Os recentes acontecimentos, trágicos por sinal, que ocorreram no Japão, mais concretamente na central de Fukushima, vieram reacender o debate sobre a relação entre os perigos e a rentabilidade das centrais nucleares, tendo já levado ao cancelamento da extensão do programa nuclear alemão e à fixação da moratória relativa ao período de vida das centrais nucleares, nos 14 anos.
Ao todo, existem 507 centrais nucleares por todo o Mundo, 442 em funcionamento e 65 em construção, segundo dados da Sociedade Europeia de Energia Nuclear e da Agência Internacional de Energia Atómica. Só na Europa existem 164 plantas em funcionamento c/ 1674170 MW de potência instalada, mais 8 em construção c/ um total de 789000 MW de potência instalada prevista, só na Eslováquia estão em construção 2 centrais c/ 391 MW de potência instalada cada. A França é o grande “player” europeu com 58 centrais em funcionamento, mais 1 em construção. Em termos mundiais são os EUA, com 104 plantas em funcionamento c/ 100747 MW de potência instalada mais 1 em construção com 1165 MW, os grandes “players” mundiais, seguidos da França, em 2º, e do Japão, em 3º, com 54 plantas em funcionamento c/ 46823 MW de potência instalada mais 2 em construção com 1325 MW cada.
É um facto que a energia concebida a partir de fontes nucleares ainda é a fonte de energia mais económica, em comparação com a energia obtida a partir de fontes hídricas, fontes termoelétricas, co-geração e até mesmo a partir de fontes renováveis.
Mas no que concerne às questões de segurança e ambientais, a opção pela nuclear é um enorme risco, veja-se o caso do desastre de Fukushima, que após explosões nos reatores, se tem verificado a libertação de resíduos nucleares para a atmosfera, que provavelmente farão com que a tragédia de Chernobil, de 26 de Abril de 1986, seja relegada para segundo plano. As centrais nucleares, por si só, exigem que se efetue uma bateria de testes regulares aos reatores, um sem número de manutenções preventivas, uma enorme série de procedimentos de segurança e um cuidado especial com a gestão e contenção de resíduos. Mas isso fica muito dispendioso, mas é um imperativo de segurança.
Conclusão, todos estes procedimentos em conjugação com os riscos associados, fazem com que o facto da rentabilidade energética ao nível da produção deste tipo de centrais passe a ser secundária, quando comparada com os danos causados por uma fuga de material radioativo.
Agora mais do que nunca a questão da aposta na energia nuclear está em cima da mesa das conversações sobre política internacional, mas pelas piores razões, o que só vem dar razão a todos aqueles que defendem um aumento da aposta nas energias limpas.
Ainda recentemente, a UE baixou a sua meta para a produção de energia a partir de fontes renováveis, de 20% para 14%. Uma das razões prendeu-se com questões orçamentais. Não é uma justificação plausível, uma vez que o objetivo é não só tornarmo-nos menos dependentes do petróleo, que é a grande fonte da energia termoelétrica, assim como fazer uma gestão do risco de catástrofes adequada. E é neste campo que entra o cenário de um desastre nuclear, que, imagine-se, iria custar três vezes mais à UE do que reforçar a aposta nas energias renováveis ultrapassando os 20% até uns ambiciosos 31%.
Vale a pena pensar nisto e fazer as opções ao nível de política energética corretas, promovendo a sustentabilidade e a segurança.
O preço da inação será o prevalecer da reação. Com a questão da energia nuclear em cima da mesa, uma vez que é um tema quente neste momento, vão ser tomadas várias decisões, para acrescentar às que já estão a ser tomadas, no sentido de cancelar determinados programas de construção de centrais nucleares e bloqueio das moratórias atuais, no que se refere ao prazo de vida das atuais centrais. Se não se reforçar a aposta nas renováveis, agindo por antecipação, o que vai acontecer é o reforço da produção de energia a partir da queima de petróleo e de carvão, para compensar a balança entre pedidos e fornecimento, gerando ainda mais pressão sobre o preço do “ouro negro” e despromovendo a verdadeira redução de dependência pretendida.
Hoje mais do que nunca, e porque foi necessária uma tragédia que desencadeou os problemas na central de Fukushima, para se perceber que afinal de contas a energia nuclear não é de todo a solução, antes pelo contrário, e que as renováveis têm que voltar a situar-se como a máxima e primordial prioridade ao nível da política energética.
Muitos dizem que a cadeia de abastecimento da indústria das renováveis não tem escala, pois crie-se escala, dêem-se incentivos fiscais ao investimento nas renováveis, criem-se condições no campo do armazenamento e transporte de energia, estimule-se a prevalência da energia eólica e da solar, através de medidas de estímulo fiscal e de redução de custos de contexto.
Mas acima de tudo, coloque-se as questões de política e segurança energética outra vez na agenda política, assim como a promoção da eficiência energética. Reduz-se o risco, ajuda-se o Ambiente e estimula-se a Economia.
No concerne a Portugal, estranho é que Patrick Monteiro de Barros, o empresário que pretende promover a construção de uma central nuclear em Portugal, venha agora reivindicar a construção da mesma em voz alta, sem consciência do risco inerente, e sem consciência da escala que temos. Portugal, no que concerne à energia, tem que apostar na eólica, na solar e nos CDR’s (Combustíveis Derivados de Resíduos), e não em megalomanias que poderão ter efeitos nefastos se algo correr mal, o que diga-se de passagem é sempre provável.
Anexo:
Dados referentes ao nº de centrais nucleares em funcionamento e em construção, assim como a potência instalada.
Fontes: Sociedade Europeia de Energia Nuclear e Agência Internacional de Energia Atómica.
Em funcionamento | Em construção | ||||
País | Região | Nº de centrais em operação | Potência Instalada MW | Nº de centrais em construção | Potência Instalada MW |
Argentina | South America | 2 | 935 | 1 | 692 |
Armenia | Europe | 1 | 375 | - | - |
Belgium | Europe | 7 | 5,926 | - | - |
Brazil | South America | 2 | 1,884 | 1 | 1,245 |
Bulgaria | Europe | 2 | 1,906 | 2 | 1,906 |
Canada | North America | 18 | 12,569 | - | - |
China Mainland | Asia | 13 | 10,048 | 27 | 27,23 |
Taiwan | Asia | 6 | 4,98 | 2 | 2,6 |
Czech Republic | Europe | 6 | 3,722 | - | - |
Finland | Europe | 4 | 2,716 | 1 | 1,6 |
France | Europe | 58 | 63,13 | 1 | 1,6 |
Germany | Europe | 17 | 20,49 | - | - |
Hungary | Europe | 4 | 1,889 | - | - |
India | India | 20 | 4,391 | 5 | 3,564 |
Iran | Middle East | - | - | 1 | 915 |
Japan | Asia | 54 | 46,823 | 2 | 2,65 |
Korea, Republic | Asia | 21 | 18,665 | 5 | 5,56 |
Mexico | Central America | 2 | 1,3 | - | - |
Netherlands | Europe | 1 | 487 | - | - |
Pakistan | Middle East | 2 | 425 | 1 | 300 |
Romania | Europe | 2 | 1,3 | - | - |
Russian Federation | Russia | 32 | 22,693 | 11 | 9,153 |
Slovakian Republic | Europe | 4 | 1,792 | 2 | 782 |
Slovenia | Europe | 1 | 666 | - | - |
South Africa | Africa | 2 | 1,8 | - | - |
Spain | Europe | 8 | 7,514 | - | - |
Sweden | Europe | 10 | 9,303 | - | - |
Switzerland | Europe | 5 | 3,238 | - | - |
Taiwan | Asia | 6 | 4,98 | 2 | 2,6 |
Ukraine | Europe | 15 | 13,107 | 2 | 1,9 |
United Kingdom | Europe | 19 | 10,137 | - | - |
USA | North America | 104 | 100,747 | 1 | 1,165 |
Total | 442 | 374,958 | 65 | 62,862 |
Sem comentários:
Enviar um comentário