segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Estratégia de crescimento económico nos BRIC: o seu impacto ambiental

Os BRIC, sigla que denomina o grupo de nações constituído pelo Brasil, pela Rússia, pela Índia e pela China, têm levado a cabo políticas que visam fomentar o crescimento económico quer pela via das exportações quer pela via do consumo interno, sendo este o factor com um grande pendor nesta Estratégia de crescimento.
Todavia, e apesar de ser benéfico para a economia mundial como um todo, é extremamente penoso a nível ambiental seguir este tipo de estratégia, uma vez que se está a colocar uma grande pressão sobre três fatores importantíssimos – Segurança Alimentar e Demografia, Segurança Energética e Aquecimento Global, que passarei a explicar de forma muito sucinta.

Segurança Alimentar e Demografia
Países como China, Índia e Brasil estão em franco crescimento, em grande parte estimulado por um aumento do consumo interno. Cada vez mais cidadãos estão a mudar os seus padrões de consumo uma vez que, cada vez mais cidadãos estão a sair de patamares de pobreza, entrando num nível de classe média. É certo que estes cidadãos vão ter outro tipo de necessidades alimentares, optando por dietas mais ricas em proteína animal, criando um aumento da procura sobre o mercado de produção de gado, assim como sobre o mercado de produção  de cereais.
De que forma esta tendência prejudica ou interfere com o ambiente?
É muito simples, estamos a estrangular a capacidade produtiva da TERRA, e a dar cabo de cada vez mais solos e recursos naturais, interferindo com equilíbrio natural do planeta. Para se ter uma noção, tendo em conta o cenário atual, seriam necessários 1,48 Planetas Terra para satisfazem os nossos padrões de vida anualmente. O que quer dizer que esgotamos a capacidade anual do planeta em Agosto, em 2011, essa capacidade esgotará em Julho.
 Como se exige cada vez mais produção de carnes ou de cereais, a oferta tenta ajustar-se à procura.
Mas daqui surge um problema, que é o facto de muitos solos de produção de cereais estarem em risco de ficarem estéreis, quer por via das consequências da irregularidade das estações, das secas e cheias consequentes, quer por via da contaminação resultante da “revolução verde” – baseada na utilização desenfreada de adubos químicos, pesticidas e herbicidas com o objetivo de aumentar consideravelmente a produção de bens agrícolas.
Tudo isto já está a criar pressão sobre os stocks de cereais e bens agrícolas diversos disponíveis, acrescendo a isto o facto de a produção de gado estar a aumentar por via do aumento da procura desferida pelas economias emergentes que mencionei. E os animais consomem cereais, que tão úteis seriam para os humanos.
Para se ter uma noção, o stock de segurança mundial de cereais, antes da última colheita anual, está definido no equivalente a 4 meses de consumo médio mundial. Pasmem-se ao saber que antes da última colheita de 2010, que foi muito prejudicada pelas cheias australianas, os incêndios na Rússia, as secas na China, entre outros fenómenos, o stock mundial era de cerca de 2 meses. Grave!
Agora imaginem um mundo de 9 mil milhões de pessoas em 2050, e 7 mil milhões já em 2012-2013.
De uma forma muito simplista, posso afirmar que representa problemas de uma forma múltipla, tendo em conta que o crescimento demográfico tem o seu grande epicentro nos países emergentes.
Mais população, mais consumo, menos stocks agrícolas disponíveis, mais produção de gado, mais pressão sobre os solos já de si afetados, instabilidade climática, possíveis focos acentuados de escassez de água…
A típica relação de causa – efeito – causa, que terá um grande impacto económico no mercado dos cereais e bens agrícolas, que aliado à especulação dos preços nos mercados, atirará milhões de cidadãos para uma situação de carência alimentar.
Imaginem-se os problemas que daí poderão advir…


Segurança Energética
Aqui está outro problema!
Os problemas associados ao crescimento económico e demográfico, nos países emergentes, prendem-se também com as questões associadas à Energia.
Com um aumento da população, gera-se também um aumento da procura de energia, com cada vez mais cidadãos, em países como China, Índia, Brasil, a adquirirem veículos automóveis, a consumirem mais eletricidade e a consumirem cada vez mais alimentos, que para serem produzidos há que recorrer a máquinas agrícolas, de certa forma, máquinas que consomem bastante combustível.
Conclusão, com um pico da produção de petróleo para breve, no prazo de 5-10 anos, tendo em conta o ritmo atual de consumo, gerar-se-á uma grande pressão sobre o “ouro negro”, o que aliado à especulação dos preços nos mercados, poderá dar lugar a preços altíssimos, colocando o mundo em estado de crise energética.
Mas têm sido desenvolvidas alternativas, tais como as energias renováveis – eólica, solar, hídrica, marés… - que de certa forma poderão equilibrar os pratos da balança da segurança energética mundial.
Outra via tem sido a produção de Biocombustíveis, como substituição aos combustíveis fósseis, para fazer movimentar os veículos. É uma alternativa válida, mas o que é certo é que cria muitos constrangimentos ao nível da disponibilidade de cereais, contribuindo para o acentuar da especulação do mercado. E como todos sabem, na minha opinião, os cereais devem ir para o supermercado e não para o mercado. Passo a expressão.
Mas sem divergir do essencial, as questões associadas aos modelos de crescimento económico dos países emergentes, têm muito relevo no campo da Energia. A título de exemplo, a China, que em 2011 será já o maior poluidor mundial em termos de emissões de Gases de Efeito de Estufa, fruto da utilização desmesurada de petróleo na sua indústria, é um país que tem baseado o seu crescimento industrial na utilização intensiva do petróleo, quer para produção de eletricidade, quer para alimentar as caldeiras das suas fábricas, quer para uso particular. No Brasil, Índia e Rússia idem. Para se ter uma noção, 31% do consumo mundial de petróleo advém destes 4 países, e estima-se que aumente 75% até finais de 2012. Ou seja, serão responsáveis por cerca de 54% do consumo mundial de petróleo. Preocupante, não? Sim, para a humanidade e para o Ambiente.

Aquecimento Global
Este talvez o problema do século, que é o resultado de todas as práticas e comportamentos anteriormente relatados.
Com o aumento do consumo e utilização de petróleo, com o aumento do consumo de combustíveis e eletricidade, com o aumento da produção de gado para consumo e com cada vez mais humanos a desenvolverem a sua atividade normal é natural (embora seja uma anormalidade) que o nível de emissões de Gases com Efeito de Estufa aumente.
Par se ter uma noção, a ONU defendeu que o nível aceitável de CO2 e equivalentes, na atmosfera, seriam 350 ppm (partes por milhão), no entanto os nível atuais são de 460 ppm, sendo que em 1998 eram de 327 ppm.
Para terem uma ideia, se a tendência se verificar e nada for feito para reduzir as emissões de CO2 e equivalentes, ou até para mudar o paradigma de desenvolvimento económico, em 2090 teremos um nível de 600 ppm e um consequente aumento das temperaturas na ordem dos 6 a 8 graus Celsius. Muito grave, uma vez que a desregulação climática tem dado lugar a vários fenómenos, em pouco por esse mundo fora, que chocaram a humanidade. São exemplos as cheias gravíssimas na Austrália seguidas de tempestades intensas, as cheias e aluimentos de terras na zona serrana do Estado do Rio de Janeiro – Brasil, as cheias no Paquistão, as secas na China, o maior produtor mundial de trigo, tendo interferido com várias culturas agrícolas, assim como os incêndios na Rússia e Austrália, que prejudicaram as colheitas de 2010, fruto de temperaturas anormais. Para não falar do aumento do nível dos oceanos, fruto do degelo dos Glaciares…
Existe uma probabilidade de 2%, até menos, de que continuemos a libertar para a atmosfera 1000 toneladas de C02 por segundo, a cada minuto de cada hora de cada dia de cada semana de cada mês de cada ano, e não haja efeitos graves sobre a TERRA. Ou seja, existem 98% de probabilidade que isso aconteça.
É grave, temos que agir, o tempo urge, mas mais vale prevenir que ter de aguentar os impactos ambientais…

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