Escrevo estas linhas porque tenho assistido à
forma errada como a “Hora do Planeta”, iniciativa da WWF, organização que
aconselhei em acções esporádicas, a nível nacional e ibérico, que leva a que os
cidadãos pensem que o facto de desligarem as luzes todas durante uma hora
resolve alguns dos problemas ambientais e energéticos da Terra, nem que seja
simbolicamente.
Nada mais errado, porque enquanto se pensa só
em desligar luzes não se aborda o verdadeiro problema em termos de consumos de
energia eléctrica, que são os aparelhos de ar condicionado, o aquecimento, as
televisões, os computadores e os telemóveis, os quais têm uma utilização muito
mais intensiva de energia eléctrica que propriamente as luzes, que aliás até
estão cada vez mais eficientes e mais economizadoras.
Hipoteticamente desligar as luzes durante uma
hora reduziria as emissões de dióxido de carbono das centrais eléctricas de
todo o mundo. Contudo, mesmo que todos, no mundo inteiro, apagassem toda a iluminação
da casa, e isso se traduzisse inteiramente na redução de CO2 a essa hora, seria
o equivalente à China pausar as suas emissões de dióxido de carbono
durante menos de quatro minutos. Ou seja, 4 minutos de consumos na China
equivalem a mais de 1 hora no resto do Mundo. Ainda querem discutir o busílis
da questão?
A verdade é que a Hora do Planeta levará a um
aumento das emissões.
Tal como foi descoberto pelas operadoras
britânicas da rede eléctrica nacional, uma pequena redução no consumo de
electricidade não leva a que seja bombeada menos energia para a rede, pelo que
as emissões não diminuem, porque as centrais continuam a colocar energia na
rede. Além disso, durante a Hora do Planeta, qualquer queda significativa na
procura de electricidade conduzirá à diminuição das emissões de dióxido de
carbono durante aquela hora, mas isso será compensado pela posterior sobrecarga
das centrais a carvão ou gás no restabelecimento do fornecimento de
electricidade. Sim, porque o processo de arranque em termos de ligação das
luzes equivale à quase totalidade da poupança gerada nessa mesma Hora do
Planeta.
Tudo bem, desligamos as luzes durante uma hora,
ficamos todos satisfeitos, acendemos umas velinhas e fica tudo bem. Não, antes
pelo contrário, as emissões de dióxido de carbono das ditas velinhas são
superiores ao dióxido de carbono evitado através do “apagão” das luzes, uma vez
que estas contêm parafina, que deriva dos combustíveis fósseis, sendo mesmo
cerca de 100 vezes menos eficientes que as lâmpadas.
A electricidade trouxe enormes benefícios à
humanidade. Perto de três mil milhões de pessoas, para cozinharem e para se
aquecerem, continuam a queimar, dentro de suas casas, estrume, galhos e outros
combustíveis tradicionais, gerando fumos nocivos que matarão cerca de dois
milhões de pessoas todos os anos, sobretudo mulheres e crianças, que são menos
resistentes respiratoriamente, como advoga a Organização Mundial de Saúde.
Da mesma forma, a electricidade permitiu-nos
mecanizar grande parte do nosso mundo e eliminar a maioria do trabalho
extenuante. A máquina de lavar roupa libertou a mulher de passar horas
infindáveis a transportar água e a esfregar roupa nas tábuas de lavar. O
frigorífico permitiu que quase toda a gente possa comer mais fruta e vegetais,
deixando de comer alimentos apodrecidos, sendo essa a principal razão para o
facto de o cancro mais prevalecente nos homens na década de 1930, o cancro do
estômago, ser agora o menos frequente.
A electricidade permitiu-nos regar os campos e
sintetizar fertilizantes a partir do azoto do ar. A luz que produz permitiu-nos
ter uma vida activa e produtiva quando escurece. Em média, a electricidade
consumida por cada habitante dos países ricos equivale à energia de 56
empregados que estariam ao seu serviço. Mesmo os povos da África Subsahariana
dispõem de electricidade equivalente a cerca de três empregados. Não é de
poupança de energia que os africanos precisam, mas sim de mais electricidade.
Isto é relevante não apenas para os países
pobres. Devido ao aumento dos preços da energia decorrente das subvenções para
as energias verdes, 800.000 famílias alemãs já não conseguem pagar as suas
facturas de electricidade. Isto está relatado na imprensa regional alemã. No
Reino Unido, mais de cinco milhões de pessoas têm actualmente dificuldades em
fazer face às suas despesas de electricidade e o regulador eléctrico do país,
assim como a gestora da rede de distribuição, a Nationalgrid, evidenciam
publicamente os seus receios de que os objectivos em matéria de ambiente possam
levar a cortes de electricidade dentro de menos de nove meses.
Actualmente, a energia eólica e solar que
produzimos representa apenas uma pequena fracção da energia de que precisamos –
0,7% das nossas necessidades provêem da energia eólica e 0,1% provêem da
energia solar. Estas tecnologias são ainda muito dispendiosas, além de que não
são fiáveis, pois continuamos a não saber o que fazer quando o vento não sopra,
ou quando não está sol. Mesmo com os pressupostos mais optimistas, a Agência
Internacional de Energia estima que, em 2035, estaremos a produzir apenas 2,4%
da nossa energia a partir do vento e 0,8% a partir do sol.
Para tornar ecológica a energia mundial, temos
de deixar para trás a antiquada política de subsidiar as energias solar e
eólica, que não são fiáveis – uma política que fracassou durante 20 anos e que
fracassará nos próximos 20. Em vez disso, devemos focalizar-nos em inventar e
desenvolver novas tecnologias amigas do Ambiente, mais eficientes, para vencer
na concorrência com os combustíveis fósseis.
Se queremos realmente um futuro sustentável
para toda a humanidade e para o nosso planeta, não devemos mergulhar na
escuridão. Lidar com os desafios climáticos desligando as luzes e jantando à
luz das velas é uma solução irrealista que apenas seduz os privilegiados que
beneficiam de electricidade e têm uma vida confortável.
Favorecer a investigação e desenvolvimento no
sector das energias verdes pode não ser tão satisfatório como participar numa
tertúlia global com lanternas e boas intenções, mas é certamente uma ideia
muito mais inteligente.
Costumava pensar a questão das energias
alternativas e do Ambiente de uma forma mais leviana, mas o conhecimento
adquirido com a experiência, as conversas com especialistas fiáveis e a análise
custo/benefício das várias soluções ao dispor deram-me mais lucidez.
E eu que fui uma das pessoas que mais se
envolveu e mais viveu a dita “HORA DO PLANETA”.
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