Não há sombra de dúvidas que o panorama energético mundial está em mudança, e perto de um ponto de inflexão. O xadrez no qual se jogava o jogo do mundo da energia está a mudar, e com ele está a mudar o equilíbrio de forças e a forma como a economia mundial pode evoluir. Quando muitas das certezas eram tidas como absolutas, e quando o futuro da energia mundial era evidente, eis que a surpresa vem com grandes mudanças que estão a ocorrer, sem que ninguém fale nas mesmas:
- Há menos de 3 anos a aposta na energia nuclear, os fortes investimentos no sector e as perspectivas futuras respectivas indiciavam o renascimento do sector em termos globais. Eis que surge o acidente nuclear em Fukushima, Japão, e tudo é posto em causa e, de uma aposta estratégica, o sector passa para um estado de dúvida eminente e, na sequência, muitas nações abandonaram os seus programas de produção de energia nuclear, outros definiram planos progressivos de descontinuação, sendo poucas as que mantiveram a aposta;
- Há 5 anos atrás os EUA sofriam de uma crise ao nível da exploração de petróleo, tendo atingido o pico, e tornando-se cada vez mais dependente em termos energéticos. Desde essa data, e devido aos avanços ao nível da fracturação hidráulica, e da produção a partir do xisto betuminoso, os EUA aumentaram o "output" em cerca de 56% e reduziram as importações em 40%;
- Há 4 anos atrás os custos dos painéis solares eram exorbitantes. No entanto, um rápido aumento de capacidade produtiva por parte da China levou à criação de excedentes, que fez com que os custos reduzissem mais de 60%;
- Há cerca de meia década os EUA encabeçavam a lista dos maiores importadores de GPL em todo o mundo, gastando mais de 100 Milhões de dólares por ano, só para compensar o défice em termos de produção doméstica. Agora, e graças ao desenvolvimento na exploração de gás de xisto e de xisto betuminoso, fruto de um investimento estratégico e sustentado, os EUA estão-se a tornar exportadores de gás de xisto para a Ásia e para a Europa;
- Há 2 anos atrás a Alemanha movia-se a todo o gás para se tornar um produtor de topo de energias renováveis, investindo centenas de milhares de Milhões de euros, e criando uma Agenda para a Energia Renovável como principal fonte de energia do país. Actualmente, essa mesma Agenda foi posta em causa devido aos elevados custos e à perda de competitividade, no que concerne aos custos energéticos, em termos internacionais para nações como os EUA;
- A produção de energia eléctrica através da queima de carvão foi dada como extinta, fizeram-lhe o funeral, mas, no entanto, as vantagens em termos económicos para países como a China, que apostou forte neste tipo de produção, resultou num reduzir de custos energéticos, que contribuiu para que mais de 572 Milhões de Chineses pobres aumentassem os seus rendimentos, e evoluíssem com a evolução industrial e económica do país; possibilitou aos mesmo ter acesso a melhores cuidados de saúde e alimentação, que compensaram os efeitos da poluição decorrente das emissões das centrais de produção a carvão, para a sua saúde, que de outra forma não seria possível;
A rapidez destas mudanças constitui um desafio para a indústria, para os governos e para os consumidores que dependem da energia, devido aos elevados custos de investimento e à natureza de longo prazo dos mesmos. Entre 10 a 15 anos podem passar desde que é descoberto um poço de petróleo, até ao momento em que começa a exploração efectiva. Uma central de produção de energia pode levar 5 anos a construir, e pode operar cerca de 60 anos ou mais. E, no entanto, durante este período de tempo muita coisa muda...
Por estas e por outras é que é importante estar atento às tendências, à evolução do xadrez energético, à disponibilidade dos recursos energéticos, às tecnologias disponíveis, às questões ambientais inerentes, uma vez que os investimentos energéticos avultados de hoje, que não tenham suporte em termos futuros, podem levar a desperdícios de capital, que poderia ser útil para desbloquear outros tipos de investimentos mais acessíveis, mais eficientes e mais abrangentes.
Porque a energia é importante para o desenvolvimento económico, para a sociedade, para a coesão e para criação de riqueza, é importante atentar nas tendências em curso, ao mesmo tempo que se balanceiam os impactos ambientais, das opções tomadas, com os impactos económicos.