas entre Outubro e Janeiro.
A subida foi causada pelo comércio volátil de trigo, milho e soja.
E é aqui que começa o problema desencadeado pelas questões ambientais relacionadas com as alterações climáticas e as más opções de política energética, assim como o desregulado crescimento demográfico.
Os futuros do milho duplicaram desde o verão, devido em parte ao aumento da procura por parte dos países em desenvolvimento, designadamente a China, e à crescente indústria de biocombustíveis.
Como podemos percecionar, analisando dados do Banco Mundial, cerca de 52% da produção mundial de milho é já destinada à produção de biocombustíveis, o que a meu ver é uma má opção de política energética, uma vez que o objetivo de 10% de incorporação de biocombustíveis até 2020, delineado pela OCDE e negociado pela Comissão Europeia, tem um impacto reduzido a nível da mitigação da emissão de GEE (gases de efeito de estufa) e um impacto nefasto ao nível do mercado, uma vez que cria pressão sobre o mesmo, reduzindo a disponibilidade para consumo humano e consumo animal associado à exploração pecuária, gerando uma escalada de preços.
Agora imagine-se este quadro, num cenário de escassez desta matéria-prima essencial, fruto da destruição de colheitas em dois dos maiores produtores mundiais, Rússia e Austrália, fruto das catástrofes naturais que recentemente aconteceram nestas duas nações, os incêndios e secas do último Verão na Rússia e as tempestades e cheias na Austrália, recentemente, assim como os incêndios de Verão. Ambas as ocorrências são de lamentar, mas não deixam de ser anormais e alarmantes, uma vez que são fruto de desregulações atmosféricas que advêm das alterações climáticas provocadas pelo aquecimento global como resultado do aumento da presença de GEE na atmosfera, cerca de 460 ppm (partes por milhão), quando o aceitável seria 350 ppm. Sem dúvida preocupante, pondo em causa as colheitas anuais de milho.
Mas as questões relacionadas com o milho são só um exemplo, uma vez que devido às enormes secas na China, maior produtor mundial de trigo e o quarto maior produtor mundial de soja (com 15% da quota mundial) – logo a seguir aos EUA (32%), Brasil (28%) e Argentina (21%) -, têm sido destruídas várias colheitas destes cereais, o que é grave e sem dúvida causa muita pressão sobre o mercado. E ainda há quem defenda que as “Alterações Climáticas como factor determinante associado às desregulações meteorológicas a nível mundial” é uma religião seguida por muitos, pois os resultados estão à vista, não tem nada a ver com religião, tem a ver com a Natureza, e é aí que estamos a pecar como humanidade, na negação das causas dos problemas, cegando-nos na procura de soluções.
No caso dos aumentos de preços dos alimentos, associados à escassez de cereais, os países industrializados, como os EUA, estão protegidos destes aumentos, pelo menos para já, porque aí a matéria-prima representa uma pequena parte dos custos totais dos produtos alimentares.
Mas em muitos dos países em desenvolvimento, a variação dos preços é transmitida de forma mais drástica. Assim, entre Junho e Dezembro, o preço do trigo aumentou 54% no Quirguistão, 45% no Bangladesh e 16% no Paquistão, por exemplo.
Sem dúvida evidências fortíssimas de que o Aquecimento Global está a baralhar as estações do ano, pelo menos como nos habituamos a conhecê-las, criando desregulações nas colheitas agrícolas, reduzindo a disponibilidade de cereais para alimentação humana, com a agravante da produção desmedida de biocombustíveis, no caso do milho, fazendo com que o “Mercado” se encarregue de proceder às correções de preços, imprimindo um ritmo de escalada dos mesmos, uma vez que a procura de está cada vez mais a distanciar-se da oferta – resultado de um aumento demográfico, da alteração dos hábitos das populações das economias emergentes e, em primeira instância, da redução da oferta.

Sem dúvida um enorme problema de Segurança Alimentar provocado por um problema de carácter ambiental, que por si só é um alerta para o facto de poder haver reforços da instabilidade social relacionada com o aumento da pobreza e das necessidades de daí advêm, dando lugar a motins, queda de governos e a um sentimento de revolta geral. Um exemplo são os recentes casos da Tunísia e do Egipto, nos quais se registaram enormes revoluções que resultaram na queda dos governos de ambas as nações, e o epicentro de tudo isso resultou do facto de os cidadãos começarem a ter problemas de alimentação relacionados com a escalada vertiginosa dos preços dos alimentos. Para se ter uma ideia, a Tunísia e o Egipto são os maiores importadores africanos de trigo, importando 100% das suas necessidades, o que por si só gera efeitos nefastos ao nível da oscilação dos preços dos cereais para estas nações.     
Outro bem essencial que tem sido bastante penalizado com o agravar das Alterações Climáticas, é o bem mais essencial de todos, o “Ouro Azul”, a água. Sem água não há vida, e a água é cada vez mais escassa.
A pressão causada pela degradação dos solos e dos lençóis freáticos por via da desregulação climatérica, consequência de secas gravíssimas e de cheias preocupantes, assim como a má gestão humana da água, tem levado a que cada vez exista menor disponibilidade de água potável no planeta. A título de exemplo a zona do delta do Nilo está atualmente com 60% dos níveis de água comparativamente com 2006. Preocupante, não é?
Cada vez morrem mais pessoas na região da África Subsaariana, cerca de 1,3 milhões de cidadãos por ano, desde 2003. 63,8% dessas mortes devem-se à desidratação e insuficiência alimentar, 27% devem-se a doenças resultantes da contaminação da pouca água disponível para essas populações, 9% devem-se a mortes por lepra, SIDA e outras doenças infecciosas e 0,2% devem-se a mortes por canibalismo. É um exemplo que dá que pensar, não acham?
É certo que existem métodos poucos explorados que permitem atenuar este problema da escassez de água, tais como a dessalinização da água dos oceanos, processo que aprecio imenso e no qual Israel é vanguardista, o reaproveitamento de águas residuais tratadas, processo que tenho defendido e que carece de enquadramento legal suficientemente sólido para seja um facto consumado e não uma opção, a Suíça e a Alemanha estão bastante desenvolvidas no que a este processo concerne, assim como sistemas de controlo da distribuição de água e prevenção das perdas de rede. Por certo o grande factor a trabalhar será ao nível comportamental, por via da racionalização do consumo e utilização por parte do Homem.
Todavia, e não obstantes as soluções disponíveis, o que é certo é que as quantidades de água potável, e não só, disponíveis no Planeta estão em franca redução, e a fatia de leão da responsabilidade pelo sucedido é tão-somente das Alterações Climáticas, que por sua vez são da responsabilidade do Homem. Podem apostar que é verdade…
Tantos casos se têm presenciado de secas imensas… outros tantos de dilúvios brutais… Há pessoas que vociferam: “Mas nos dilúvios há muita água, o que é bom porque se repõe uma grande parte da água perdida.” Enganam-se redondamente, porque essa mesma água de que falam não é absorvida pelos lençóis freáticos, pelo que não é disponibilizada para consumo humano por via da captação.
É certo, porém, que o Planeta e a Humanidade enfrentam grandes desafios quer ao nível económico, quer ao nível social, quer ao nível político e geopolítico, mas é certo que o maior problema que a Humanidade pode enfrentar, se não atuar de forma contundente com o objetivo de não agravar o processo de Alterações Climáticas, será a escassez severa de água e alimentos.
Citando a Secretária – executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Christiana Figueres, numa recente intervenção pública perante o Parlamento Espanhol e os líderes militares da NATO: “As secas derivadas das alterações climáticas, a queda das colheitas agrícolas e as competições por água estão a alimentar conflitos em África e noutras partes do mundo em desenvolvimento. A menos que as nações tomem medidas agressivas para reduzir a poluição e as emissões que provocam o aquecimento global, tais conflitos espalhar-se-ão, derrubarão governos e elevarão os gastos militares por todo o Mundo.”
Pessoalmente não poderia estar mais de acordo com a análise feita por Christiana Figueres, assim como com o caminho pela mesma apontado. As Alterações Climáticas derivadas das emissões de Gases de Efeito de Estufa, tais como o CO2 e equivalentes, e a poluição estão a por em causa o Ambiente, e com isso a pôr em risco a Segurança Alimentar do Planeta.
É urgente agir!
Concluindo, e citando novamente Christiana Figueres, na sua recente intervenção:
“Se a comunidade das Nações for totalmente incapaz de estabilizar as Alterações Climáticas, ou nada fizer nesse sentido, irá ameaçar os locais onde podemos viver, onde e como cultivar alimentos e onde podemos encontrar água.”
Por isso cabe a cada um de nós fazer um pouco, dar o nosso pequeno contributo para um todo que é o Planeta, seja poluindo menos, seja ao readaptar os nossos hábitos alimentares, seja ao racionalizar o consumo de água, seja promovendo a eficiência energética e as energias limpas, mas acima de tudo cabe-nos, enquanto cidadãos, pressionar os governos a fazer mais.
Só assim evitaremos a crise do século, que porá em causa as gerações vindouras!

A problemática do Chocolate: Ambiente, Especulação e Crises Políticas

A turbulência política na Costa do Marfim, as dificuldades produtivas resultantes das alterações climáticas e a usurpação de uma grande parte das reservas europeias por um único investidor apontam no sentido ascendente para o preço do cacau. Em 2010, o preço nos mercados internacionais deslizou ligeiramente.
O “Finantial Times” não podia ter explicado melhor: “A indústria do cacau parou numa altura em que deveria ser o período mais intenso de colheita.” Este é o resultado da crise política na Costa do Marfim, onde, apesar das eleições terem nomeado Alassane Ouattara, o presidente cessante, Laurent Gbagbo, não abre mão do poder, argumentando fraude eleitoral. A pressão internacional, que inclui o fechar das portas ao comércio costa-marfinense, passa ao lado de Gbagbo, mas não do mercado de mercadorias. Está em causa o envio de um terço da produção mundial de cacau para as fábricas dos criadores de chocolate.

A gula de Anthony Ward e a influência das alterações climáticas
Em Julho, o “New York Times” contou que existe “um Willy Wonka da vida real”, referindo-se ao excêntrico chocolateiro da história “Charlie e a Fábrica de Chocolate”. Através da sociedade Armajaro, Anthony Ward, um gestor de ativos especializado no mercado das mercadorias, comprou a quase totalidade das reservas de cacau da Europa. Foram 240 mil toneladas da matéria-prima, o equivalente a quase 7% da produção anual do mundo e mais do que a capacidade produtiva dos Camarões, o quinto maior exportador de cacau.
Muitos dos intervenientes na praça de Londres, onde Ward investiu, defenderam que o especulador queria pressionar a cotação do cacau para a subida, vendendo posteriormente com um apetitoso ganho. A associação alemã de comerciantes de cacau chegou a escrever à bolsa londrina a reclamar. Contudo, algumas vozes mais próximas de Anthony Ward dizem que ele está a apostar na quebra da oferta.
E o que tem o Ambiente a ver com tudo isto? Perguntam. Tem muito…
Veja-se, enquanto a procura continua a crescer, em resultado de uma cada vez mais numerosa classe média em todo o mundo, principalmente o mundo emergente, a oferta está a descer: nos últimos dois anos, a produção mundial caiu quase 4%, segundo a Organização Internacional do Cacau. As alterações climáticas colocam as plantações à mercê das pestes e doenças, como a frequente doença fúngica da podridão-parda, e encurtam a vida útil dos cacaueiros. Além disso, as plantações esgotam rapidamente os nutrientes da terra, reduzindo progressivamente a sua produtividade.
Mais uma vez se prova a influência que as alterações climáticas têm sobre um bem tão apreciado e procurado como o cacau, dando lugar a movimentos especulativos e tornando a sua disponibilidade sensível a eventos políticos de crise.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Estratégia de crescimento económico nos BRIC: o seu impacto ambiental

Os BRIC, sigla que denomina o grupo de nações constituído pelo Brasil, pela Rússia, pela Índia e pela China, têm levado a cabo políticas que visam fomentar o crescimento económico quer pela via das exportações quer pela via do consumo interno, sendo este o factor com um grande pendor nesta Estratégia de crescimento.
Todavia, e apesar de ser benéfico para a economia mundial como um todo, é extremamente penoso a nível ambiental seguir este tipo de estratégia, uma vez que se está a colocar uma grande pressão sobre três fatores importantíssimos – Segurança Alimentar e Demografia, Segurança Energética e Aquecimento Global, que passarei a explicar de forma muito sucinta.

Segurança Alimentar e Demografia
Países como China, Índia e Brasil estão em franco crescimento, em grande parte estimulado por um aumento do consumo interno. Cada vez mais cidadãos estão a mudar os seus padrões de consumo uma vez que, cada vez mais cidadãos estão a sair de patamares de pobreza, entrando num nível de classe média. É certo que estes cidadãos vão ter outro tipo de necessidades alimentares, optando por dietas mais ricas em proteína animal, criando um aumento da procura sobre o mercado de produção de gado, assim como sobre o mercado de produção  de cereais.
De que forma esta tendência prejudica ou interfere com o ambiente?
É muito simples, estamos a estrangular a capacidade produtiva da TERRA, e a dar cabo de cada vez mais solos e recursos naturais, interferindo com equilíbrio natural do planeta. Para se ter uma noção, tendo em conta o cenário atual, seriam necessários 1,48 Planetas Terra para satisfazem os nossos padrões de vida anualmente. O que quer dizer que esgotamos a capacidade anual do planeta em Agosto, em 2011, essa capacidade esgotará em Julho.
 Como se exige cada vez mais produção de carnes ou de cereais, a oferta tenta ajustar-se à procura.
Mas daqui surge um problema, que é o facto de muitos solos de produção de cereais estarem em risco de ficarem estéreis, quer por via das consequências da irregularidade das estações, das secas e cheias consequentes, quer por via da contaminação resultante da “revolução verde” – baseada na utilização desenfreada de adubos químicos, pesticidas e herbicidas com o objetivo de aumentar consideravelmente a produção de bens agrícolas.
Tudo isto já está a criar pressão sobre os stocks de cereais e bens agrícolas diversos disponíveis, acrescendo a isto o facto de a produção de gado estar a aumentar por via do aumento da procura desferida pelas economias emergentes que mencionei. E os animais consomem cereais, que tão úteis seriam para os humanos.
Para se ter uma noção, o stock de segurança mundial de cereais, antes da última colheita anual, está definido no equivalente a 4 meses de consumo médio mundial. Pasmem-se ao saber que antes da última colheita de 2010, que foi muito prejudicada pelas cheias australianas, os incêndios na Rússia, as secas na China, entre outros fenómenos, o stock mundial era de cerca de 2 meses. Grave!
Agora imaginem um mundo de 9 mil milhões de pessoas em 2050, e 7 mil milhões já em 2012-2013.
De uma forma muito simplista, posso afirmar que representa problemas de uma forma múltipla, tendo em conta que o crescimento demográfico tem o seu grande epicentro nos países emergentes.
Mais população, mais consumo, menos stocks agrícolas disponíveis, mais produção de gado, mais pressão sobre os solos já de si afetados, instabilidade climática, possíveis focos acentuados de escassez de água…
A típica relação de causa – efeito – causa, que terá um grande impacto económico no mercado dos cereais e bens agrícolas, que aliado à especulação dos preços nos mercados, atirará milhões de cidadãos para uma situação de carência alimentar.
Imaginem-se os problemas que daí poderão advir…


Segurança Energética
Aqui está outro problema!
Os problemas associados ao crescimento económico e demográfico, nos países emergentes, prendem-se também com as questões associadas à Energia.
Com um aumento da população, gera-se também um aumento da procura de energia, com cada vez mais cidadãos, em países como China, Índia, Brasil, a adquirirem veículos automóveis, a consumirem mais eletricidade e a consumirem cada vez mais alimentos, que para serem produzidos há que recorrer a máquinas agrícolas, de certa forma, máquinas que consomem bastante combustível.
Conclusão, com um pico da produção de petróleo para breve, no prazo de 5-10 anos, tendo em conta o ritmo atual de consumo, gerar-se-á uma grande pressão sobre o “ouro negro”, o que aliado à especulação dos preços nos mercados, poderá dar lugar a preços altíssimos, colocando o mundo em estado de crise energética.
Mas têm sido desenvolvidas alternativas, tais como as energias renováveis – eólica, solar, hídrica, marés… - que de certa forma poderão equilibrar os pratos da balança da segurança energética mundial.
Outra via tem sido a produção de Biocombustíveis, como substituição aos combustíveis fósseis, para fazer movimentar os veículos. É uma alternativa válida, mas o que é certo é que cria muitos constrangimentos ao nível da disponibilidade de cereais, contribuindo para o acentuar da especulação do mercado. E como todos sabem, na minha opinião, os cereais devem ir para o supermercado e não para o mercado. Passo a expressão.
Mas sem divergir do essencial, as questões associadas aos modelos de crescimento económico dos países emergentes, têm muito relevo no campo da Energia. A título de exemplo, a China, que em 2011 será já o maior poluidor mundial em termos de emissões de Gases de Efeito de Estufa, fruto da utilização desmesurada de petróleo na sua indústria, é um país que tem baseado o seu crescimento industrial na utilização intensiva do petróleo, quer para produção de eletricidade, quer para alimentar as caldeiras das suas fábricas, quer para uso particular. No Brasil, Índia e Rússia idem. Para se ter uma noção, 31% do consumo mundial de petróleo advém destes 4 países, e estima-se que aumente 75% até finais de 2012. Ou seja, serão responsáveis por cerca de 54% do consumo mundial de petróleo. Preocupante, não? Sim, para a humanidade e para o Ambiente.

Aquecimento Global
Este talvez o problema do século, que é o resultado de todas as práticas e comportamentos anteriormente relatados.
Com o aumento do consumo e utilização de petróleo, com o aumento do consumo de combustíveis e eletricidade, com o aumento da produção de gado para consumo e com cada vez mais humanos a desenvolverem a sua atividade normal é natural (embora seja uma anormalidade) que o nível de emissões de Gases com Efeito de Estufa aumente.
Par se ter uma noção, a ONU defendeu que o nível aceitável de CO2 e equivalentes, na atmosfera, seriam 350 ppm (partes por milhão), no entanto os nível atuais são de 460 ppm, sendo que em 1998 eram de 327 ppm.
Para terem uma ideia, se a tendência se verificar e nada for feito para reduzir as emissões de CO2 e equivalentes, ou até para mudar o paradigma de desenvolvimento económico, em 2090 teremos um nível de 600 ppm e um consequente aumento das temperaturas na ordem dos 6 a 8 graus Celsius. Muito grave, uma vez que a desregulação climática tem dado lugar a vários fenómenos, em pouco por esse mundo fora, que chocaram a humanidade. São exemplos as cheias gravíssimas na Austrália seguidas de tempestades intensas, as cheias e aluimentos de terras na zona serrana do Estado do Rio de Janeiro – Brasil, as cheias no Paquistão, as secas na China, o maior produtor mundial de trigo, tendo interferido com várias culturas agrícolas, assim como os incêndios na Rússia e Austrália, que prejudicaram as colheitas de 2010, fruto de temperaturas anormais. Para não falar do aumento do nível dos oceanos, fruto do degelo dos Glaciares…
Existe uma probabilidade de 2%, até menos, de que continuemos a libertar para a atmosfera 1000 toneladas de C02 por segundo, a cada minuto de cada hora de cada dia de cada semana de cada mês de cada ano, e não haja efeitos graves sobre a TERRA. Ou seja, existem 98% de probabilidade que isso aconteça.
É grave, temos que agir, o tempo urge, mas mais vale prevenir que ter de aguentar os impactos ambientais…

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Deixar o Petróleo, antes que ele nos deixe

Os EUA temem que a Arábia Saudita, o maior produtor mundial de petróleo, possa não ter reservas suficientes para prevenir uma escala do preço do petróleo, segundo informações confidenciais da embaixada Americana em Riade, divulgadas pela Wikileaks.
Os telegramas, divulgados pela Wikileaks, alertam Washington para o facto de a Arábia Saudita ter sobre-calculado as suas reservas de petróleo, disponíveis e por explorar, em cerca de 40%, aproximadamente 300 biliões de barris. Questão preocupante, porque indica que afinal existe menos petróleo disponível, e por explorar, que as previsões dos analistas mais ótimistas.
Que estamos perto de um pico na produção global de petróleo não deve ser surpresa para ninguém, questão já que já suscitou alertas dos mais reputados analistas económicos de temas relacionados com Energia, ou até mesmo o Exército alemão, que levou a cabo um estudo no qual alerta para uma crise petrolífera derivada do atingir dos picos de produção.
Para ter uma ideia, a maior empresa petrolífera do mundo, a Saudi Aramco, da Arábia Saudita, é tida como não sendo capaz de aumentar a produção de petróleo, não sendo capaz de atingir o objetivo de produzir 12,5 milhões de barris de petróleo por dia. Os cálculos são efetuados pelo antigo Vice-Presidente para a Exploração Petrolífera da Companhia, Dr. Sadad al-Husseini. Este mesmo responsável acredita que, dentro de 5 a 10 anos, a produção petrolífera atingirá o pico, estabilizando cerca de 8 anos, e decrescendo a partir daí, podendo atingir um patamar alarmante nos 14 anos subsequentes.
PREÇOS MUNDIAIS DO PETRÓLEO: A PROCURA ESTÁ A IGUALAR A OFERTA
Considerando o rápido aumento da procura mundial por petróleo – conduzido pela China, Índia e pelo aumento do consumo interno na Arábia Saudita – pode-se concluir que a procura está a igualar a oferta. A oferta média mundial de petróleo ronda os 85 milhões de barris por dia, a qual tem estado constante nos últimos tempos. O preço base do petróleo, atualmente, descontando a instabilidade geopolítica e a especulação financeira, é de aproximadamente 70-75 USD por barril. Devido aos constrangimentos em aumentar a oferta e ao aumento da procura, que se prevê continuar a crescer a um ritmo superior ao da oferta, estimo que por cada milhão de barris de procura a mais que a oferta, o preço base do petróleo possa aumentar cerca de 12 USD por barril. Mesmo tendo em conta as novas descobertas de petróleo na bacia do Tupi – Brasil, ou até mesmo as descobertas na Venezuela, são insuficientes relativamente ao declínio de produção da maior bacia de petróleo do mundo, Ghawar.
Duvido que a Administração Bush tivesse tido tudo isto em conta, pelas levianas políticas energéticas que levava a cabo…
Mas o mais preocupante é o facto de o consumo interno de petróleo, da Arábia Saudita, fruto do elevado crescimento económico, estar a aumentar sequencialmente, sendo responsável pelo menor saldo exportador deste gigante petrolífero.
Segundo um telegrama, de Outubro de 2009, divulgado pelo Wikileaks, a embaixada Americana, em Riade, constata que existe um aumento da procura por eletricidade na Arábia Saudita, produzida a partir do petróleo – sendo também o método de produção mais poluente -, fruto do elevado crescimento económico e populacional, contribuindo para a redução do saldo exportador. No mesmo telegrama conclui-se que a procura por eletricidade tem uma previsão de crescimento de 10%. Como resultado, este país, o maior produtor mundial de petróleo, necessita de dobrar a sua capacidade de geração para 68GW até 2018.


As exportações, a verde, estão a descer porque a Arábia Saudita está a consumir cada vez mais o seu petróleo, por isso mesmo há menos disponível para os restantes países. E as elações a nível mundial podem ser retiradas comparativamente com a situação decorrente na Arábia Saudita.
Conclusão: Temos que deixar o petróleo, procurar outras alternativas – e já as há -, antes que o petróleo nos deixe.



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Aquecimento Global: A temperatura continua a subir!

Segundo dados recentemente divulgados pelo Goddard Institute for Space Studies, 2010 foi o ano mais quente e com maiores anomalias climatérias, desde que há memória e registo.  Até aqui nada de novo, já os Paleoclimatólogos o tinham constatado!
Mas o facto que é alarmante pretende-se com a subida exponencial das temparaturas e o aumento das anomalias climatéricas.
Anomalias Climatéricas em ºC


Fig. 1 – Evolução das anomalias climatéricas (ºC acima do aceitável)
Analisemos o top 10 dos anos mais quentes e com maiores anomalias climatéricas:
Top 10 dos anos
mais quentes a nível mundial (Jan-Dez)
Anomalia ºC
Anomalia ºF
2010
0,62
1,12
2005
0,62
1,12
1998
0,6
1,08
2003
0,58
1,04
2002
0,58
1,04
2009
0,56
1,01
2006
0,56
1,01
2007
0,55
0,99
2004
0,54
0,97
2001
0,52
0,94


Fig. 2 – Tabela com o top 10 dos anos mais quentes de sempre

Efetuada a devida análise tanto ao gráfico como à tabela apresentada, pode-se concluír que a década passada foi a década mais quente e preocupante, no que toca ao Aquecimento Global, de sempre. 2010 foi o pico deste fenómeno.
As alterações climáticas, que dão origem ao Aquecimento Global, resultam em parte de processos de ajustamento natural do próprio planeta Terra, mas é deveras evidente que o HOMEM está a acelerar em cerca de 1,3 vezes esse processo, para se ter uma ideia por cada 10 anos de ciclo normal de alterações climáticas o HOMEM acelera esse processo em cerca de 3 anos, reduzindo esse ciclo para 7 anos.
Para termos uma noção das consequências das alterações climáticas, basta assistirmos às constantes tempestades a que o Austrália tem estado sujeita, as recentes cheias na zona serrana do Rio de Janeiro, as cheias no Paquistão, assim como a desregulação dos ciclos agrícolas, para não inumerar muitas mais.
As evidências de que o HOMEM teria que mudar de vida, alterar os seus hábitos de consumo, reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, ser mais eficiente a nível energético, fazer uma melhor gestão dos recursos naturais e promover uma Economia Verde, eram bastantes forte já há mais de uma década. No entanto o  que foi feito? De que forma é que se promoveram melhores hábitos de consumo? De que forma se reduziu a dependência dos combustíveis fósseis? De que forma se promoveu e investiu na verdadeira eficiência energética? Como é que não fomos capazes de gerir de forma mais racional os nossos recursos naturais? Porque é que só há bem pouco tempo se pensou em fazer investimentos na Economia Verde?
A resposta é simples: Porque não houve vontade política suficiente e porque o lobbie da indústria petrolífera e do carvão prevaleceu aos mais supremos interesses da Humanidade.
Pois agora é a hora de intervir, e intervir mesmo a sério, doa a quem doer, ou corremos o risco de perder a oportunidade e condenarmos o Planeta a uma catástrofe se não agirmos de forma contundente.
Eis algumas linhas orientadoras que, se seguidas ao pormenor e postas em prática de forma efetiva, poderão ajudar a atenuar o efeito do HOMEM sobre o clima:
- Promoção da construção e utilização de veículos mais eficientes;
- Reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, promovendo fontes alternativas de energia, seja através de combustíveis derivados de resíduos, seja através do gás natural, seja através do biogás, seja através da utilização eficiente de hidrogénio ou até mesmo através de combustíveis derivados de refugo florestal (p. ex. casca de eucalipto);
- Promoção da Eficiência Energética;
- Aproveitamento e Gestão Racional dos Recursos Naturais;
- Reforçar os investimentos em Energias Limpas e Renováveis;
- Mudar os paradigmas de consumo, promovendo dietas menos baseadas em carne, uma vez que a produção de gado é responsável por cerca 24% dos Gases de Efeito de Estufa (GEE).
Cabe-nos agora agir e forçar a vontade política para a mudança. O Planeta agradeçe!