sábado, 1 de janeiro de 2011

Energia: Portugal não pode colocar todos os ovos no mesmo cesto!

Há bem pouco tempo, o Governo Português, reunido em Conselho de Ministros, fez aprovar a ENE 2020 - Estratégia Nacional para a Energia até ao ano de 2020.
Este documento pretende fazer o cruzamento entre política energética e política económica, uma vez que a Energia é responsável por cerca de 25% do deficit da balança comercial, contribuindo largamente para o deficit da nação, tendo como principais linhas orientadoras:
- Imperiosidade da sustentabilidade ambiental;
- Redução da dependência dos combustíveis fósseis;
- Maximização do aproveitamento dos recursos endógenos;
- Redução dos impactes dos custos da energia nas balanças comercial e de pagamentos.

Sem desprimorar a iniciativa em si, assim como o trabalho já feito pelo Governo neste sentido, nomeadamente ao nível da energia eólica e da energia solar, é pertinente afirmar que é pouco uma vez que as fontes de energias renováveis em questão, actualmente, são apenas responsáveis por 27% da geração de electricidade. O recurso à produção de energia eléctrica recorrendo às mini-hídricas e à co-geração também é de louvar, mas ainda é pouco.
Não obstante as diversas falhas deste programa governamental, creio que existem duas grandes condicionantes para o total sucesso deste programa:

1ª- A intermitência e a aleatoriedade das fontes de energias renováveis que impedem a valorização maximizada do seu potencial por imperativos de gestão de rede;
2ª- As fontes de energias renováveis não respondem de forma adequada e sustentável às necessidades do sector de transportes, principal responsável pelas emissões de gases de efeito de estufa, e que continua altamente dependente de hidrocarbonetos.

A primeira condicionante obriga a soluções de armazenagem de energia que compatibilize os diagramas da oferta com os da procura de energia. A bombagem é um contributo mas como se pode concluir do documento em análise claramente insuficiente para os objectivos actuais de fontes de energias renováveis, nomeadamente de energia eólica. A segunda condicionante põe o desafio dos combustíveis renováveis. Os biocombustíveis e as baterias são contributos importantes, mas insuficientes para uma resposta adequada às necessidades do sector.

Destes breves linhas posso depreender que a estratégia do governo não é suficiente, nem a nível económico nem a nível ambiental. Não mitiga de forma contundente a emissão de gases de efeito de estufa gerados pelo sector dos transportes, uma vez que a pretensa da introdução de biocombustíveis tem como objectivo uma afectação de apenas entre 5 a 10%, nem incrementa de forma assinalável a produção a partir de fontes renováveis, uma vez que a aposta nos sistemas de armazenamento e distribuição ainda é insuficiente.

Analisemos o sector dos transportes.

Devo afirmar porém que apesar de ser um defensor acérrimo da redução da dependência do petróleo, mas cabe-me afirmar que sou contra a produção de biocombustíveis, a qual ainda parte de uma taxa de utilização de cereais e similares, como o milho, bastante elevada, colocando pressão sobre o campo do fornecimento e segurança alimentar.
Porquê incentivar a produção de combustíveis derivados de resíduos? Matar-se-iam dois coelhos de uma cajadada só: redução do stock de resíduos e reaproveitamento dos mesmos, assim como redução da taxa de utilização de combustíveis fósseis, por via da introdução dos combustíveis derivados de resíduos.
Outra forma sustentável de produção energética faz-se a partir do Hidrogénio Renovável (isto é, obtido a partir de fontes renováveis), a chave que vai permitir consolidar e dar estabilidade ao modelo de redução da dependência de combustíveis fósseis, armazenando energia, ajustando os diagramas da oferta e da procura e constituindo outro combustível alternativo para a mobilidade sustentável.

Em suma, se como país pretendemos ser mais eficientes a nível ambiental, reduzir a dependência do petróleo, reduzir o deficit da balança comercial por via da produção de electricidade derivada de fontes renováveis e da utilização de combustíveis alternativos, este programa - ENE 2020 - não é suficiente, e temos que ter uma abordagem mais abrangente e certeira. Enfim, não podemos colocar todos os ovos no mesmo cesto como temos feito, não só não seremos incisivos na mitigação das emissões de CO2, como também não seremos completamente eficazes na redução da dependência do petróleo e da redução do deficit da balança comercial por via da auto-suficiência e sustentabilidade energética.

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