terça-feira, 26 de março de 2013

A ideia errada sobre a “Hora do Planeta”


Escrevo estas linhas porque tenho assistido à forma errada como a “Hora do Planeta”, iniciativa da WWF, organização que aconselhei em acções esporádicas, a nível nacional e ibérico, que leva a que os cidadãos pensem que o facto de desligarem as luzes todas durante uma hora resolve alguns dos problemas ambientais e energéticos da Terra, nem que seja simbolicamente.
Nada mais errado, porque enquanto se pensa só em desligar luzes não se aborda o verdadeiro problema em termos de consumos de energia eléctrica, que são os aparelhos de ar condicionado, o aquecimento, as televisões, os computadores e os telemóveis, os quais têm uma utilização muito mais intensiva de energia eléctrica que propriamente as luzes, que aliás até estão cada vez mais eficientes e mais economizadoras.
Hipoteticamente desligar as luzes durante uma hora reduziria as emissões de dióxido de carbono das centrais eléctricas de todo o mundo. Contudo, mesmo que todos, no mundo inteiro, apagassem toda a iluminação da casa, e isso se traduzisse inteiramente na redução de CO2 a essa hora, seria o equivalente  à China pausar as suas emissões de dióxido de carbono durante menos de quatro minutos. Ou seja, 4 minutos de consumos na China equivalem a mais de 1 hora no resto do Mundo. Ainda querem discutir o busílis da questão?
A verdade é que a Hora do Planeta levará a um aumento das emissões.
Tal como foi descoberto pelas operadoras britânicas da rede eléctrica nacional, uma pequena redução no consumo de electricidade não leva a que seja bombeada menos energia para a rede, pelo que as emissões não diminuem, porque as centrais continuam a colocar energia na rede. Além disso, durante a Hora do Planeta, qualquer queda significativa na procura de electricidade conduzirá à diminuição das emissões de dióxido de carbono durante aquela hora, mas isso será compensado pela posterior sobrecarga das centrais a carvão ou gás no restabelecimento do fornecimento de electricidade. Sim, porque o processo de arranque em termos de ligação das luzes equivale à quase totalidade da poupança gerada nessa mesma Hora do Planeta.
Tudo bem, desligamos as luzes durante uma hora, ficamos todos satisfeitos, acendemos umas velinhas e fica tudo bem. Não, antes pelo contrário, as emissões de dióxido de carbono das ditas velinhas são superiores ao dióxido de carbono evitado através do “apagão” das luzes, uma vez que estas contêm parafina, que deriva dos combustíveis fósseis, sendo mesmo cerca de 100 vezes menos eficientes que as lâmpadas.
A electricidade trouxe enormes benefícios à humanidade. Perto de três mil milhões de pessoas, para cozinharem e para se aquecerem, continuam a queimar, dentro de suas casas, estrume, galhos e outros combustíveis tradicionais, gerando fumos nocivos que matarão cerca de dois milhões de pessoas todos os anos, sobretudo mulheres e crianças, que são menos resistentes respiratoriamente, como advoga a Organização Mundial de Saúde.
Da mesma forma, a electricidade permitiu-nos mecanizar grande parte do nosso mundo e eliminar a maioria do trabalho extenuante. A máquina de lavar roupa libertou a mulher de passar horas infindáveis a transportar água e a esfregar roupa nas tábuas de lavar. O frigorífico permitiu que quase toda a gente possa comer mais fruta e vegetais, deixando de comer alimentos apodrecidos, sendo essa a principal razão para o facto de o cancro mais prevalecente nos homens na década de 1930, o cancro do estômago, ser agora o menos frequente.
A electricidade permitiu-nos regar os campos e sintetizar fertilizantes a partir do azoto do ar. A luz que produz permitiu-nos ter uma vida activa e produtiva quando escurece. Em média, a electricidade consumida por cada habitante dos países ricos equivale à energia de 56 empregados que estariam ao seu serviço. Mesmo os povos da África Subsahariana dispõem de electricidade equivalente a cerca de três empregados. Não é de poupança de energia que os africanos precisam, mas sim de mais electricidade.
Isto é relevante não apenas para os países pobres. Devido ao aumento dos preços da energia decorrente das subvenções para as energias verdes, 800.000 famílias alemãs já não conseguem pagar as suas facturas de electricidade. Isto está relatado na imprensa regional alemã. No Reino Unido, mais de cinco milhões de pessoas têm actualmente dificuldades em fazer face às suas despesas de electricidade e o regulador eléctrico do país, assim como a gestora da rede de distribuição, a Nationalgrid, evidenciam publicamente os seus receios de que os objectivos em matéria de ambiente possam levar a cortes de electricidade dentro de menos de nove meses.
Actualmente, a energia eólica e solar que produzimos representa apenas uma pequena fracção da energia de que precisamos – 0,7% das nossas necessidades provêem da energia eólica e 0,1% provêem da energia solar. Estas tecnologias são ainda muito dispendiosas, além de que não são fiáveis, pois continuamos a não saber o que fazer quando o vento não sopra, ou quando não está sol. Mesmo com os pressupostos mais optimistas, a Agência Internacional de Energia estima que, em 2035, estaremos a produzir apenas 2,4% da nossa energia a partir do vento e 0,8% a partir do sol.
Para tornar ecológica a energia mundial, temos de deixar para trás a antiquada política de subsidiar as energias solar e eólica, que não são fiáveis – uma política que fracassou durante 20 anos e que fracassará nos próximos 20. Em vez disso, devemos focalizar-nos em inventar e desenvolver novas tecnologias amigas do Ambiente, mais eficientes, para vencer na concorrência com os combustíveis fósseis.
Se queremos realmente um futuro sustentável para toda a humanidade e para o nosso planeta, não devemos mergulhar na escuridão. Lidar com os desafios climáticos desligando as luzes e jantando à luz das velas é uma solução irrealista que apenas seduz os privilegiados que beneficiam de electricidade e têm uma vida confortável.
Favorecer a investigação e desenvolvimento no sector das energias verdes pode não ser tão satisfatório como participar numa tertúlia global com lanternas e boas intenções, mas é certamente uma ideia muito mais inteligente.
Costumava pensar a questão das energias alternativas e do Ambiente de uma forma mais leviana, mas o conhecimento adquirido com a experiência, as conversas com especialistas fiáveis e a análise custo/benefício das várias soluções ao dispor deram-me mais lucidez.

E eu que fui uma das pessoas que mais se envolveu e mais viveu a dita “HORA DO PLANETA”.

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