segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Eucalipto: A sua vantagem ambiental e económica na produção de combustíveis limpos

Como é sabido, o eucalipto é uma espécie não muito grata, no que toca ao seu papel na floresta portuguesa. É conhecida a sua característica endógena de captar água com facilidade, prejudicando populações arbóreas que o circundem, com o impacte ambiental que daí advém, por via da degradação das espécies arbóreas circundantes. Outra característica é a sua facilidade de combustão, sendo um propulsor exímio da propagação de fogos florestais.
No entanto, há bem pouco tempo foi-lhe reconhecido um uso interessante, mais concretamente para as suas cascas - produção de etanol através do aproveitamento do açúcar contido nessas mesmas cascas.
Como muita gente sabe, tenho-me manifestado contra a produção de biocombustíveis, pelo impacto que essa produção tem sobre os stocks de matérias-primas agrícolas, tais como o milho, a cana-de-açúcar, o trigo, a soja, entre outros, assim como pela pegada ecológica associada ao transporte dessas mesmas matérias-primas, a utilização intensiva de energia na produção e a ineficiência ecológica e energética das fábricas produtoras.
No entanto, recentemente foi elaborada uma pesquisa com resultados interessantes, em Piracicaba, Brasil, relacionada com a produção de etanol a partir de casca de eucalipto e com baixo impacto energético e ambiental.
Testes realizados pelo químico Juliano Bragatto demonstram que uma tonelada de cascas de eucalipto gera 200 quilos de açúcares. E eles, por sua vez, permitirão produzir 100 litros de etanol. O número pode multiplicar com o aproveitamento do açúcar existente na estrutura das cascas. Um melhor uso para as cascas, em vez de promover a queima destas para produzir energia elétrica. Sabe-se que a casca fresca, obtida logo após o corte da madeira, possui 20% de açúcares solúveis. Este número cai para metade num período de dois a três dias, pois ocorre a degradação dos açúcares na casca, por isso o ideal seria aproveitar as cascas imediatamente após ser produzido.
O processo de produção de etanol a partir de casca de eucalipto é similar ao processo de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, com muito menor impacte ambiental que a produção de biodiesel a partir de cereais, e com eficácia igual ou superior em termos de produto final – o combustível.
As cascas são submetidas a uma lavagem com água a 80 graus, onde se obtém uma infusão que é posta em contacto com as leveduras. Também é possível moer a casca e realizar a fermentação com o caldo obtido, do mesmo modo que a cana. Também em relação ao processo de aquecimento de água há novidades, a utilização de energia geotérmica para esse fim; quanto ao processo de moagem também já existe tecnologia que permite a utilização de energia renovável para esse efeito.
Enfim, boas notícias ao nível da produção de biocombustíveis, quer ao nível das matérias-primas em causa, quer ao nível do processo produtivo e sua eficiência energética.

Polémica agro-ambiental: Cereais para comer ou para fazer andar os carros?

O Mundo enfrenta uma escalada de preços histórica nos bens alimentares devido à escassez, mas a Comissão Europeia vem falar em aumentar a produção de cereais para produzir Biocombustíveis, reforçando a meta no seu último relatório sobre energias renováveis.
Todos aqueles que costumam seguir as minhas intervenções nesta área têm conhecimento que me tenho manifestado completamente e irredutivelmente contra a utilização desenfreada de cereais para produzir Biocombustíveis. Para conseguirmos, a nível europeu, reduzir a dependência de combustíveis fósseis não necessitamos de basear o atingir dessa meta na produção desenfreada de Biocombustíveis.
A Comissão Europeia tem definido metas ambiciosas no que respeita à utilização de Biocombustíveis, a saber-se a utilização de 5,75% do total do consumo anual até 2010 e 10% até 2010, em cada Estado-membro, através da Diretiva 2003/30/EC, alterada e revogada recentemente pela Diretiva 2009/28/CE do Parlamento Europeu e do Conselho. Faz sentido, o que não faz sentido é basear a produção de Biocombustíveis tão-somente a partir de cereais e similares, assim como não faz sentido manter todo o quadro legal que favoreça e promova essas práticas.
É inadmissível não se procurar formas de produção de Biocombustíveis alternativas, para que não se dependa tanto dos cereais para o efeito. Dou um exemplo de alternativa. Porque não optar por produzir Biocombustíveis através de refugo florestal que contenha sacarose, tipo a casca de eucalipto? Sim é possível, já existe um método definido. No Brasil conseguiram produzir Etanol a partir de casca de eucalipto, caso que relatarei no meu próximo artigo, como forma de fundamentar a minha tese.
Outra questão. E se a Comissão Europeia alocasse a ambição das metas que propõe, no caso dos Biocombustíveis, para a utilização de Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR’s)? Reduzir-se-iam os stocks de resíduos diversos, libertando o ambiente dos mesmos.
O que eu não quero é ver pessoas a morrerem de fome ou a pagarem mais que o devido pelos alimentos, tensões geopolíticas, especulação de mercado no que toca aos produtos agrícolas e, acima de tudo, não quero mesmo assistir à definição de metas ambientais erradas no que toca às formas de redução da dependência dos combustíveis fóssies.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Célula termossolar capta energia da luz e do calor simultaneamente

Célula termossolar, desenvolvido pela Fujitsu, é um componente híbrido de uma célula solar e de um gerador termoelétrico, capaz de gerar energia elétrica tanto a partir da luz do Sol quanto do calor presente no ambiente.
Célula termossolar
A célula híbrida, que consiste num dispositivo único, permite a captura simultânea de energia de duas fontes separadas, o que até agora só era possível combinando sistemas separados, como células solares e materiais termoelétricos.
O dispositivo pode ser o primeiro passo para viabilizar a chamada "colheita de energia", um conceito que tem vindo a ganha espaço entre cientistas e ambientalistas, e que visa converter várias formas de energia disponíveis no meio ambiente em eletricidade.
A célula termossolar é feita de materiais orgânicos, com baixo custo de fabricação e processamento.
Alterando os circuitos elétricos que conectam dois tipos de materiais semicondutores - tipo P e tipo N, referindo-se a positivo e negativo - o dispositivo pode funcionar como uma célula fotovoltaica ou como um gerador termoelétrico.
O segredo do avanço está num novo material orgânico, que é adequado para operar nos dois modos, solar e termoelétrico.
Sensores sem baterias
Segundo a empresa, o material é capaz de gerar eletricidade até mesmo a partir da luz presente num ambiente interno, sem necessidade de exposição direta ao Sol.
Colocar tudo num componente único pode ser importante, por exemplo, no campo médico, em sensores capazes de monitorar a temperatura corporal, a pressão sanguínea, os batimentos cardíacos etc., sem precisar de baterias ou ligações elétricas.
A tecnologia também poderá ser usada no monitorizamento ambiental em áreas remotas, onde seria problemático ir periodicamente para trocar as baterias dos sensores.
A Fujitsu afirma que os seus cientistas vão se concentrar agora no aumento do desempenho da célula termossolar, que deverá estar no mercado por volta de 2015.
Colheita de energia
A colheita de energia é o processo de usar formas de energia disponíveis no meio ambiente, convertendo-as para eletricidade.
Hoje, a eletricidade é fornecida por uma central ou por baterias, o que exige fios para transmitir a eletricidade, a ou substituição constante da bateria ou sua retirada para recarregamento.
Nos anos recentes vem crescendo o interesse em usar a energia do ambiente, presente na forma de luz, vibrações, calor, ondas de rádio etc.
Várias técnicas para aproveitar essas formas de energia têm sido desenvolvidas, permitindo o uso de pequenos aparelhos sem a necessidade de fiação elétrica ou baterias.
A desvantagem é que a eletricidade produzida pelos dispositivos de colheita de energia é ínfima, sendo adequada, no atual estágio de desenvolvimento tecnológico, apenas para equipamentos de baixíssimo consumo de energia.
Daí a importância deste desenvolvimento, uma vez que a integração num único dispositivo da possibilidade de captar simultaneamente várias formas de energia - como luz e calor, ou luz e vibrações - pode gerar quantidades mais práticas de eletricidade.
Ferramentas para a colheita de energia
Há cerca de um ano, cientistas da Universidade de Stanford descobriram um processo diferente para mesclar a conversão térmica com a conversão fotovoltaica.
Mais recentemente, a IBM anunciou que telemóveis sem baterias poderão estar disponíveis dentro de cinco anos.
Outra área com avanços contínuos é a dos nanogeradores, voltados para a conversão das vibrações do ambiente em energia elétrica.

Aproveitar águas residuais, poupar o Ambiente! O Exemplo Israelita.

Em Israel, a reutilização da água tornou-se uma política nacional em 1955, depois das suas principais fontes, o mar da Galileia e dois aquíferos subterrâneos, darem sinais de sobrecarga de exploração e saturação. Com a população a crescer, não havia água suficiente para a agricultura, por isso, uma comunidade agrícola do sul de Israel começou a utilizar águas residuais recicladas para irrigar os seus campos.
Na época, a solução para a escassez de água não foi discutida abertamente. É que a tecnologia de tratamento de água não era bem conhecida e as autoridades temiam que o público rejeitasse a ideia de utilizar água 'suja' para cultivar alimentos.
No virar do século, Israel ainda era o único país a reciclar água residual. E, hoje, quase metade da irrigação do País é proveniente de águas residuais recicladas. Aliás, Israel fez da reciclagem de água parte integrante da vida diária.

Mais de 80 por cento das águas residuais domésticas são recicladas, totalizando 400 milhões de metros cúbicos por ano, de acordo com Ministério do Ambiente de Israel. Esta proporção é quatro vezes maior do que em qualquer outro país, de acordo com a autoridade de água israelita.
As principais cidades possuem sistemas automatizados de irrigação para parques e jardins gota-a-gota, com economia de 50 a 60 por cento da água proveniente dos sistemas de tratamento de efluentes. A água chega a ser reutilizada quatro vezes em diferentes aplicações, devido a técnicas de purificação e reaproveitamento.
Como já defendi anteriormente, seria extremamente pertinente começarmos por ser mais ambiciosos a nível nacional, no que a esta questão concerne, a promoção da utilização de águas residuais tratadas.
Portugal é um país com um know-how interessante ao nível das tecnologias de tratamento de águas residuais, é um país no qual o setor primário é responsável pelo consumo de cerca de 38% do total de água captada anualmente em alta, um país no qual existem inúmeros jardins públicos, no qual existem muitos estádios de futebol e campo de golfe… Se contabilizarmos, de forma aproximada, o total de água, em percentagem da captação anual, utilizada nas atividades de rega agrícola e consumo agro-pecuário, irrigação de jardins públicos e irrigação de estádios de futebol e campos de golfe, podemos concluir, segundo dados disponibilizados pela empresa Águas de Portugal, que estes focos são responsáveis por cerca de 67% do consumo anual de água.
Num cenário de escassez, e tendo em conta a tecnologia e know-how disponíveis, torna-se fundamental copiar o exemplo Israelita e preparar todo o quadro legal e todo o plano político de apoio aos investimentos nas redes de distribuição, assim como no reforço dos investimentos no tratamento das águas residuais.
No que toca ao setor agrícola, com medidas de promoção da utilização de águas residuais tratadas poder-se-ia proporcionar uma poupança no que toca aos custos com água para rega e afins, uma vez que a água tratada tem um custo económico mais baixo que a água potável convencional.
Sendo assim, vale mesmo a pena pensar em copiar Israel. Pelo menos neste campo eles estão certos e no bom caminho. Poupam OURO AZUL, poupam o Ambiente e ainda poupam dinheiro!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Reutilização de águas residuais tratadas longe da meta: um erro crasso!

De acordo com dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), em Portugal produzem-se anualmente 450 milhões de m3/ano de águas residuais, sendo que o objetivo até 2013 passa por reutilizar 10% desse total, ou seja 45 milhões de m3/ano. Mas esse objetivo não está a ser atingido.
Para termos uma ideia, os objetivos nacionais seriam atingidos se fossem reutilizadas todas as águas residuais produzidas no Algarve.
No entanto, a reutilização de águas residuais não é ainda obrigatória em Portugal.
Mas de uma forma geral pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que as entidades gestoras que se encontram a operar estações de tratamento de média e grande dimensão possuem instalações de tratamento que já permitem a reutilização de águas residuais tratadas para usos próprios. Existem ainda poucos casos em Portugal de reutilização de águas residuais tratadas para outros fins.
Como exemplos: as ETAR de Armação de Pêra utilizam esta água tratada para regar campos de golfe, Vale Faro aposta na limpeza das rias e a ETAR da Quinta do Lago rega espaços verdes urbanos. As próprias entidades gestoras têm desenvolvido iniciativas de reutilização de águas residuais, como a Águas do Algarve, Águas do Oeste, Sanest e Simtejo.
Num contexto de escassez de água, de gestão da água potável disponível e de mitigação dos impactes ambientais relacionados com as recepções de águas em alta, torna-se urgente promover a utilização de águas residuais tratadas.
A vantagem para os utilizadores estaria na redução de custos relativamente à água potável convencional, concretamente no que toca ao uso para fins agrícolas e para fins industriais.
O desafio passa por aproximar o cliente final do produtor, é necessário existirem projetos de reutilização para serem concretizados, é preciso ver se há compatibilidade de características entre o produto e o uso que o receptor quer fazer dessa água.
Além disto, será necessário oferecer melhores condições de segurança e preço.
Seria necessário criar o adequado suporte institucional e legal que permita e favoreça a utilização de águas tratadas em moldes técnica, económica e ambientalmente sustentáveis.
Em suma, nos tempos atuais, em que existe escassez de água, em que cada vez mais se sobre-utiliza água para fins agrícolas e industriais, criando escassez no consumidor particular, seria de todo acertado criar todo um enquadramento legal para o fomento da utilização de águas residuais tratadas, criando as ferramentas legais que potenciem o desenvolvimento deste segmento. Ganhava o Ambiente, ganhava o consumidor e ganhava a Economia.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Economia Verde e o Emprego, uma ligação de futuro

O Mundo como o víamos há 20 anos, há 10 anos ou até mesmo há 5 anos, não mais é o mesmo.
Prelúdios que eram dados como infundados são hoje uma certeza.
O Ambiente, visto outrora como uma questão de somenos importância, ou até mesmo como a “cereja no topo do bolo” de qualquer Estratégia de Governação de um país, já não se pode compadecer com os padrões do passado. Os cidadãos já encaram as questões ambientais como algo com o que vão ter que lidar, com problemáticas para as quais vão ter que estar conscientes e sensibilizados, questões para as quais terão que dar o seu contributo no sentido de podermos atingir níveis de sustentabilidade ambiental que remontem ao período entre 1990 e 1995.
Os problemas, ou oportunidades como prefiro designá-los, prendem-se com questões relacionadas com as alterações climáticas como resultado das Emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE), abastecimento e gestão de água, Segurança Energética, Resíduos e Crescimento Demográfico desproporcional.
Porém não tem sido fácil, no campo político e no campo económico, chegar a consensos.
Mas o Ambiente e toda a sua problemática também podem ser uma oportunidade de ouro para refundarmos o nosso modelo económico de crescimento e criação de empregos, atingindo novos modelos de desenvolvimento que tenham como fio condutor o Ambiente e as Alterações Climáticas, de uma forma geral.
Vivemos num país e num Mundo nos quais, ao longo dos anos, não se despenderam os montantes suficientes para investimentos em infra-estruturas de captação de águas com a abrangência devida, não nos provimos suficientemente de centrais de tratamento e reciclagem de águas, não demos o real valor estratégico à gestão, tratamento e valorização energética de resíduos, não nos tornamos muito menos dependentes do petróleo, não controlamos o crescimento demográfico em função dos recursos disponíveis, mas acima de tudo ainda não encaramos o problema das alterações climáticas como algo certo e para o qual somos forçados a agir.
Um entrave a esta necessidade de encarar as alterações climáticas e o Ambiente como prioridades foi sempre o facto de tanto EUA como China nunca terem dado um verdadeiro sinal de vontade política para encarar estas questões. Isso foi verificado com a atitude da administração americana de Bush, entre 2000 e 2008, ter abdicado de cumprir com as premissas do protocolo de Kyoto. A China também não tem assumido a sua quota-parte de responsabilidade, uma vez que se trata de um país em franco crescimento, tanto económico como demográfico, sendo que o facto de seguir à risca o Protocolo de Kyoto interferiria com o seu modelo de crescimento económico. No entanto é o maior poluidor mundial, logo seguida pelos EUA, os quais destronou no segundo trimestre de 2010, assumindo este estatuto denegrido.
Foi á conta de nenhuma das duas potências mundiais ter assumido as devidas responsabilidades, que a Cimeira de Copenhaga falhou no ano passado.
No entanto, a esperança de uma economia verde foi renovada com a entrada de Obama e sua equipa na Casa Branca, com a maioria democrata no Senado, mesmo apesar de o Congresso estar a ter um volte-face político.
Foi visível o comprometimento de vários estados americanos no sentido de se tornarem mais verdes, mais independentes do petróleo, promovendo investimentos nas energias renováveis, em redes de micro geração, em sistemas de armazenamento e transporte, na utilização de carvão limpo, na investigação no campo das alterações climáticas, no aumento das exigências à indústria automóvel para que esta torne os veículos mais eficientes e reforce a produção de veículos híbridos, entre outras.
Entre os vários pontos constantes da estratégia ao nível da sustentabilidade ambiental e segurança energética, figuram linhas de orientação tais como a produção de 20% da energia consumida a partir de fontes renováveis até 2020, sendo visível o esforço ao nível do investimento massivo em parques eólicos; introdução já em 2011 de um milhão de veículos híbridos com consumos médios de 1 litro por 800 Km.
No que toca a esforços significativos, a Califórnia tem estado na linha da frente, tendo à conta disso reduzido a sua elevadíssima taxa de desemprego.
É positivo assistir a esta nova forma de encarar o Ambiente e centrar o crescimento económico nesse factor, por parte de uma potência como os EUA.
Esse pensamento e essa nova perspectiva foram e são fundamentais como exemplo para os restantes países desenvolvidos ou para os países emergentes, a nível global, não obstantes os esforços empreendedores que a Europa tem encetado nesta área.
Portugal tem feito algo neste campo, mas ainda não o suficiente. Como se pode constatar com o exemplo Californiano, o investimento numa economia cada vez mais verde pode tornar-nos menos dependentes do petróleo e fazer com que redefinamos a nossa forma de consumo e produção. É uma questão de canalizar de forma mais racional as verbas que despendemos anualmente em investimentos desnecessários para investimentos na economia verde, que não só daremos o nosso marcado contributo ambiental como também potenciaremos a criação de emprego, por via de um novo modelo de desenvolvimento económico.
É claro que não é de todo fácil, e há forcas contrárias, como se pôde ver no caso dos EUA, em que as corporações petrolíferas e as corporações de produção de carvão levaram a cabo campanhas fortíssimas no sentido de paralisar e bloquear toda a política verde de Obama, colocando pressão sobre os Senadores e Congressistas dos Estados produtores de Carvão e Petróleo para que estes chumbassem qualquer iniciativa legislativa no sentido de promover a independência dos combustíveis fósseis.
Mas é claro que não podemos encarar este género de ameaças como “areia na engrenagem” da procura por uma economia mais verde, menos dependente do petróleo, mais segura a nível energético e acima de tudo mais amiga do Ambiente.
No entanto será sempre no campo político que se travará a derradeira luta por um Ambiente melhor e é nesse campo que compete agir, para não só potenciarmos melhores condições de vida para as gerações vindouras como também promovermos um novo modelo de crescimento económico verde, que ainda está recheado de oportunidades que podem conduzir a reduções significativas das taxas de desemprego globais.
Ganha a economia, e acima de tudo ganha o Emprego.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Biocombustíveis: Os fins justificam os meios?

Desde 1994 até 2010, a produção de Biocombustíveis cresceu cerca de 700%, tendo o Biodiesel tido um aumento de produção de mais de 100 vezes comparativamente com 1994, e o Etanol cerca de 5 vezes mais.
A aposta no aumento da produção de Biocombustíveis resultou das opções políticas, na sequência do Protocolo de Quioto, em promover a redução da dependência do Petróleo como fonte energética principal, com um objetivo de mitigação das emissões de CO2 fruto da utilização de produtos petrolíferos para fins de mobilidade. Promoveu-se assim a utilização de Biocombustíveis como fonte energética com menor impacto ao nível das emissões de CO2, no que às questões da mobilidade e emissões poluentes de veículos concerne.
Criou-se então todo um enquadramento fiscal favorável à produção e consumo de Biocombustíveis, foram feitos investimentos no sentido de otimizar as tecnologias de produção dos mesmos, foi criada legislação no sentido de estabelecer quotas de utilização de Biocombustíveis, como é exemplo das metas da Comissão Europeia de introdução de Biocombustíveis numa cifra de 5,57% do total de fontes de produção energética até 2020. Convém frisar que a Europa está bastante comprometida ao nível da redução de emissões de CO2, tomando as rédeas das negociações no campo da política de emissões e política energética a nível global. No entanto só é responsável por 13% das emissões a nível global, sendo que os grandes elefantes, sem qualquer teor pejorativo, são os EUA e a China, ambos responsáveis por 33% e 30,8%, respectivamente, das emissões a nível global.
Não obstante o mérito de redução das emissões de CO2 que advêm da utilização de Biocombustíveis, cabe-me afirmar que sou totalmente contra a sua produção e utilização, não por razões de escala e opção política ao nível da definição de quotas, mas sim por questões de segurança alimentar e pelo facto de todo o processo de produção de Biocombustíveis ter um grande impacto ambiental, o qual é escondido e não revelado.
Abordando questões relacionadas com a segurança alimentar, a conclusão que tiro, a partir das evidências, é que a produção de Biocombustíveis (Biodiesel e Etanol) quer através da utilização de milho, quer através da utilização da cana-de-açúcar, quer através da utilização de trigo, quer através da utilização da soja, é extremamente penosa no que toca á utilização de stocks agrícolas, extremamente úteis para fins alimentares. Através destas práticas está-se a contribuir para a redução de stocks agro-alimentares disponíveis para consumo humano, gerando um crescimento da especulação em torno dos preços das matérias-primas acima referidas, entre outras, dando lugar a aumento de preços que influenciam em grande escala o aumento dos preços dos bens essenciais, que desde 1994 até 2010 subiram consideravelmente, acompanhando o movimento de subida da produção dos Biocombustíveis, o que é bastante prejudicial às populações com menos recursos, gerando instabilidade social e criando vulnerabilidade, por parte da população, a determinado tipo de doenças. A seguir é um efeito em cadeia que acabará por criar pressão sobre o PIB dos diversos países.
Em suma, o contributo reduzido que a utilização de Biocombustíveis dará ao Mundo, em termos de redução de emissões de CO2, causará um efeito nefasto ao nível da Segurança Alimentar, podendo dar origem à escassez de determinados tipos de bens agrícolas básicos, e subsequentemente a um aumento absurdo dos preços, uma vez que as taxas de utilização de determinados bens agrícolas têm sido bastante elevadas, exemplo disso é o período de 2007-2009, retratado em baixo, e perspectiva-se um crescimento enorme ao nível da taxa de utilização de bens agrícolas, para produção de Biocombustíveis, até 2019. Isto é preocupante.
No que a emissões de CO2 concerne, nem tudo o que se diz é verdade.
Não obstante o facto de as emissões resultantes da utilização de Biocombustíveis serem menos nocivas para o Ambiente, porém levantam-se grandes dúvidas se o mesmo se pode dizer do seu processo de produção, desde a produção das matérias-primas até à sua transformação e destilação finais, passando pelo processo de transporte das mesmas. Isto para não falar que a grande maioria das centrais de produção são alimentadas a carvão ao até mesmo a petróleo. Isto também não ajuda em nada.
É exemplo disso a intensidade de libertação de carbono durante o processo de produção de Bioetanol no Reino Unido, utilizando milho importado dos EUA. Ver exemplo ilustrado a partir dos dados do Governo Britânico.

Concluíndo, posso afirmar que todo o processo de produção de Biocombustíveis é extremamente penoso no que concerne às emissões de CO2, portanto neste caso os fins não justificam os meios.
Está-se a gerar ainda mais emissões de CO2 que aquelas que se evitam.
E mesmo o nível de emissões de CO2, resultantes da utilização de Biocombustíveis não é significativamente menor que o nível das emissões resultantes da utilização de combustíveis fosséis.
Veja-se mais uma vez os dados do Governo Britânico, resultantes de vários estudos neste campo.




Conclui-se então que os Biocombustíveis, regra geral, não têm o impacto que se faz crer ao nível das emissões.

Porque não se substituem os Biocombustíveis por combustíveis derivados de resíduos? Pode ser tarde, mas ainda vamos a tempo de aumentar as quotas de produção, preservando os stocks de bens agrícolas.
É uma questão de rever a política energética neste sentido, e investir contundentemente na produção de combustíveis derivados de resíduos e estancar a subida da produção de Biocombustíveis.
Desta forma preservar-se-ia a segurança alimentar, como também se mitigavam os stocks de resíduos utilizado-os com fins energéticos.
Afinal no que aos Biocombustíveis toca, os fins ainda não justificam os meios.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Alterações Climáticas: Como a condução e a mobilidade podem influenciar.

Nove em cada dez portugueses alteraram os seus hábitos de condução por questões ambientais. A conclusão é da terceira edição do Observatório Europcar sobre Transporte e Mobilidade, realizado em sete países, pela Europcar, em parceria com o Instituto de sondagens IPSOS.
À semelhança do ano passado, cerca de 82 por cento dos inquiridos disseram ter alterado os seus hábitos de condução por razões ambientais. Os franceses e os portugueses lideraram nesta área, com 89 e 87 por cento, respectivamente, enquanto o Reino Unido obteve a percentagem mais baixa de condutores a alterarem os seus hábitos por razões ecológicas, com apenas 76 por cento.
De acordo com o observatório, Portugal é um dos países mais interessados em conduzir veículos amigos do ambiente (74 por cento por oposição a 64 por cento na Europa). Apesar de os portugueses serem os europeus mais dependentes da sua viatura própria, Portugal está no caminho para o abandono da posse de veículo próprio: 70 por cento dos condutores afirmaram gostar de ter um carro, mas esta percentagem desceu 11 pontos desde 2009. 36 por cento dos portugueses já consideraram abdicar de pelo menos um dos seus veículos, um número ligeiramente inferior ao valor europeu (39 por cento), mas com um crescimento de 5 pontos face a 2009.
Esta sondagem, cuja intenção é compreender as práticas europeias nesta área e identificar novos tipos de comportamentos, é baseada nas respostas de mais de 6 mil pessoas, com idade igual ou superior a 18 anos, na Bélgica, França, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e Reino Unido.
Deste estudo o que se pode concluir é que está em curso uma maior consciencialização sobre a problemática das alterações climáticas, e a forma como cada um pode dar o seu contributo.
Não obstante o facto de os resultados serem reveladores, é ainda muito pouco o que tem sido feito, e é no campo político que se terá que travar a verdadeira batalha.
Para que se pudesse obter o impacto desejado ao nível da redução de gases de efeito de estufa, analisando o caso dos transportes e mobilidade em particular, seria necessária uma maior ambição ao nível das políticas que regulam o controlo das emissões nos veículos, por parte do fabricante automóvel, não temos sido ambiciosos o suficiente no que toca a forçar a indústria automóvel a produzir veículos mais eficientes, menos pesados e mais ágeis, de forma a promover a redução das emissões por parte dos mesmos.
É de lamentar também que não se promova devidamente, no que ao campo da governança toca, uma maior penetração de veículos híbridos e elétricos, tendo-se vindo a complicar ao nível da carga fiscal adjacente. Porém, os fabricantes automóveis também não têm sido decididos o suficiente para tornar mais eficiente a produção e aumentar a escala deste tipo de veículos, democratizando de uma forma contundente a sua aquisição.
Ao nível da mobilidade, não se compreende o facto de não existir vontade política suficiente para redefinir todo o modelo de transportes públicos e redes de transporte.
É de todo incompreensível que não se analise o impacto nefasto que tem tido a construção desmesurada de auto-estradas, muitas delas desnecessárias, e não se pondere uma extensão das linhas ferroviárias até zonas mais interiorizadas. Desta forma é promovida a utilização desmedida do carro em detrimento do transporte público. Não podia abordar este tema da mobilidade e do impacto que políticas erradas neste campo têm sobre as emissões de gases de efeito de estufa sem antes abordar um tema um pouco mais acessório, mas que vem ao encontro da minha opinião de que devemos proceder ao investimento numa rede ferroviária que se constitua uma verdadeira alternativa às populações interiorizadas: o caso da linha do TUA, que sendo uma alternativa voraz á utilização do carro, para as populações daquela zona, não obstante o desgaste e antiguidade da linha em causa, foi um exemplo de desinvestimento em mobilidade alternativa.
Seria então de bom grado redefinir todo o conceito de ferrovia, modernizar as estruturas existentes e promover a construção de novas estruturas e extensão das já existentes; seria também pertinente redefinir toda a rede de transportes públicos urbanos, de forma a proporcionar uma maior abrangência de serviço, a par com a eficiência, e redefinindo toda a política de preços, para que esta fosse uma verdadeira alternativa à utilização do carro; seria também deveras sensato intervir ao nível da regulamentação aplicada aos construtores automóveis, no que toca ao limiar máximo de emissões permitido por veículo, assim como promover a democratização do automóvel híbrido e elétrico.
Desta forma poderíamos ter uma intervenção devidamente estratégica ao nível da política de Mobilidade e Transportes, promovendo não só comportamentos e rotinas mais sustentáveis, assim como encetando uma verdadeira mudança nas opções ao nível de mobilidade.
O resultado final seria uma redução das emissões de gases de efeito de estufa. O Ambiente agradeceria!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Biomassa: um pau de dois bicos.

O Governo da República Portuguesa tem como objetivo aumentar a quota de produção energética a partir de fontes renováveis, tais como eólicas, solar, ondas e biomassa, pelo que levou a cabo a ENE 2020 – Estratégia Nacional para a produção de energia até 2020.
Os objetivos de produção de energia a partir de FER (fontes de energia renovável) são de 32,9% a partir dos recursos hídricos, 30,3% a partir das eólicas, 8,7% a partir da biomassa, 7,4% a partir da solar, 1,7% a partir da geotérmica e 1,3% a partir das ondas.
Não obstantes os objetivos em si, ultimamente tenho-me manifestado contra a produção de energia a partir da biomassa, pelo menos nos moldes atualmente definidos pelos vários regulamentos em vigor.
Tendo em conta o preço a que o KW, produzido a partir desta tecnologia, é remunerado a 0,28€ durante os primeiros 8 anos de vigência do contrato de produção, 0,17€ durante os restantes 7 anos, de um total de 15 anos de contrato.
O que mais me preocupa não é de todo o preço pago por KWH produzido, mas sim a promiscuidade e veleidade que pode constituir este tipo de produção de energia, uma vez que é necessário ter sempre consideráveis stocks de madeira florestal e afins disponível.
Vejamos, então, a produção de energia a partir da biomassa de uma forma simples.
A eletricidade, neste caso, é produzida a partir da queima de madeira e afins, cujo processo, por si só, tem um teor de emissões de CO2 relevante. Para efetuar a queima de madeira é necessário estar guarnecido da mesma, que é obtida através da desflorestação. Imagine-se um cenário de aumento do número de centrais de biomassa, o que gerará, no sentido de alimentar estas mesmas, será abate de árvores, que visto numa ótica de rentabilização do negócio, será um abate com alguma escala. Estaremos desta forma a destruir floresta, sim literalmente a destruir floresta, uma vez que a madeira queimada não mais é renovada nem reaproveitada, e a floresta ficará desguarnecida até que se cumpra um novo ciclo de crescimento de árvores, no caso de haver lugar a uma reflorestação.
Resultado, nós estamos a contribuir para um aumento de emissões de CO2, diretamente, através da queima de madeira para produção energética, como também estamos a contribuir para uma redução da capacidade da floresta em absorver o CO2, por via do abate descontrolado de árvores, tendo em vista fins de rentabilização de investimento.
Tendo em conta que a taxa de produção de energia a partir da biomassa, atualmente, é de 5% e que pretendemos passar para 8,7% até 2020, não compensa o esforço ao nível do investimento neste tipo de tecnologia nos moldes atuais de remuneração do KWH e fiscalização dos processos produtivos, uma vez que se está a criar um incentivo para que abata de forma desmesurada o erário florestal, assim como um aumento de emissões de CO2.
Para que este tipo de produção fosse totalmente fidedigno, sustentável, transparente e benéfico, ter-se-ia que legislar no sentido de estabelecer exigências contundentes ao nível das tecnologias de mitigação do CO2 e CO resultantes da queima da madeira, ter-se-iam que impor exigências no que toca ao tipo de madeira a queimar, não podendo ser madeira com vitalidade visível juntamente com madeira de refugo, tal como pinheiro afetado pelo nemátodo, ou seja, permitir somente a utilização de madeira desvitalizada, assim como reforçar o sistema de garantias no que toca à remuneração do KWH produzido.
Enquanto não se garantir que todos estes parâmetros sejam definidos e cumpridos, a biomassa continuará a ser, aos meus olhos, um caminho de sentido proibido.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Água: O ouro azul, mal valorizada pela humanidade.

Água: O ouro azul, mal valorizada pela humanidade.
Em 2000 previa-se que um terço da população mundial sofreria de escassez de água até 2025. Mas esse limiar poderá já ter sido ultrapassado.
A água é algo que muitos de nós temos como garantido. Afinal de contas, dois terços da população estão cobertos por ela.
Infelizmente, 97,5% da água que existe no mundo é salgada. E, dos 2,5% que são constituídos por água doce, 68,9% estão contidos nos glaciares, 30,8% na água potável subterrânea ou aquíferos subterrâneos, e apenas 0,3% se encontram nos lagos e nos rios., segundo estudos do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP).
Acrescenta-se a tudo isto que os sistemas fluviais da Terra estão desigualmente distribuídos geograficamente e que muita da água utilizada é desperdiçada ou poluída pelos esforços humanos na indústria e urbanização, e a nossa crescente dependência deste recurso vulnerável, usado de uma forma indiscriminada na agricultura, na indústria, assim como nos lares, torna-se cada vez mais apreensivamente evidente.
A água foi tradicionalmente considerada como um recurso renovável, pensando muita gente que o seu uso desbaratado não causaria nenhum desequilíbrio ao nível da disponibilidade e fornecimento. Em algumas partes do mundo assiste-se a uma abundância de água, estando a mesma em constante renovação e circulação, tendo uma disponibilidade elevadíssima. O Brasil destaca-se em termos de volumes (se não em termos de qualidade e acesso), enquanto no seu conjunto, os países da orla do Árctico, o Canadá, a Gronelândia, a Escandinávia e a Rússia formam um enorme bloco de economias com excedente de água no hemisfério norte. No outro extremo da escala, há uma lista crescente de países que têm problemas de oferta de água. No entanto, não obstante a abundância de água em determinadas regiões, os aquíferos e bacias dos rios podem esgotar-se, e ser poluídos, através do seu uso intensivo, da urbanização e da má gestão.




Temo, porém, que este dados que apresento estejam já um pouco desactualizados, uma vez que a utilização da água tem vindo a intensificar-se desde então.
No ano 2000, como dito anteriormente, os cientistas previram que um terço da população mundial sofreria de escassez de água em 2025, mas ficariam consternados em descobrir que esse limiar poderá já ter sido ultrapassado. Segundo um relatório recente do jornal “Nature”, cerca de 3,4 mil milhões de pessoas pertencem à categoria mais severa de incerteza no que se refere à água.
À medida que as populações desenvolvidas se tornam mais ricas, os problemas intensificam-se.
De acordo com a UNESCO, as pessoas consomem 10 vezes mais água por dia nos países que nas nações em desenvolvimento. O problema é exacerbado por uma viragem para dietas com mais proteínas nos países desenvolvidos, onde estamos a assistir a uma procura cada vez mais elevada de carne. Isto porque a criação de gado é particularmente intensiva em termos de consumo de água. Para produzir um quilo de milho é necessário 1,5m³ de água, aprox.1650 Litros. No entanto, um quilograma de carne de vaca necessita de 15m³, aprox. 16520 Litros.
As principais alternativas
Aplicação de medidas ao nível da Governança
A aplicação de medidas de Governança que desincentivem a produção excessiva de gado, por via da redução do consumo, é o caminho mais viável para controlar este factor de peso, que é o consumo. Por via de uma taxação mais agressiva deste tipo de produção, criando impacto nos preços finais, não só faria com que diminuísse a procura por carne, como também faria com que se procedesse a uma mudança de comportamentos de consumo. Desta forma reduziríamos não só o consumo desmesurado de água directo e consumo de água indirecto, por via dos cereais, tipo o milho, necessário para a produção de carne, como também aumentaria a disponibilidade de cereais no mercado, por via da sua desafectação à produção animal. A nível económico libertaríamos o recurso água e o recurso cereais, tornado a sua taxa de disponibilidade nos mercados maior, criando uma enorme margem para que se baixassem os preços de mercado destes dois tipos de recurso.

Aposta na dessalinização da água do mar
Dado que mais de metade da população vive a menos de 60km da costa, a água salgada deverá ser uma das principais fontes alternativas de água nas próximas décadas. Em locais como a Arábia Saudita, as fábricas de dessalinização já satisfazem a maior parte das necessidades de água doce do país.
Os custos elevados são tradicionalmente apostados como o grande entrave à aplicação e investimento em larga escala, e a um nível global, deste tipo de técnicas, pelo que a dessalinização ainda não é a panaceia para os problemas mundiais de água. Todavia, os custos de dessalinização são agora 3 ou 4 vezes menores do que eram há trinta anos. Israel e Singapura são apenas dois dos países que estão a dessalinizar a água a um custo inferior a 0,60 dólares norte-americanos por metro cúbico. A China e a Índia já deram inicio aos seus próprios programas de dessalinização de água. É um investimento que vale a pena, a relação custo-benefício é extremamente benéfica.
Reciclagem da água
De acordo com dados do Programa Ambiental das Nações Unidas, a reutilização dos resíduos aquáticos tratados tem aumentado significativamente ao longo dos últimos anos, especialmente em países áridos como a Austrália e Israel. Mais de 40 milhões de metros cúbicos de resíduos aquáticos municipais são agora reciclados diariamente a nível mundial, mas este valor ainda representa apenas uma pequena fracção da utilização total de água.
A água reciclada é principalmente utilizada na irrigação e na indústria. No entanto, se as infra-estruturas continuarem a melhorar, se for reforçado o investimento na melhoria das técnicas de tratamento, e se os consumidores conseguirem ultrapassar o factor psicológico de repulsa, não há motivo para que a água reciclada não seja usada no saneamento e fornecimentos domésticos e, em última análise, até para beber. Se estas barreiras à sua maior utilização forem ultrapassadas, a reciclagem poderá ser parte significativa da solução para a mitigação da escassez de água.


Em suma, é importante encarar o problema da falta de água de uma vez por todas, também é necessário ter em mente as soluções em causa e as alternativas ao modelo actual de fornecimento de água, e desta forma levar a cabo os investimentos necessários nas soluções abordadas anteriormente.
É também necessária uma mudança de paradigmas de consumo.
Desta forma, num futuro próximo poderemos virar o rumo dos acontecimentos, que apontam para a escassez de água, seguindo os modelos actuais de fornecimento e de consumo.

Vamos por mãos á obra e cada um á sua maneira agir no sentido de evitar a maior crise que pode haver, uma crise de água lá para 2025 (se não antes).

sábado, 1 de janeiro de 2011

Energia: Portugal não pode colocar todos os ovos no mesmo cesto!

Há bem pouco tempo, o Governo Português, reunido em Conselho de Ministros, fez aprovar a ENE 2020 - Estratégia Nacional para a Energia até ao ano de 2020.
Este documento pretende fazer o cruzamento entre política energética e política económica, uma vez que a Energia é responsável por cerca de 25% do deficit da balança comercial, contribuindo largamente para o deficit da nação, tendo como principais linhas orientadoras:
- Imperiosidade da sustentabilidade ambiental;
- Redução da dependência dos combustíveis fósseis;
- Maximização do aproveitamento dos recursos endógenos;
- Redução dos impactes dos custos da energia nas balanças comercial e de pagamentos.

Sem desprimorar a iniciativa em si, assim como o trabalho já feito pelo Governo neste sentido, nomeadamente ao nível da energia eólica e da energia solar, é pertinente afirmar que é pouco uma vez que as fontes de energias renováveis em questão, actualmente, são apenas responsáveis por 27% da geração de electricidade. O recurso à produção de energia eléctrica recorrendo às mini-hídricas e à co-geração também é de louvar, mas ainda é pouco.
Não obstante as diversas falhas deste programa governamental, creio que existem duas grandes condicionantes para o total sucesso deste programa:

1ª- A intermitência e a aleatoriedade das fontes de energias renováveis que impedem a valorização maximizada do seu potencial por imperativos de gestão de rede;
2ª- As fontes de energias renováveis não respondem de forma adequada e sustentável às necessidades do sector de transportes, principal responsável pelas emissões de gases de efeito de estufa, e que continua altamente dependente de hidrocarbonetos.

A primeira condicionante obriga a soluções de armazenagem de energia que compatibilize os diagramas da oferta com os da procura de energia. A bombagem é um contributo mas como se pode concluir do documento em análise claramente insuficiente para os objectivos actuais de fontes de energias renováveis, nomeadamente de energia eólica. A segunda condicionante põe o desafio dos combustíveis renováveis. Os biocombustíveis e as baterias são contributos importantes, mas insuficientes para uma resposta adequada às necessidades do sector.

Destes breves linhas posso depreender que a estratégia do governo não é suficiente, nem a nível económico nem a nível ambiental. Não mitiga de forma contundente a emissão de gases de efeito de estufa gerados pelo sector dos transportes, uma vez que a pretensa da introdução de biocombustíveis tem como objectivo uma afectação de apenas entre 5 a 10%, nem incrementa de forma assinalável a produção a partir de fontes renováveis, uma vez que a aposta nos sistemas de armazenamento e distribuição ainda é insuficiente.

Analisemos o sector dos transportes.

Devo afirmar porém que apesar de ser um defensor acérrimo da redução da dependência do petróleo, mas cabe-me afirmar que sou contra a produção de biocombustíveis, a qual ainda parte de uma taxa de utilização de cereais e similares, como o milho, bastante elevada, colocando pressão sobre o campo do fornecimento e segurança alimentar.
Porquê incentivar a produção de combustíveis derivados de resíduos? Matar-se-iam dois coelhos de uma cajadada só: redução do stock de resíduos e reaproveitamento dos mesmos, assim como redução da taxa de utilização de combustíveis fósseis, por via da introdução dos combustíveis derivados de resíduos.
Outra forma sustentável de produção energética faz-se a partir do Hidrogénio Renovável (isto é, obtido a partir de fontes renováveis), a chave que vai permitir consolidar e dar estabilidade ao modelo de redução da dependência de combustíveis fósseis, armazenando energia, ajustando os diagramas da oferta e da procura e constituindo outro combustível alternativo para a mobilidade sustentável.

Em suma, se como país pretendemos ser mais eficientes a nível ambiental, reduzir a dependência do petróleo, reduzir o deficit da balança comercial por via da produção de electricidade derivada de fontes renováveis e da utilização de combustíveis alternativos, este programa - ENE 2020 - não é suficiente, e temos que ter uma abordagem mais abrangente e certeira. Enfim, não podemos colocar todos os ovos no mesmo cesto como temos feito, não só não seremos incisivos na mitigação das emissões de CO2, como também não seremos completamente eficazes na redução da dependência do petróleo e da redução do deficit da balança comercial por via da auto-suficiência e sustentabilidade energética.