quinta-feira, 3 de março de 2011

O Ultimato do Milho: Até quando vão os Americanos continuar a queimar um sexto do stock mundial de milho nos seus carros?

Como tenho exprimido, eu não sou um defensor da atual politica de produção de biocombustíveis, liderada pelos EUA, por diversas razões, mas acima de tudo porque é uma “pescadinha de rabo na boca”. Num Mundo de crescente insegurança alimentar, conduzida pelo aumento da população, tendências dietéticas, aumento dos preços da energia, e pelo crescente clima de instabilidade social e politica, a politica dos EUA tem sido a de queimar um terço das suas colheitas de milho nos motores dos seus carros (em breve será cerca de 37% ou mais), e está-se a tornar inconcebível e insustentável.
Fiquei satisfeito ao assistir ao Ex-Presidente dos EUA Bill Clinton falar acerca disto num artigo no Washington Post - ““Clinton: Too much ethanol could lead to food riot”” -, mesmo apesar de eu ver o substantivo aumento do uso de produtos agrícolas para produção de combustíveis como uma das principais causas, senão a mais clamorosa, para a atual insegurança alimentar que vive em termos globais, tornando a disponibilidade destas “commodities” mais vulnerável a eventos climáticos extremos.
A produção de etanol, nos EUA, em 2010 consumiu 16% da produção mundial de milho, acima dos 10% em 2008.
A cada ano que passa, aumenta a procura mundial de cereais, e este ano não conseguiremos assegurar a satisfação dessa procura, uma vez que produziremos menos. O preços dos alimentos, a nível mundial, aumentaram para valores acima dos preços da crise alimentar de 2008. Milhões de pessoas ficarão sub-nutridas, e centenas de milhões de pessoas que passam fome comerão ainda menos ou sucumbirão. As guerras por comida já começaram em vários países do continente africano.
Quase todas as conclusões em relação à crise alimentar de 2008 imputam aos biocombustíveis um papel de responsabilidade fortíssimo. Devemos ter a consciência dos constrangimentos que a produção de biocombustíveis causa ao nível da disponibilidade de cereais.

A procura de biocombustíveis está quase a duplicar em relação ao desafio de produzir mais alimentos.
Desde 2004, por cada tonelada adicional de cereais necessários para alimentar a população em crescimento, as imposições de produção de biocombustíveis, estipuladas pelo governos, representam o dobro da quantidade anterior. A produção de Etanol a partir do açúcar, no Brasil, e do biodiesel a partir de óleos vegetais, na Europa, têm levado ao um aumento exponencial da procura por açúcar e óleos vegetais.
A produção agrícola estagnou em geral com a crescente demanda por alimentos, mas também com a maior demanda por biocombustíveis.
Um bom ano de colheita em 2008 ajudou a pôr fim à crise alimentar que viveu, com preços elevadíssimos das matérias-primas alimentares, mas o mau tempo e instabilidade climatérica, dessa data até aos dias que correm, têm colocado os stocks em situação de stress, contribuindo para instabilidade e desconfiança nos mercados.
Os elevados custos dos combustíveis para os agricultores e a instabilidade cambial contribuem para preços cada vez mais elevados, contribuindo par a especulação, mas os preços estão tão sujeitos a especulação pelo facto de os grandes consumidores, com medo que a produção agrícola continue estagnada ou em decréscimo, estarem a comprar massivamente, estando a causar pressão sobre os preços.
As secas na Rússia e China, e as cheias na Austrália ao longo dos últimos meses são certamente efeitos evidentes das alterações climáticas. Mas se já é difícil satisfazer a procura de alimentos, deve ser muito mais difícil satisfazer a demanda de ambos, alimentos e biocombustíveis.

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