quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A problemática do Chocolate: Ambiente, Especulação e Crises Políticas

A turbulência política na Costa do Marfim, as dificuldades produtivas resultantes das alterações climáticas e a usurpação de uma grande parte das reservas europeias por um único investidor apontam no sentido ascendente para o preço do cacau. Em 2010, o preço nos mercados internacionais deslizou ligeiramente.
O “Finantial Times” não podia ter explicado melhor: “A indústria do cacau parou numa altura em que deveria ser o período mais intenso de colheita.” Este é o resultado da crise política na Costa do Marfim, onde, apesar das eleições terem nomeado Alassane Ouattara, o presidente cessante, Laurent Gbagbo, não abre mão do poder, argumentando fraude eleitoral. A pressão internacional, que inclui o fechar das portas ao comércio costa-marfinense, passa ao lado de Gbagbo, mas não do mercado de mercadorias. Está em causa o envio de um terço da produção mundial de cacau para as fábricas dos criadores de chocolate.

A gula de Anthony Ward e a influência das alterações climáticas
Em Julho, o “New York Times” contou que existe “um Willy Wonka da vida real”, referindo-se ao excêntrico chocolateiro da história “Charlie e a Fábrica de Chocolate”. Através da sociedade Armajaro, Anthony Ward, um gestor de ativos especializado no mercado das mercadorias, comprou a quase totalidade das reservas de cacau da Europa. Foram 240 mil toneladas da matéria-prima, o equivalente a quase 7% da produção anual do mundo e mais do que a capacidade produtiva dos Camarões, o quinto maior exportador de cacau.
Muitos dos intervenientes na praça de Londres, onde Ward investiu, defenderam que o especulador queria pressionar a cotação do cacau para a subida, vendendo posteriormente com um apetitoso ganho. A associação alemã de comerciantes de cacau chegou a escrever à bolsa londrina a reclamar. Contudo, algumas vozes mais próximas de Anthony Ward dizem que ele está a apostar na quebra da oferta.
E o que tem o Ambiente a ver com tudo isto? Perguntam. Tem muito…
Veja-se, enquanto a procura continua a crescer, em resultado de uma cada vez mais numerosa classe média em todo o mundo, principalmente o mundo emergente, a oferta está a descer: nos últimos dois anos, a produção mundial caiu quase 4%, segundo a Organização Internacional do Cacau. As alterações climáticas colocam as plantações à mercê das pestes e doenças, como a frequente doença fúngica da podridão-parda, e encurtam a vida útil dos cacaueiros. Além disso, as plantações esgotam rapidamente os nutrientes da terra, reduzindo progressivamente a sua produtividade.
Mais uma vez se prova a influência que as alterações climáticas têm sobre um bem tão apreciado e procurado como o cacau, dando lugar a movimentos especulativos e tornando a sua disponibilidade sensível a eventos políticos de crise.

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