terça-feira, 19 de julho de 2011

Pense bem da próxima vez que comprar água engarrafada

Somos constituídos, aproximadamente, por 60% de água.  Precisamos dela para viver. É uma necessidade, tão importante como o ar que respiramos.
Então como é que deixámos que se transformasse numa mercadoria, num negócio de milhões? A água engarrafada é dos negócios mais lucrativos e dos produtos que compramos a um preço exorbitantemente mais caro do que o seu custo de produção. É mais essencial do que o combustível que colocamos nos nossos carros e, numa estação de serviço, consegue ser mais cara do que o mesmo. Mas quando aumentam um e outro, é contra os aumentos de combustíveis que nos manifestamos.
É-nos vendida a ideia de que estamos a ter acesso a água proveniente de uma fonte pura, segura, mais saudável. Quando a água que nos surge na torneira das nossas casas é submetida a controlos de qualidade que lhe conferem essa mesma segurança. Nem sempre assim o foi, e não em todo o país, mas não é onde temos a pior água canalizada em Portugal que se bebe mais água engarrafada.
As empresas de água engarrafada estão sempre à procura de nos dar o que queremos e o que achamos que queremos. Se por acaso pensamos em saciar a nossa sede com meia dúzia de golos, então as garrafas de 20 cl surgem para a nossa comodidade. Se achamos que precisamos de um pouco mais, então aí temos as de 50 cl. Simples, rápido, disponível e descartável. Água em pequenas doses e ao nosso alcance, em qualquer ponto do país e centenas de vezes mais cara do que a água da torneira.
Um litro de água engarrafada pode custar facilmente €1. Mil litros de água canalizada custarão cerca de €0,72 e não é no escalão mais barato.
E então porque o fazemos? Porque é que durante anos o consumo de água engarrafada foi subindo até que, em 2008, três quartos da população portuguesa recorria a esta forma de obter água? Porque a água canalizada do nosso país não tem qualidade? Bom, se em tempos isso pode ter sido verdade, nos dias de hoje e na quase totalidade do território, a água da torneira disponível para as populações tem boa qualidade. Porque o sabor não é tão bom? Quanto a isso, qualquer filtro portátil ou acoplado à torneira torna a água com um sabor igual à maioria das águas engarrafadas, ou mesmo melhor.
Creio que embarcámos neste frenesim de consumo de água engarrafada devido ao marketing que foi feito em torno deste produto, em que modelos, desportistas e atores nos diziam o quão pura e natural aquela água era, dando-nos a noção de ser mais saudável. Isso, associado ao mito urbano da água canalizada municipal ser de pior qualidade, levou a esse incremento exponencial, ao ponto de existirem pessoas que a utilizam inclusive para cozinhar.
Esquecemo-nos ainda, ou simplesmente desconhecemos, que o recipiente do qual bebemos a nossa água engarrafada está longe de ser o adequado. Já foi comprovado que o plástico, do qual são feitas as garrafas de onde bebemos a nossa água engarrafada, liberta para a mesma componentes que a longo prazo podem ter efeitos nocivos sobre a nossa saúde, como por exemplo e em alguns casos o Bisfenol A. Componente perigoso o suficiente para que a União Europeia o tenha proibido na produção de biberões vendidos em espaço comunitário. Libertação essa que é acelerada quando o plástico é exposto ao calor. Mesmo que não exponha a sua garrafa de água ao sol, será que o distribuidor teve o mesmo cuidado antes da garrafa ter ido parar à sua mão?
Para além de perigoso para a saúde, a produção deste plástico todo, responsável pela maior parte dos resíduos urbanos plásticos, assim como a sua distribuição, aumentam em muito o consumo de CO2 no planeta.
O seu sabor é facilmente obtido pela filtração da água de torneira; a sua portabilidade pode ser colmatada com o uso de uma garrafa de metal; o seu consumo não é mais seguro, pelo contrário; o seu custo é centenas de vezes maior do que a água de torneira; e a sua produção e distribuição resulta num grande impacto para o planeta.
Pensando em tudo isto, quer mesmo comprar a próxima garrafa?

Sem comentários:

Enviar um comentário