quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ataque da crise: Preço dos cereais aumentou 76% num ano

O preço dos cereais disparou 76 por cento no último ano e deve continuar a subir, afectando bens alimentares básicos como o pão e a massa. E nesse campo Portugal está altamente dependente, uma vez que importa 75% dos cereais que são consumidos anualmente no nosso país.
Em termos económicos, esta questão é extremamente preocupante para o nosso país.
Este ano, a produção de cereais em Portugal vai atingir mais um mínimo histórico, ficando abaixo das 180 mil toneladas, segundo as Previsões Agrícolas divulgadas em meados de Agosto pelo INE, o que agrava ainda mais a situação.
Entre Junho de 2010 e Junho de 2011, o índice de preços da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) registou um aumento de 76 por cento, deixando Portugal ainda mais fragilizado.
Muitas pessoas e instituições não têm noção que este é um sector, no qual temos enormes necessidades, quer a nível da alimentação humana (pão e massas), quer a nível das rações para alimentar os animais que produzem a carne que consumimos.
No entanto, a solução para ultrapassar este problema pode não passar, como muitos pensam, pelo aumento da área cultivada, mas antes pela mudança da tecnologia utilizada.
Existe uma enorme expectativa dos produtores em relação ao Alqueva e às zonas onde há barragens.
Se os cereais, que tradicionalmente eram cultivados em regime de sequeiro, passarem a ser de regadio, significa que a produção pode aumentar, com uma área inferior.
Mas falta dinheiro para investir em processos que facilitem o aumento de produtividade. Há que fazer investimentos, comprar sistemas de rega, dar formação aos empresários agrícolas. É preciso dinheiro, tempo e vontade e a conjuntura actual não é muto favorável até porque a banca não está muito disponível para emprestar aos empresários que queiram investir.
Em suma, só investindo no aumento da produtividade agrícola (tonelada por hectare) podemos obter melhores resultados em termos do produto das colheitas, e com isso dar um forte impulso para a redução do nosso défice agro-alimentar, de cerca de 4 mil milhões de euros. Vale a pena tentar!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Uma questão que vale cerca de 4.000 Milhões de Euros!

Vivemos actualmente tempos de incerteza, nos quais somos confrontados com enormes desafios, que se tornaram constantes e transversais.
É sabido que nos próximos anos teremos que seguir à risca um programa de redução do défice e divida para níveis sustentáveis, de estabilização financeira e relançamento da economia nacional, porém trata-se de um programa de sacrifícios, cortes, reduções, aumentos na carga fiscal e desafectações das ajudas públicas.
No entanto convém não esquecer que alguns desses cortes e reduções referem-se às comparticipações, na parte que diz respeito ao Estado, nos programas de financiamento comunitários.
Sendo assim convém que o MAMAOT, Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, possa ser eficiente e eficaz na gestão efectiva do PRODER, fazendo os possíveis para que possa aumentar a produção nacional agrícola e florestal exportável, assim como reduzir a dependência externa em relação a determinados produtos.
Todavia temo seriamente que os cortes e reduções, impostos pelo programa da “troika”, possam comprometer a execução do PRODER, comprometendo as verbas comunitárias disponíveis, uma vez que a contrapartida estatal poderá ser objecto de redução significativa.
Vai haver um aumento da carga fiscal, sobretudo no que concerne à reestruturação dos escalões do IVA, aumentando o custo de determinados factores de produção, a par com o facto de os preços da energia estarem cada vez mais elevados, o que por si só poderá aumentar significativamente a dificuldade dos Agricultores Portugueses em produzir com rentabilidade, levando a uma redução da produção e consecutivamente a uma redução do valor das exportações e a um aumento do valor das importações, aumentando o já elevado défice agro-alimentar português.
Ao mesmo tempo, a contínua redução do poder de compra dos Portugueses, também vem prejudicar a Produção Nacional com a falta de escoamento e mais baixas dos preços à produção.
Fala-se agora muito da "Produção Agro-Alimentar Nacional" e pelo menos falar não custa. Porém, os principais governantes, enquanto falam na necessidade estratégica de aumentar a produção nacional, estão já a preparar o completo desligamento das ajudas públicas à produção, por exemplo ao Arroz e aos Frutos Secos.
O simples desligamento das ajudas públicas à produção agrícola é um forte factor para a redução da “Produção Agro-Alimentar Nacional”.
Adivinhem lá, então, qual o nosso défice agro-alimentar e onde ele pode parar se nada for feito? Esta é a questão que vale cerca de 4.000 Milhões de Euros.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Pense bem da próxima vez que comprar água engarrafada

Somos constituídos, aproximadamente, por 60% de água.  Precisamos dela para viver. É uma necessidade, tão importante como o ar que respiramos.
Então como é que deixámos que se transformasse numa mercadoria, num negócio de milhões? A água engarrafada é dos negócios mais lucrativos e dos produtos que compramos a um preço exorbitantemente mais caro do que o seu custo de produção. É mais essencial do que o combustível que colocamos nos nossos carros e, numa estação de serviço, consegue ser mais cara do que o mesmo. Mas quando aumentam um e outro, é contra os aumentos de combustíveis que nos manifestamos.
É-nos vendida a ideia de que estamos a ter acesso a água proveniente de uma fonte pura, segura, mais saudável. Quando a água que nos surge na torneira das nossas casas é submetida a controlos de qualidade que lhe conferem essa mesma segurança. Nem sempre assim o foi, e não em todo o país, mas não é onde temos a pior água canalizada em Portugal que se bebe mais água engarrafada.
As empresas de água engarrafada estão sempre à procura de nos dar o que queremos e o que achamos que queremos. Se por acaso pensamos em saciar a nossa sede com meia dúzia de golos, então as garrafas de 20 cl surgem para a nossa comodidade. Se achamos que precisamos de um pouco mais, então aí temos as de 50 cl. Simples, rápido, disponível e descartável. Água em pequenas doses e ao nosso alcance, em qualquer ponto do país e centenas de vezes mais cara do que a água da torneira.
Um litro de água engarrafada pode custar facilmente €1. Mil litros de água canalizada custarão cerca de €0,72 e não é no escalão mais barato.
E então porque o fazemos? Porque é que durante anos o consumo de água engarrafada foi subindo até que, em 2008, três quartos da população portuguesa recorria a esta forma de obter água? Porque a água canalizada do nosso país não tem qualidade? Bom, se em tempos isso pode ter sido verdade, nos dias de hoje e na quase totalidade do território, a água da torneira disponível para as populações tem boa qualidade. Porque o sabor não é tão bom? Quanto a isso, qualquer filtro portátil ou acoplado à torneira torna a água com um sabor igual à maioria das águas engarrafadas, ou mesmo melhor.
Creio que embarcámos neste frenesim de consumo de água engarrafada devido ao marketing que foi feito em torno deste produto, em que modelos, desportistas e atores nos diziam o quão pura e natural aquela água era, dando-nos a noção de ser mais saudável. Isso, associado ao mito urbano da água canalizada municipal ser de pior qualidade, levou a esse incremento exponencial, ao ponto de existirem pessoas que a utilizam inclusive para cozinhar.
Esquecemo-nos ainda, ou simplesmente desconhecemos, que o recipiente do qual bebemos a nossa água engarrafada está longe de ser o adequado. Já foi comprovado que o plástico, do qual são feitas as garrafas de onde bebemos a nossa água engarrafada, liberta para a mesma componentes que a longo prazo podem ter efeitos nocivos sobre a nossa saúde, como por exemplo e em alguns casos o Bisfenol A. Componente perigoso o suficiente para que a União Europeia o tenha proibido na produção de biberões vendidos em espaço comunitário. Libertação essa que é acelerada quando o plástico é exposto ao calor. Mesmo que não exponha a sua garrafa de água ao sol, será que o distribuidor teve o mesmo cuidado antes da garrafa ter ido parar à sua mão?
Para além de perigoso para a saúde, a produção deste plástico todo, responsável pela maior parte dos resíduos urbanos plásticos, assim como a sua distribuição, aumentam em muito o consumo de CO2 no planeta.
O seu sabor é facilmente obtido pela filtração da água de torneira; a sua portabilidade pode ser colmatada com o uso de uma garrafa de metal; o seu consumo não é mais seguro, pelo contrário; o seu custo é centenas de vezes maior do que a água de torneira; e a sua produção e distribuição resulta num grande impacto para o planeta.
Pensando em tudo isto, quer mesmo comprar a próxima garrafa?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Porquê apostar na floresta para reduzir o desemprego e o abandono do interior?

O sector florestal foi reconhecido por este e por outros governos como um sector estratégico, com enorme relevância na actividade económica nacional.
Todavia, os dados do último Inventário Florestal Nacional e os registos das áreas ardidas das últimas décadas não deixam razão para dúvidas sobre a realidade dura do sector.
É de destacar, concretamente:
- Decréscimo acentuado da área florestal do Norte e Centro do País, a rondar valores de 10 e 3% respectivamente;
- Redução drástica de Pinheiro bravo, cerca de 300 mil ha só na última década;
- A indústria do papel a reclamar mais 200 mil ha de eucalipto;
- Desaparecimento de milhares de microempresas de serração;
- Continuada desvalorização da madeira de pinho e eucalipto,
- Proliferação de terríveis pragas no coberto florestal nacional,
- Incêndios que dizimam anualmente dezenas e dezenas de milhares de ha de floresta e outros recursos agro-florestais;
Constata-se que o mundo rural continua a perder vitalidade e a desertificar-se paulatinamente à espera da sua "morte" lenta e irreversível, não obstante os seus principais agentes reclamarem há muito dos sucessivos Governantes e da União Europeia que estes olharem para o espaço rural como alfobre, como reserva de mão-de-obra, como espaço produtivo agro-florestal de inegável riqueza alimentar, paisagística, ambiental e cultural.
Porém, existem inúmeros terrenos baldios, abandonados ou semi-abandonados, ultrapassando um milhão de hectares.
No plano nacional constata-se a crescente incapacidade de resposta dos serviços da Administração Pública face à multiplicidade de problemas existentes na área dos baldios. Incapacidade provocada pelo emagrecimento dos recursos humanos, nas sucessivas mudanças dos responsáveis e das inúmeras Leis Orgânicas que introduzem hiatos e instabilidade funcional para não falar já, nas erradas receitas das políticas centralizadoras incapazes de fazer um aproveitamento integrado dos recursos existentes, geradores de produção, economia, emprego e sustentabilidade.
Imagine-se se todos estes hectares de terreno disponíveis fossem aproveitados para fins florestais e agrícolas, o emprego que se geraria, o impacto que teria na balança comercial Portuguesa, e acima de tudo o desenvolvimento que se proporcionaria ao mundo rural.
Contudo é necessário encontrar uma estratégia, envolvendo todas as partes, que possa ser determinante para reanimar um dos sectores mais importantes do nosso país, a Floresta, o nosso ouro verde.
Neste aspecto as várias entidades estatais intervenientes devem ser unas e céleres na sua forma de trabalhar e deixarem a forma individualista e desestruturada em que avaliam as situações. As entidades estatais têm de deixar de agir como pequenos Estados dentro do grande Estado onde cada vez mais se vê uma busca ávida de auto-financiamento e onde a qualidade dos serviços, as pessoas e o serviço público ficam para segundo plano. A floresta tem de ser vista como prioridade Nacional, fonte de receita e emprego e como principal agente de combate à desertificação.
É igualmente necessário que o PRODER- florestal despegue do seu estado letárgico e comece a responder positivamente às inúmeras solicitações dos produtores florestais privados e Entidades Gestoras dos Baldios para a satisfação das várias acções e medidas nele contempladas.
Sendo assim algumas das medidas a reclamar, que poderiam gerar uma enorme dinâmica económica seriam, entre outras, as seguintes:
1º - Um Plano de emergência nacional que responda às necessidades fitossanitárias da floresta autóctone, designadamente - Nemátodo do Pinheiro, declínio do sobreiro e cancro do castanheiro;
2º- Que o Plano Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios passe a enquadrar a gestão florestal como condição vital na prevenção, que possa existir a integração das comunidades locais autóctones nos sistemas integrados de apoio e combate a incêndios e a entrada em funções de novas equipas de sapadores florestais, reduzindo drasticamente a área anual ardida;
3º- Colocar em termos de discussão, como prioridade regional à AFN e ao Governo uma listagem de Conselhos Directivos de Baldios que desejam alterar o actual modelo de co-gestão dos baldios e passar à modalidade de gestão autónoma;
4º- Desburocratização do PRODER (Programa do Desenvolvimento Rural), no que respeita à redução do prazo de apreciação técnica por parte das várias Entidades que emitem pareceres vinculativos. Condição, esta, essencial para a recuperação do excessivo atraso na implementação dos objectivos do Programa na componente florestal;
5º - Que a actual equipa Ministerial que aglutina áreas do Desenvolvimento Rural, Florestas, Ambiente e Ordenamento, não tem desculpas se não aproveitar as multiplicidades das valias públicas e naturais do espaço rural, numa perspectiva de revitalização destes territórios comunitários.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Seca na Europa será pior do que uma potencial crise do petróleo

A seca dos meses de Abril e Maio afectou grande parte da agricultura por toda a Europa. A recuperação da seca pode ser, dizem os analistas, mais difícil do que seria de uma crise de petróleo. E são precisos mais do que uns aguaceiros para melhorar a situação. Se o aumento recente dos preços do petróleo poderá acrescentar um quarto de ponto percentual à inflacção na Zona Euro, avisam, a crise agrícola poderá aumentá-la em mais meio ponto percentual. 
A volatilidade dos preços dos alimentos foi um dos pontos em discussão na última reunião do G-20, em Paris, no mês passado. Os governos europeus debateram medidas colectivas para evitar o agravamento da situação económica da Europa, já de si ameaçada pela incerteza grega, conscientes de que os preços dos alimentos estão a cair em proporção com a confiança do consumidor. 
França - segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas e a maior potência agrícola da Europa - foi talvez o país mais atingido pela seca. Os criadores de gado e os agricultores debatem-se com sérios problemas de tesouraria, uma vez que enfrentam custos exorbitantes para alimentar as manadas e quebra de rendimentos, a par do aumento do custo da energia. Sensível ao problema, o governo francês reagiu, subsidiando o transporte para o gado através do operador ferroviário estatal. Os bancos estão a ajudar, dando alguma margem de manobra no pagamento de créditos e as companhias de seguros estão a adiar os pagamentos dos clientes até que a situação melhore. O Governo acabou, ainda, de injectar 800 milhões de euros em fundos para a economia agrícola, adiantando o pagamento único por exploração deste ano. 
Todavia, a acção a curto prazo por parte de governos individuais não é a solução e o sector precisa de uma visão de longo prazo e de uma frente unida europeia, capaz de lidar com a ameaça da concorrência da América Latina e da China, onde os baixos custos laborais permitem inundar os mercados com culturas baratas. Desde o pós-II Guerra Mundial que a Europa mantém, ainda, um erro na agricultura: culturas colocadas em locais inadequados ao clima. O exemplo típico é o milho para a alimentação de gado, que é, frequentemente, cultivado em regiões de precipitação insuficiente. Muitas vezes, os agricultores precisam de arranjar uma fonte para 90% da água de rega. 
Com a seca, este problema agravou-se. Bruxelas tem mencionado a necessidade de criar uma comissão para analisar o problema, mas, face aos desafios do mundo em desenvolvimento, pode ser tarde de mais. Então, o que deve ser feito? Para começar, temos de deixar de cultivar culturas desnecessárias. Governos de toda a Europa incentivam os agricultores a produzir culturas de grande volume e de baixo valor que acabam por ir para o lixo. É o legado altamente ineficiente de uma política agrícola ultrapassada. 
A Política Agrícola Comum (PAC) caracterizou-se principalmente pelos subsídios à produção agrícola, pagos por hectare para culturas específicas, com vista à sustentação de preços. Em 2003, a Comissão Europeia lançou uma reforma da PAC baseada na dissociação dos pagamentos directos, um acordo político que se espera que aumente a flexibilidade da tomada de decisão dos agricultores, deixando estes de estar obrigados a produzir determinada cultura para receber um subsídio específico. É o primeiro passo na direcção de uma oferta orientada para o consumidor e sensível aos preços. Mas a implementação desta política é lenta e longe de consistente em toda a Europa. 
Devemos também reconhecer a nossa incapacidade de competir com países como a Argentina, o Brasil ou a China na produção de culturas de baixo valor. Importar destes países o que a Europa precisa é uma abordagem muito mais eficiente, que permitiria aos agricultores europeus mudar para uma produção de menor volume, mas de altos rendimentos. 
O ministério francês da Agricultura estimava, em Dezembro passado, que 15% dos agricultores já começaram a mudar para culturas de maior valor. Mas é preciso incentivar esta tendência a espalhar-se. Se concentrarmos os nossos esforços no crescimento das culturas orgânicas de alta qualidade e de elevado valor (actualmente, 2% da produção em França, contra 8% na Alemanha e 10% na Suécia), e no desenvolvimento de biocombustíveis renováveis, os fundos que, até agora, foram pagos como incentivo para atingir quotas de culturas, poderiam ser re-investidos na transição. 
Em Portugal, segundo dados do Ministério da Agricultura, compilados pela Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (AGROBIO), em 2009, havia 1.651 produtores biológicos, responsáveis por 157.179 hectares de cultivo estavam ocupados por culturas biológicas, sendo a maioria pastagens e plantas forrageiras. Portugal registava 662 criadores de gado biológico, num total de 215.573 animais, na sua maioria ovinos, e, essencialmente, nas regiões da Beira Interior, Alentejo e Trás-os-Montes. E isto já em perda. 
O grande "boom" da agricultura biológica nacional deu-se em 2007, quando terminou o prazo do Plano Nacional para o Desenvolvimento da Agricultura Biológica. Lançado em 2004, tinha como objectivo conseguir aumentar o número de produtores de 1.174 para 4.700 e a área cultivada de 120 mil hectares para 260 mil hectares. Falhou, embora aumentasse em muito a área destinada à agricultura biológica: em 2007, havia apenas 1.949 produtores para 233.475 hectares de área cultivada. A necessidade de fontes renováveis de energia só vai aumentar nos próximos anos, por isso faz sentido a Europa dar aos seus agricultores a oportunidade de competir neste mercado. Porém, tal como discutido na reunião do G-20, a orientação do mercado em larga escala para a produção de biocombustíveis leva à volatilidade inaceitável dos preços dos alimentos e abre o caminho à especulação financeira, quer dos preços, quer das terras. 
Como podemos proteger o mercado de alimentos da desenfreada actividade de especulação? Os ministros da Agricultura do G-20 concluíram que um sistema de vigilância novo, o Sistema de Informação de Mercado Agrícola, poderia acabar com predadores financeiros e garantir maior transparência de preços. Mas a Europa deve lembrar-se que mecanismos semelhantes existem noutros mercados e raramente conseguem impedir a especulação. Apenas dão mais informações aos especuladores e deixam os produtores sem voz.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Desafios da PAC pós 2013 no que concerne ao uso eficiente da água para fins agrícolas
A procura de água em Portugal, ou seja, a água utilizada, está actualmente estimada em cerca de 7 500 000 000 m3/ano no conjunto dos sectores Agrícola, Industrial e Urbano.

Em termos de procura por sectores, e tendo por base o Plano Nacional da Água, a agricultura é claramente o maior utilizador de água em Portugal, com 87% do total, contra 8% do total no abastecimento urbano e 5% do total na indústria

Quanto aos custos efectivos da utilização da água, 1 880 000 000 €/ano (correspondentes a 1,65% do PIB nacional), o sector urbano é o mais relevante, com cerca de 46% do custo total associado, seguido da agricultura com 38% e da indústria com 26%.

Os gráficos seguintes mostram a procura nacional de água por sector em Volume e os respectivos custos de produção. (Fonte: PNA)


Todavia, a Agricultura como sector estratégico para o nosso país, sendo responsável pela produção da alimentação básica necessária, tem grau de legitimidade para ser o sector de maior consumo de água. No entanto ainda carece de eficiência na utilização do recurso natural mais importante, a água.
Tendo Portugal um défice agro-alimentar na ordem dos 3 000 000 000 €, é necessário produzir cada vez mais e melhor, com o objectivo de substituir importações de bens agrícolas, assim como aumentar o potencial exportador de alguns desses bens.
Cada vez mais há casos de eficiência na utilização de água para fins agrícolas, concretamente no processo de irrigação, no entanto isso só tem acontecido como reacção à necessidade de redução dos custos de produção, o que tem levado muitos agricultores a serem mais eficientes na gestão e uso da água, conseguindo os mesmos índices de produtividade, utilizando até 12% menos água.
No entanto ainda são poucos os casos, e torna-se imperioso implementar políticas que visem o aumento da produtividade agrícola a par com a eficiência na utilização da água.
Por isso mesmo, na próxima revisão da PAC, Política Agrícola Comum, pós 2013 torna-se necessário rever os mecanismos de apoio à produção eficiente, nomeadamente no que toca ao Regime do Pagamento Único, uma vez que este mesmo subsídio á produção é atribuído em função da dimensão das produções, e não em função da produtividade, das valências da região e das condições de produção, o que pode levar a que em grande parte dos casos se beneficiem explorações com grande intensidade no uso de água, uma vez que o tipo de produção pode não estar totalmente enquadrado com a tipologia climatérica e topológica da região.
A bonificação dos pagamentos a agricultores que consigam reduzir os seus inputs de produção, alcançando métodos mais eficientes de utilização e gestão da água, seria outra medida a contemplar e enquadrar no âmbito da atribuição de fundos.
Outra grande medida a implementar seria beneficiar e incentivar o investimento em processos de irrigação mais eficientes, fazendo variar a comparticipação do investimento em função do grau de eficiência do sistema de irrigação implementado.
Podem parecer escassas estas medidas, mas no entanto seriam as suficientes para dar o impulso e o incentivo para que a produção agrícola aumentasse utilizando menos água para isso, ou seja sendo cada vez mais eficiente, reduzindo o peso do sector no que toca ao consumo de água.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eficiência Energética e Sustentabilidade Ambiental como factor de competitividade das PME empresas

É do conhecimento de todos que o grande factor de progresso e desenvolvimento de Portugal, na próxima década, será o crescimento das exportações e o aumento da competitividade. Contudo, só é possível sermos competitivos se nos diferenciarmos através do tridente económico Custos – Qualidade - Serviço.
Neste sentido, abordarei a questão dos custos, porque a Qualidade e o Serviço são factores nos quais temos obtido um bom desempenho. No que aos custos concerne, algumas das maiores facturas das empresas dizem respeito à Electricidade, Gás e Água.
No entanto, ainda muito pouco tem sido feito no sentido de enveredar por caminhos de redução dos consumos energéticos e de água, pela via da eficiência energética e sustentabilidade ambiental.
As PME experienciam, neste momento, grandes desafios no que toca à redução de custos como factor de aumento da competitividade no mercado global, em que por vezes descuram qualquer tipo de investimento em factores de eficiência energética e sustentabilidade ambiental, muito mais se os Tempos de Recuperação do Investimento excederem os 6 anos.
Pela via do investimento em factores de eficiência energética, as empresas podem intervir ao nível da redução da factura de electricidade, assim como ao nível da redução da dependência de gás ou de outros combustíveis fósseis para aquecimento. Seja através da redução da intensidade da iluminação dos seus edifícios, seja através do ajuste dos factores de potência nos PT (postos de transformação), seja através do investimento na microgeração energética, através da instalação de plataformas de painéis fotovoltaícos ou até mesmo de pequenos aerogeradores, seja através da utilização de iluminação LED ou fluorescente, podemos obter reduções dos consumos eléctricos, em média, na ordem dos 34%, segundo estudos da Agência Internacional de Energia. Dependendo da ordem de grandeza do investimento da microgeração, ainda haveria a hipótese de vender energia à rede eléctrica. Quanto ao factor do aquecimento dos edifícios, a eficiência energética pode ser posta em prática através do investimento num bom isolamento térmico, reduzindo em cerca de 80% a necessidade do uso de aparelhos de ar condicionado; a utilização de caldeiras de aquecimento a gasóleo, que por sua vez são extremamente ineficientes, e altamente poluentes, por via da emissão de Gases de Efeito de Estufa, acarretam também elevados custos com combustíveis para aquecimento para as empresas, problema este que poderia ser resolvido com a reconversão dessas mesmas caldeiras em caldeiras de aquecimento a Biomassa. A vantagem seria, para além da redução das emissões de gases de efeitos de estufa, a aposta numa energia renovável, por via de uma matéria – prima inesgotável na Natureza, a lenha ou o refugo florestal, a preços baixos e com uma grande capacidade de geração de energia. Com isto reduzir-se-iam a metade os custos com o aquecimento dos edifícios.
No que concerne à sustentabilidade ambiental, uma solução viável e que muito tem sido debatida e aplicada em vários pontos do Mundo, principalmente naqueles onde a água é mais escassa, é o aproveitamento de águas pluviais e a reutilização de águas residuais tratadas. Ou seja, com este investimento reduzir-se-ia o consumo de água provinda da rede, para além do facto de se reduzir a taxa de rotação dos consumos de água em dois terços. Para obter este tipo resultados, a instalação de sistemas colectores de águas residuais e pluviais e de câmaras de tratamento e purificação dessas mesmas águas seria a solução mais viável, existindo já grandes exemplos de sucesso no que toca a estes sistemas, assim como várias empresas com grande Know-how neste tipo de projectos. Em média este tipo de investimento contribuiria para a redução dos custos com água na ordem dos 62%, segundo os dados de um último estudo da Universidade de Aveiro em conjunto com o LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Em suma, este tipo de investimentos em eficiência energética e sustentabilidade ambiental, de uma forma global, permitiriam às empresas uma redução significativa dos seus custos, sendo que os Tempos de Recuperação de Investimento rondam em média os 8 anos, acabando por compensar, tendo em conta os ganhos de competitividade por via da redução de custos, assim como os ganhos ambientais por via da redução do consumo de electricidade, consumo de energias renováveis e redução de emissões directas e indirectas de Gases de Efeito de Estufa (o que é útil no mercado de transacção de créditos de carbono, podendo gerar outros proveitos para a empresa).