quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ÁGUA: Não a ter faz-nos compreender quão preciosa é… incentivando à sua poupança

Nesta comunicação vou transmitir a experiência de um amigo, em vez de expressar opiniões pessoais ou de propor soluções para os problemas, derivados da crise ambiental, que enfrentamos.
João Matos Pina, que trabalha para o Programa Ambiental das Nações Unidas, é responsável pelo Projeto de Promoção do Uso Eficiente da Água e Gestão de Recursos Hídricos Escassos, esteve recentemente no Uganda (aliás vai lá regularmente), durante um mês a efetuar um levantamento de necessidades de três comunidades e a monitorizar duas bacias hídricas do país; seguidamente foi para Gales durante oito dias.
Quando chegado de Gales, no dia 21 de Fevereiro, para passar uma semana de férias no seu país natal, Portugal, procurou falar comigo para me transmitir o seu ponto de vista, no que toca à disponibilidade de água em ambos os países, Uganda e Gales, fazendo uma comparação entre um país árido e extremamente pobre, como é o caso do Uganda, e um país desenvolvido do primeiro mundo, como é caso de Gales. No entanto ambos têm um problema que é cada vez mais transversal a toda a humanidade, stress hídrico e escassez de água.
Durante um mês no Uganda viveu com cerca de 20 centilitros de água por dia. Em Gales passou por um período de sete dias sem acesso a água canalizada. Um pouco estranho para um Britânico comum, mas tratava-se de Gales onde se tinham enfrentado dez dias de temperaturas de -20ºC. (a Irlanda do Norte tem tido os seus próprios problemas com a falta de água corrente.) As tubagens subterrâneas, no vale onde ele se instalou, tinham congelado pela primeira vez em cerca de 50 anos (fruto de um clima cada vez mais instável, como resultado das alterações climáticas), e teve que colectar água de um vizinho que tinha um tubo vertical ativo a algumas centenas de metros de distância.
As pessoas proferiam o velho cliché: “Viver assim deve ser como viver no terceiro mundo!”. Mas não é assim. Uma caminhada de algumas centenas de metros para recolher a água não é nada, comparando ao que a maioria das pessoas no mundo que vivem sem água canalizada experiencia. Mas ele explicou-me muito sobre como as culturas que se têm desenvolvido em locais com escassez de água.
Aqui ficam algumas das observações da experiência que este meu amigo teve no Uganda e em Gales, em regime de escassez de água, comparativamente:
·         Devemos ser altamente organizados para poder viver com pouca água, ou até mesmo sem água. Dependendo da condição, devemos ser capazes de fazer uma boa gestão da mesma em atividades tais como banhos, consumo para beber, lavagens, cozinhar…
·         Temos que ser fortes. Se percorrer 100 metros para ir buscar água é um esforço, imagine-se fazer dezenas de quilómetros… Quem for mais frágil sucumbirá.
·         Aprendemos o valor da amizade e de comunidade. Pedir água a alguém, é pedir algo importante. Oferecer água é um dom. Mas a desigualdade entre os que têm água e os pobres, nestas zonas, tornou-se gritante.
·         Tornamo-nos mais cuidadosos e deliberativos. Quando cada gota de água se torna num bem preciosíssimo e escasso, não devemos gastar mais que o estritamente necessário.
·         As prioridades são mudadas. Um banho tornou-se um luxo final inatingível e não uma necessidade. Água para beber e comida vêm em primeiro lugar. Aprendeu a lavar os dentes e a barbear-se utilizando somente uma caneca de água. A higiene e o saneamento tornaram-se cruciais. As comunidades aprenderam a apreciar o pouco que tinham. E mesmo quando existe um pouco de água a mais que o habitual, não há lugar a desbaratamento da utilização de água, antes pelo contrário, tentam-se criar reservas.
A humanidade não tem dado o devido valor à água, considerando que por mais que gaste desnecessariamente haverá sempre mais. Nada mais errado! A água é o “Ouro Azul”, da qual dependemos para a nossa condição mais básica como seres humanos – a sobrevivência, sendo cada vez mais escassa (grande parte das nações já estão em situação de stress hídrico ou pior). Por isso cabe-nos dar-lhe um melhor uso.

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