"A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da
terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais, respeitosamente.
Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem", dizia Monteiro Lobato, na sua obra de 1946 "Miscelânia".
É um facto que a Natureza é todo o sistema que nos sustenta, que se constituí como o nosso garante, e acima de tudo é a toda a envolvente que nos permite obter a correspondência das nossas necessidades, dos nossos objectivos e até das nossas extravagâncias.
No entanto não pensamos nisso, e regra geral os nossos comportamentos revelam exatamente o inverso, que desconsideramos a nossa maior fonte de prosperidade e sustentabilidade.
A cada dia que passa assistimos a comportamentos críticos aos vários níveis da sociedade e economia que podem e estão a pôr em causa a sustentabilidade da Natureza, pelo menos como a conhecemos, o que por si só interfere com a sustentabilidade das nossas terras, dos nossos países e do nosso Mundo.
Um dos comportamentos que mais põe em causa a sustentabilidade do planeta, e arrasta a Natureza para um ponto de não retorno, é o nosso consumo exacerbado, a partir do qual exigimos e extraímos do planeta e da Natureza mais recursos do que aqueles que são renovados. Ou seja, estamos a consumir não só os rendimentos produto gerado em termos gerais, mas já estamos a dar conta do capital, a dizimar a estrutura.
Atualmente a maior guerra que o Homem está a travar é contra a Natureza, porque é uma guerra silenciosa, devastadora, pondo em causa o sustento das próximas gerações, podendo gerar crises de grau consideravelmente superior a uma crise económico-financeira-social como a que vivemos atualmente, e até mesmo maior que a que foi vivida em 1929, precedendo a 2ª Guerra Mundial, a chamada Grande Depressão.
Urge por isso sim fazer algo, e aí cada um de nós pode dar um grande contributo, através de pequenos esforços, pequenas rotinas de comportamentos e de consumo. É certo que é uma gota no meio do Oceano, o esforço de cada um em prol da sustentabilidade da Natureza, mas sem essa gota, é certo, o Oceano será menor, e tudo irá por água abaixo.
Já diz um dos principais provérbios indígenas:
"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto
e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer
dinheiro."
O Ambiente é cada vez mais um tema de primeira linha ao nível da Estratégia de Governança Global, sendo por isso primordial debater toda a problemática adjacente e apontar soluções com vista a um futuro melhor. Este espaço visa esse mesmo âmbito, apontando factos e assinalando soluções.
domingo, 20 de novembro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
A crise e os 16 mil Milhões do Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico
O Governo do PS, em 2007, apresentou um plano que
preconizava a construção de 10 novas barragens com uma potência instalada de
1100MW e uma produção média de 1,6TWh/ ano, com o objectivo de atingir em 2020
uma capacidade de produção hidroeléctrica na ordem de 7000MW, com um objectivo
de reduzir a nossa dependência energética, aumentar a quantidade de energia de
fontes renováveis, e com isso combater as alterações climáticas.
Das
dez barragens, seis estão indicadas para a bacia do Douro. Dessas seis, cinco
estão previstas para a sub-bacia do Tâmega (a outra é a famosa barragem de
Foz-Tua, que irá submergir a linha do Tua). Quatro das cinco barragens da
sub-bacia do Tâmega serão construídas no interior de um círculo com um raio de
uma dezena de quilómetros (Vidago e Daivões, no Tâmega; Gouvães, no afluente
Louredo; Padroselos, no afluente Beça). A quinta barragem, Fridão, situa-se a
12 km a montante de Amarante. A bacia do Douro, a grande sacrificada, é uma
bacia com o rio principal artificializado e com quase todos os restantes
altamente intervencionados.
Ao todo estamos a falar de um pacote financeiro de 16 mil
Milhões de euros, dinheiro extremamente necessário em tempos de crise, que será
inconsequente, uma vez que segundo as projecções actuais para o output de
energia por barragem, daquelas que já estão em curso, tais como as que serão
construídas, será muito menor que o previsto. Por outras palavras, vamos
investir, ou gastar, 16 mil Milhões de euros e não vamos criar um grande
impacto na nossa produção energética, uma vez que o valor de produção
expectável, que em termos reais será menor, e dependerá muito dos caudais, será
menor que o previsto, sendo algo na casa dos 0,2% do nosso consumo anual de
energia eléctrica, ou até abaixo. 16 Mil Milhões de euros em barragens apenas
para produzir 0,2% da energia consumida no país anualmente não são um
investimento, mas sim um desperdício de dinheiro, que poderia ser aplicado em
outros projectos de produção energética tais como a valorização energética de
resíduos, energia eólica ou redes de nova geração, ou até mesmo no sector
produtivo, com o objectivo de estimular a economia.
É por conta destes erros que no prazo de 5 anos seremos o
país com a electricidade mais cara do Mundo. Sim, porque estes investimentos
têm que ser pagos, e esse montante será imputado à factura de electricidade já
pesada das famílias e empresas portuguesas.
Sendo assim, e na minha opinião, o Plano Nacional de
Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tem grandes falhas que
passo a citar:
1.
O PNBEPH adopta uma abordagem oposta a uma política energética moderna e
eficaz, desprezando o elevado potencial de uso eficiente da energia, em favor
de soluções de electroprodução de baixa rentabilidade económica e elevado
impacte ambiental;
2. O PNBEPH adopta uma abordagem oposta ao planeamento dos recursos hídricos por bacia, desprezando impactes cumulativos importantes, designadamente em matéria de riscos para as populações, biodiversidade e caudais sólidos;
3. O PNBEPH contribui muito pouco para o seu suposto principal objectivo, o combate às alterações climáticas, impedindo na realidade soluções alternativas mais eficazes;
4. Ao contrário do que é afirmado no PNBEPH, tudo indica que os impactes sócio-económicos locais serão mais negativos do que positivos;
5. A viabilidade da maioria das barragens preconizadas no PNBEPH é mais que duvidosa, permitindo antever mais um conjunto de sumidouros de dinheiros públicos;
6. O PNBEPH não cumpre nem a lei nem a boa prática em matéria de avaliação ambiental estratégica.
2. O PNBEPH adopta uma abordagem oposta ao planeamento dos recursos hídricos por bacia, desprezando impactes cumulativos importantes, designadamente em matéria de riscos para as populações, biodiversidade e caudais sólidos;
3. O PNBEPH contribui muito pouco para o seu suposto principal objectivo, o combate às alterações climáticas, impedindo na realidade soluções alternativas mais eficazes;
4. Ao contrário do que é afirmado no PNBEPH, tudo indica que os impactes sócio-económicos locais serão mais negativos do que positivos;
5. A viabilidade da maioria das barragens preconizadas no PNBEPH é mais que duvidosa, permitindo antever mais um conjunto de sumidouros de dinheiros públicos;
6. O PNBEPH não cumpre nem a lei nem a boa prática em matéria de avaliação ambiental estratégica.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Dicas para poupar energia - luz e gás - minimizando o impacto da subida do IVA
Desde sábado que a grande maioria dos portugueses estão a pagar 23% de IVA no gás e electricidade – contra os 6% de até agora.
Ficam aqui algumas dicas para poupar energia:
1. Troque as lâmpadas incandescentes. Substitua as lâmpadas incandescentes pelas de halogéneo. Com uma utilização média de cinco horas diárias, recupera o investimento em menos de seis meses.
2. Desligue o standby. Palavras para quê? É um dos conselhos mais dados, nos últimos anos, no que toca à poupança energética: desligue completamente as televisões, computadores, DVD, carregadores de telemóveis, gadgets ou qualquer outro aparelho: o standby – a luzinha vermelha – é responsável por 5% da electricidade consumida numa habitação.
3. Divida o consumo pelo tempo. Com a tarifa bi-horária paga quase metade do preço normal se utilizar os electrodomésticos nas horas do vazio – normalmente das 22h às 8h. Segundo a Quercus, esta tarifa pode levar à poupança de 67 euros por ano, para uma família com um perfil energético normal.
4. Electrodomésticos classe A. Esta dica não é de curto prazo, mas fica o conselho: opte por electrodomésticos de classe energética A, A+ ou A++. As poupanças são imediatas.
5. Economize o seu frigorífico. Coloque o frigorífico num local fresco e ventilado, afastado de fontes de calor, e descongele antes de a camada de gelo atingir os 3 milímetros de espessura. Com este simples gesto pode poupar até 30% no consumo.
6. Loiça suja até encher a máquina. Este conselho também é dos mais básicos: procure utilizar a sua máquina de lavar loiça completamente cheia. Se estiver a meio, utilize programas curtos ou económicos.
7. Sonda de água para lavar roupa. As máquinas de lavar utilizam 80 a 85% da sua energia para aquecer a água. Há máquinas biotérmicas, com duas entradas independentes – uma para água fria outra quente – que utilizam o sistema de produção de águas quentes de casa, permitindo poupar 25%.
8. Centrifugar antes de secar. Apesar de Portugal ser um País de sol, há muitas habitações com máquinas de secar – que dão jeito para Invernos chuvosos. Na verdade, estas máquinas são dos maiores consumidores de energia, pelo deve restringir a sua utilização. Caso não seja possível, deve centrifugar a roupa antes de utilizar esta máquina, para poupar energia.
9. Porta do forno bem fechada. Cada vez que abrimos a porta do forno, desperdiçamos 20% de energia. Por outro lado, também nestes casos deve procurar modelos de classe A.
10. Placas de indução mais rápidas. As placas de indução aquecem os alimentos ao gerarem campos magnéticos – e são mais rápidas e eficientes que as eléctricas.
11. Microondas poupa energia. Ao utilizar um microondas em vez de um forno tradicional reduz o consumo de energia entre 60 a 70%.
12. Produzir calor consome mais. Os pequenos electrodomésticos que realizam acções mecânicas – como bater ou cortar – têm, regra geral, potências baixas. Mas o ferro de engomar, torradeiras e secadores, que produzem calor, têm potencias maiores e consomem mais energia.
13. Ecrãs planos mais eficientes. O ecrã do computador é o elemento informático que consome mais energia. Os planos TFT consomem menos do que os convencionais e os equipamentos informáticos com a etiqueta Energy Star passam a modo de baixo consumo, após algum tempo de inutilização. Ah, e a protecção que poupa mais energia é a totalmente negra. Finalmente, os ecrãs de LCD poupam cerca de 37% de energia em funcionamento e cerca de 40% em modo de espera.
14. Aceda ao www.topten.pt. Este site orienta o consumidor na escolha de electrodomésticos, lâmpadas e até automóveis. O critério e elo comum é a eficiência energética.
15. Utilize menos água no banho. Pois, esta dica também é antiga. Se deixar correr a água menos dez minutos, pode reduzir em 6% a factura do gás natural, o que equivale a 17 euros por ano.
16. Vidros duplos e caixilharia em PVC. Se puder, substitua as janelas e caixilharias por vidros duplos e caixilharias em PVC, que permite menos transferência de calor entre a sua casa e o exterior, no Inverno.
17. Utilize o Sol como mais lhe convier. As casas com grande exposição solar podem poupar muita energia com persianas, redução de aquecimento, pintar as paredes de cores claras ou diminuição de luzes acesas em casa.
18. Temperatura amena todo o ano. Ora aqui está um excelente conselho: defina o set-point do seu sistema de arrefecimento / aquecimento para 21 ou 22ºC, no Verão, e 19ºC, no Inverno. Estas são as temperaturas em que a maior parte da população se sente confortável. Mais 1ºC implica mais 10% de consumo de energia. Um aumento colossal.
19. Escolha o sistema mais eficiente. Se puder, instale painéis solares térmicos, que lhe fornecem água quente sanitária. Assim, poupará mais de 35% na sua factura do gás e electricidade.
20. Seja ecológico: recicle o lixo. A última dica não fará com que poupe dinheiro, pelo menos a curto prazo e directamente, mas irá ter uma relevância brutal para o seu futuro: escolha produtos que não criem resíduos ou que sejam recicláveis. Opte por embalagens familiares, recicle o lixo doméstico e o óleo.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Ataque da crise: Preço dos cereais aumentou 76% num ano
O preço dos cereais disparou 76 por cento no último ano e deve continuar a subir, afectando bens alimentares básicos como o pão e a massa. E nesse campo Portugal está altamente dependente, uma vez que importa 75% dos cereais que são consumidos anualmente no nosso país.
Em termos económicos, esta questão é extremamente preocupante para o nosso país.
Este ano, a produção de cereais em Portugal vai atingir mais um mínimo histórico, ficando abaixo das 180 mil toneladas, segundo as Previsões Agrícolas divulgadas em meados de Agosto pelo INE, o que agrava ainda mais a situação.
Entre Junho de 2010 e Junho de 2011, o índice de preços da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) registou um aumento de 76 por cento, deixando Portugal ainda mais fragilizado.
Muitas pessoas e instituições não têm noção que este é um sector, no qual temos enormes necessidades, quer a nível da alimentação humana (pão e massas), quer a nível das rações para alimentar os animais que produzem a carne que consumimos.
No entanto, a solução para ultrapassar este problema pode não passar, como muitos pensam, pelo aumento da área cultivada, mas antes pela mudança da tecnologia utilizada.
Existe uma enorme expectativa dos produtores em relação ao Alqueva e às zonas onde há barragens.
Se os cereais, que tradicionalmente eram cultivados em regime de sequeiro, passarem a ser de regadio, significa que a produção pode aumentar, com uma área inferior.
Mas falta dinheiro para investir em processos que facilitem o aumento de produtividade. Há que fazer investimentos, comprar sistemas de rega, dar formação aos empresários agrícolas. É preciso dinheiro, tempo e vontade e a conjuntura actual não é muto favorável até porque a banca não está muito disponível para emprestar aos empresários que queiram investir.
Em suma, só investindo no aumento da produtividade agrícola (tonelada por hectare) podemos obter melhores resultados em termos do produto das colheitas, e com isso dar um forte impulso para a redução do nosso défice agro-alimentar, de cerca de 4 mil milhões de euros. Vale a pena tentar!
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Uma questão que vale cerca de 4.000 Milhões de Euros!
Vivemos actualmente tempos de incerteza, nos quais somos confrontados com enormes desafios, que se tornaram constantes e transversais.
É sabido que nos próximos anos teremos que seguir à risca um programa de redução do défice e divida para níveis sustentáveis, de estabilização financeira e relançamento da economia nacional, porém trata-se de um programa de sacrifícios, cortes, reduções, aumentos na carga fiscal e desafectações das ajudas públicas.
No entanto convém não esquecer que alguns desses cortes e reduções referem-se às comparticipações, na parte que diz respeito ao Estado, nos programas de financiamento comunitários.
Sendo assim convém que o MAMAOT, Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, possa ser eficiente e eficaz na gestão efectiva do PRODER, fazendo os possíveis para que possa aumentar a produção nacional agrícola e florestal exportável, assim como reduzir a dependência externa em relação a determinados produtos.
Todavia temo seriamente que os cortes e reduções, impostos pelo programa da “troika”, possam comprometer a execução do PRODER, comprometendo as verbas comunitárias disponíveis, uma vez que a contrapartida estatal poderá ser objecto de redução significativa.
Vai haver um aumento da carga fiscal, sobretudo no que concerne à reestruturação dos escalões do IVA, aumentando o custo de determinados factores de produção, a par com o facto de os preços da energia estarem cada vez mais elevados, o que por si só poderá aumentar significativamente a dificuldade dos Agricultores Portugueses em produzir com rentabilidade, levando a uma redução da produção e consecutivamente a uma redução do valor das exportações e a um aumento do valor das importações, aumentando o já elevado défice agro-alimentar português.
Ao mesmo tempo, a contínua redução do poder de compra dos Portugueses, também vem prejudicar a Produção Nacional com a falta de escoamento e mais baixas dos preços à produção.
Fala-se agora muito da "Produção Agro-Alimentar Nacional" e pelo menos falar não custa. Porém, os principais governantes, enquanto falam na necessidade estratégica de aumentar a produção nacional, estão já a preparar o completo desligamento das ajudas públicas à produção, por exemplo ao Arroz e aos Frutos Secos.
O simples desligamento das ajudas públicas à produção agrícola é um forte factor para a redução da “Produção Agro-Alimentar Nacional”.
Adivinhem lá, então, qual o nosso défice agro-alimentar e onde ele pode parar se nada for feito? Esta é a questão que vale cerca de 4.000 Milhões de Euros.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Pense bem da próxima vez que comprar água engarrafada
Somos constituídos, aproximadamente, por 60% de água. Precisamos dela para viver. É uma necessidade, tão importante como o ar que respiramos.
Então como é que deixámos que se transformasse numa mercadoria, num negócio de milhões? A água engarrafada é dos negócios mais lucrativos e dos produtos que compramos a um preço exorbitantemente mais caro do que o seu custo de produção. É mais essencial do que o combustível que colocamos nos nossos carros e, numa estação de serviço, consegue ser mais cara do que o mesmo. Mas quando aumentam um e outro, é contra os aumentos de combustíveis que nos manifestamos.
É-nos vendida a ideia de que estamos a ter acesso a água proveniente de uma fonte pura, segura, mais saudável. Quando a água que nos surge na torneira das nossas casas é submetida a controlos de qualidade que lhe conferem essa mesma segurança. Nem sempre assim o foi, e não em todo o país, mas não é onde temos a pior água canalizada em Portugal que se bebe mais água engarrafada.
As empresas de água engarrafada estão sempre à procura de nos dar o que queremos e o que achamos que queremos. Se por acaso pensamos em saciar a nossa sede com meia dúzia de golos, então as garrafas de 20 cl surgem para a nossa comodidade. Se achamos que precisamos de um pouco mais, então aí temos as de 50 cl. Simples, rápido, disponível e descartável. Água em pequenas doses e ao nosso alcance, em qualquer ponto do país e centenas de vezes mais cara do que a água da torneira.
Um litro de água engarrafada pode custar facilmente €1. Mil litros de água canalizada custarão cerca de €0,72 e não é no escalão mais barato.
E então porque o fazemos? Porque é que durante anos o consumo de água engarrafada foi subindo até que, em 2008, três quartos da população portuguesa recorria a esta forma de obter água? Porque a água canalizada do nosso país não tem qualidade? Bom, se em tempos isso pode ter sido verdade, nos dias de hoje e na quase totalidade do território, a água da torneira disponível para as populações tem boa qualidade. Porque o sabor não é tão bom? Quanto a isso, qualquer filtro portátil ou acoplado à torneira torna a água com um sabor igual à maioria das águas engarrafadas, ou mesmo melhor.
Creio que embarcámos neste frenesim de consumo de água engarrafada devido ao marketing que foi feito em torno deste produto, em que modelos, desportistas e atores nos diziam o quão pura e natural aquela água era, dando-nos a noção de ser mais saudável. Isso, associado ao mito urbano da água canalizada municipal ser de pior qualidade, levou a esse incremento exponencial, ao ponto de existirem pessoas que a utilizam inclusive para cozinhar.
Esquecemo-nos ainda, ou simplesmente desconhecemos, que o recipiente do qual bebemos a nossa água engarrafada está longe de ser o adequado. Já foi comprovado que o plástico, do qual são feitas as garrafas de onde bebemos a nossa água engarrafada, liberta para a mesma componentes que a longo prazo podem ter efeitos nocivos sobre a nossa saúde, como por exemplo e em alguns casos o Bisfenol A. Componente perigoso o suficiente para que a União Europeia o tenha proibido na produção de biberões vendidos em espaço comunitário. Libertação essa que é acelerada quando o plástico é exposto ao calor. Mesmo que não exponha a sua garrafa de água ao sol, será que o distribuidor teve o mesmo cuidado antes da garrafa ter ido parar à sua mão?
Para além de perigoso para a saúde, a produção deste plástico todo, responsável pela maior parte dos resíduos urbanos plásticos, assim como a sua distribuição, aumentam em muito o consumo de CO2 no planeta.
O seu sabor é facilmente obtido pela filtração da água de torneira; a sua portabilidade pode ser colmatada com o uso de uma garrafa de metal; o seu consumo não é mais seguro, pelo contrário; o seu custo é centenas de vezes maior do que a água de torneira; e a sua produção e distribuição resulta num grande impacto para o planeta.
Pensando em tudo isto, quer mesmo comprar a próxima garrafa?
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Porquê apostar na floresta para reduzir o desemprego e o abandono do interior?
O sector florestal foi reconhecido por este e por outros governos como um sector estratégico, com enorme relevância na actividade económica nacional.
Todavia, os dados do último Inventário Florestal Nacional e os registos das áreas ardidas das últimas décadas não deixam razão para dúvidas sobre a realidade dura do sector.
É de destacar, concretamente:
- Decréscimo acentuado da área florestal do Norte e Centro do País, a rondar valores de 10 e 3% respectivamente;
- Redução drástica de Pinheiro bravo, cerca de 300 mil ha só na última década;
- A indústria do papel a reclamar mais 200 mil ha de eucalipto;
- Desaparecimento de milhares de microempresas de serração;
- Continuada desvalorização da madeira de pinho e eucalipto,
- Proliferação de terríveis pragas no coberto florestal nacional,
- Incêndios que dizimam anualmente dezenas e dezenas de milhares de ha de floresta e outros recursos agro-florestais;
Constata-se que o mundo rural continua a perder vitalidade e a desertificar-se paulatinamente à espera da sua "morte" lenta e irreversível, não obstante os seus principais agentes reclamarem há muito dos sucessivos Governantes e da União Europeia que estes olharem para o espaço rural como alfobre, como reserva de mão-de-obra, como espaço produtivo agro-florestal de inegável riqueza alimentar, paisagística, ambiental e cultural.
Porém, existem inúmeros terrenos baldios, abandonados ou semi-abandonados, ultrapassando um milhão de hectares.
No plano nacional constata-se a crescente incapacidade de resposta dos serviços da Administração Pública face à multiplicidade de problemas existentes na área dos baldios. Incapacidade provocada pelo emagrecimento dos recursos humanos, nas sucessivas mudanças dos responsáveis e das inúmeras Leis Orgânicas que introduzem hiatos e instabilidade funcional para não falar já, nas erradas receitas das políticas centralizadoras incapazes de fazer um aproveitamento integrado dos recursos existentes, geradores de produção, economia, emprego e sustentabilidade.
Imagine-se se todos estes hectares de terreno disponíveis fossem aproveitados para fins florestais e agrícolas, o emprego que se geraria, o impacto que teria na balança comercial Portuguesa, e acima de tudo o desenvolvimento que se proporcionaria ao mundo rural.
Contudo é necessário encontrar uma estratégia, envolvendo todas as partes, que possa ser determinante para reanimar um dos sectores mais importantes do nosso país, a Floresta, o nosso ouro verde.
Neste aspecto as várias entidades estatais intervenientes devem ser unas e céleres na sua forma de trabalhar e deixarem a forma individualista e desestruturada em que avaliam as situações. As entidades estatais têm de deixar de agir como pequenos Estados dentro do grande Estado onde cada vez mais se vê uma busca ávida de auto-financiamento e onde a qualidade dos serviços, as pessoas e o serviço público ficam para segundo plano. A floresta tem de ser vista como prioridade Nacional, fonte de receita e emprego e como principal agente de combate à desertificação.
É igualmente necessário que o PRODER- florestal despegue do seu estado letárgico e comece a responder positivamente às inúmeras solicitações dos produtores florestais privados e Entidades Gestoras dos Baldios para a satisfação das várias acções e medidas nele contempladas.
Sendo assim algumas das medidas a reclamar, que poderiam gerar uma enorme dinâmica económica seriam, entre outras, as seguintes:
1º - Um Plano de emergência nacional que responda às necessidades fitossanitárias da floresta autóctone, designadamente - Nemátodo do Pinheiro, declínio do sobreiro e cancro do castanheiro;
2º- Que o Plano Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios passe a enquadrar a gestão florestal como condição vital na prevenção, que possa existir a integração das comunidades locais autóctones nos sistemas integrados de apoio e combate a incêndios e a entrada em funções de novas equipas de sapadores florestais, reduzindo drasticamente a área anual ardida;
3º- Colocar em termos de discussão, como prioridade regional à AFN e ao Governo uma listagem de Conselhos Directivos de Baldios que desejam alterar o actual modelo de co-gestão dos baldios e passar à modalidade de gestão autónoma;
4º- Desburocratização do PRODER (Programa do Desenvolvimento Rural), no que respeita à redução do prazo de apreciação técnica por parte das várias Entidades que emitem pareceres vinculativos. Condição, esta, essencial para a recuperação do excessivo atraso na implementação dos objectivos do Programa na componente florestal;
5º - Que a actual equipa Ministerial que aglutina áreas do Desenvolvimento Rural, Florestas, Ambiente e Ordenamento, não tem desculpas se não aproveitar as multiplicidades das valias públicas e naturais do espaço rural, numa perspectiva de revitalização destes territórios comunitários.
Subscrever:
Mensagens (Atom)